DONALD
TRUMP, O DEFENSOR DA FÉ
Por
Charles Krauthammer
Artigo
publicado no Washington Post
O
que aconteceu com os evangélicos? Eles eram considerados a base da candidatura
de Ted Cruz. Ainda assim, Ted perdeu-os para Trump na Super Terça.
Cruz,
apesar de tudo, ainda fez um desempenho razoável, ganhando o Texas, Oklahoma e
Alaska. No Texas foi uma impressionante vantagem de 17 pontos percentuais. Entretanto,
não foi, para ele, uma grande noite, capaz de nocautear Marco Rubio e emergir
como o único contendor de Trump.
Cruz
fez o dever de casa para ganhar a simpatia dos evangélicos e arrasar no Sul,
unindo pastores e líderes locais. Contudo, foi derrotado por Trump nos outros
estados por humilhantes margens: 21 pontos no Alabama, 13 na Geórgia, 14 no Tennessee,
16 na Virgínia, e principalmente, 36 em Massachusetts.
Como
isto pode ter acontecido? Uma pessoa mais espiritualmente defeituosa e
ignorante das Sagradas Escrituras do que Trump é difícil de achar. Como várias
vozes cristãs anti Trump assinalaram, eles não podem apoiar um homem casado
três vezes, exibindo uma impressionante lista de pecados, inclusive os sete
pecados capitais.
Estes
argumentos teológicos são eloquentes e apaixonados, mas nesta época de medo e
ansiedade, não são prioritários. Agora os evangélicos não procuram um como
eles, procuram um que os protejam.
Eles
já apoiaram exemplares candidatos versados nas Sagradas Escrituras, sem
resultado. Depois de Mike Huckabee e Rick Santorum e avaliações do próprio Cruz,
eles estão crescentemente relutantes em apoiar candidatos de pensamento
similar, mas que, sem embargo, são incapazes
de levar adiante a causa evangélica, num ambiente hostil, dominado pelo
secularismo. Eles não têm ilusões acerca de Trump. Como também não têm
expectativas de um renascimento
religioso. O que ele lhes oferece não é espírito, mas “músculo”.
O
enlace foi esclarecido por Trump em um discurso feito na Liberty University, em
Janeiro. Suas tentativas anteriores de posar como um cara evangélico foram risíveis
e pouco convincentes. Na ocasião, ele fez mais um gesto, tipo “sou um de
vocês”, citando um verso dos Coríntios, e ali traindo uma risível falta de
familiaridade com o uso e a linguagem bíblica.
Mais
adiante, no mesmo discurso, ele declarou como os cristãos estão sendo
massacrados lá fora e nos Estados Unidos estão cercados, política e
religiosamente. Ele então prometeu: “Nós vamos proteger a Cristandade”.
Interessante
locução. Não apenas os cristãos, mas a própria cristandade. O que ele promete é
ser o guardião, ficar nos portões das igrejas e proteger a fé. Ele será o
centurião romano entre os cristãos e os bárbaros estrangeiros e os agressivos
secularistas americanos.
A
mensagem é clara: Eu posso não ser um dos seus, eu não sei citar corretamente a
Sagrada Escritura, mas patrulharei as fronteiras da Cristandade em seu nome.
Afinal, vocês querem um garoto do coro ou um
cara durão com um revólver carregado e uma atitude truculenta? Os
evangélicos responderam maciçamente por Trump.
A
essência do discurso de Trump em todos os lugares, bem além dos evangélicos é
precisamente a mesma: ”Eu sou durão, vou proteger vocês”. Isto é o que o faz
blindado. Sua falta de propostas, a natureza contraditória de seus
pronunciamentos, que se mascara como uma proposta em si, seus caprichosos arroubos
tornaram-se irrelevantes.
Ninguém
está dando a mínima. O apoio dele não tem nada a ver com propostas. Na noite da
Super Terça o problema da imigração deu pouco Ibope nas preocupações dos
republicanos. Apenas 10% consideraram a imigração em primeiro lugar. O sucesso
de Trump em sua draconiana posição anti imigratória não está na proposta em si,
mas na atitude. Tipo “não vou mais tolerar isto” desafiador.
Esta
é a razão porque nenhuma das retóricas ultrajantes que teriam destruído
qualquer outra candidatura, nem um pouco arranhou Trump. Ele zomba do heroísmo
de John McCain, insulta as roupas de Carly Fiorina, bajula Putin... e nada. Ele
até ganha mais apoio pela sua destemida franqueza.
É
o homem que, por três vezes recusou rejeitar David Duke e a Ku Klux Klan,
nenhum candidato sobreviveria a isto. Trump não só sobrevive, mas cresce. Logo depois ele ganha em 7 de 11 Estados e chega no limiar da nomeação.
Por
isto, a única maneira de parar Trump é uma agressiva campanha no núcleo do seu
apelo: seu caráter de protetor durão e confiável. Talvez seja tarde demais.
Mas, qualquer outra coisa não surtirá efeito.
QUEM
SEMEIA VENTOS COLHE TEMPESTADE
Por
Dan Balz (Washington Post)
O
establishment republicano não se conforma com a candidatura de Donald Trump,
devido à sua heterodoxia. Os críticos do partido veem a ascensão de Trump como
a consequência lógica de décadas de esforços dos republicanos em desmoralizar o
governo
Em
acréscimo, ultimamente, a passividade da liderança aceitando a virulenta e
mesmo até racial oposição ao presidente Obama, contribuiu para a guinada anti
establishment.
TENDO
SEMEADO VENTOS, AGORA COLHEM TEMPESTADE.
Outros,
contudo, dizem que o trumpismo, não importa o quanto ele ameaça a existência do
moderno partido republicano, é uma manifestação mais ampla do desigual impacto
da globalização na vida das pessoas, uma rejeição dos eleitores de instituições
e elites em ambos os partidos, que eles veem que falharam em atender ou ouvir
seus sofrimentos.
Na
verdade ambos estão certos, um problema que tem implicações em ambos partidos
majoritários já há alguns anos mas que se tornou mais agudo para os
republicanos neste momento porque o partido precisa urgentemente destes
eleitores para vender em Novembro.
Pode-se
estudar o passado num espaço de 50 anos para encontrar razões ou explicações
para a ascensão de Trump. Os republicanos há tempo tem estado engajado em
recorrentes lutas entre o domínio do establishment e vários grupos rebeldes,
conservadores em procura de romper o status quo.
Barry
Goldwater venceu a batalha para a nomeação dobre as elites do Leste, lideradas
por Nelson Rockfeller, porém rachou o partido e partiu para uma derrota
humilhante na eleição geral. Das cinzas, surgiu Ronald Reagan, o qual, apesar
de eleito duas vezes como governador da Califórnia, era visto com desdém pelas
elites republicanas do leste.
O
desafio de Reagan ao então presidente Gerald Ford nas primárias de 1976
representou a próxima etapa da luta anti establishment. A batalha foi para a
convenção onde Gerald Ford prevaleceu. Quando Ford perdeu para Jimmy Carter,
Reagan voltou e concorreu à liderança partidária.
Aos
olhos dos republicanos anti establishment a eleição de George H.W. Bush em 1988
restaurou o establishment no poder. Em apenas dois anos veio outra revolta,
agora liderada por Newt Gingrich quando Bush abandonou sua promessa de não
aumentar os impostos, como parte de um controvertido acordo com os democratas
sobre o orçamento.
A
rebelião de 1990 contribuiu para a derrota de Bush (pai) para Clinton em 1992.
Mais dois anos se passaram, as forças lideradas por Gingrich voltaram ao poder
em 1994, virando o jogo novamente
Pesquisas
mostram um empobrecimento da classe média americana desde os anos 70, e nos
últimos 15 anos o problema acentuou-se devido à crise de 2001 e o colapso
financeiro de 2008.
Apesar
disto, a ortodoxia econômica republicana continuou a insistir em prescrever
cortes nos impostos dos mais ricos, argumentando que esta seria a melhor
maneira de estimular o crescimento econômico, beneficiando, por tabela, os mais
pobres.
Além
de problemas econômicos, Trump trabalha com o medo de uma América em mutação,
um país culturalmente tolerante e racialmente diversificado. Isto é visto pelos
conservadores como uma deterioração dos valores e do caráter do país.
A
GUINADA PARA A DIREITA
Por
Aluizio Gomes
A
toda ação corresponde uma reação. É lei. Um excesso de esquerda ou de direita
leva a uma reação do lado oposto. Daí, vemos sempre o termo “reacionário”, para
aqueles que reagem a uma ação.
No
momento, estamos focados no fenômeno Trump, onde procuro demonstrar ser uma
“reação” aos avanços do outro lado. Os outros dois artigos desta trilogia
mostram muito bem o que está acontecendo por lá.
1. ALTERAÇÃO ÉTNICO DEMOGRÁFICA. O crescimento
das populações latinas, e asiáticas dentro dos Estados Unidos levou a uma
reação de descendentes de europeus, devido à concorrência por empregos e
exibição de valores morais diversos.
2. GLOBALIZAÇÃO- Com o fim da Segunda Guerra
Mundial, Japão e Europa foram, os poucos se recuperando, outros países, como a
Coréia do Sul, Índia, etc., libertaram-se do colonialismo, e cresceram. Assim,
indústrias por todo lado floresceram,
concorrendo com marcas tradicionais americanas, as quais, tinham e têm, custos
mais elevados. Mais uma razão para o americano ver seu emprego ameaçado.
3. AVANÇO LIBERAL. Os conservadores americanos
claro que são contra o aborto e o casamento gay e, além disto, devido ao racismo,
ostensivo ou enrustido, nunca engoliram a eleição de um mulato para a Casa
Branca. Barack Obama foi bombardeado por 8 anos pela extrema direita,
incrustada no partido Republicano: surgiu o Tea Party, usaram e abusaram do
“gridlock”, do “filibuster”, travando o executivo e o legislativo. Terminou o
presidente perdendo o controle da Câmara e do Senado, fazendo com que as coisas
não andassem.
A
reação, depois da sistemática campanha republicana em desmoralizar o governo,
veio com a ascensão de um cara de fora dos partidos, Donald Trump.
Desde
os tempos de Ronaldo Reagan, que dizia: ”Governo não é a solução, governo é o
problema”, que existe, em muitos setores a campanha para desmoralizar o
governo: “governo só pensa em gastar, aumentar impostos, e dar benefícios
sociais, etc, etc”
É
o puro individualismo americano. Cada um deve se virar sozinho, vencer na vida
pelo seu próprio esforço, sem precisar de benefícios sociais.