O
GRANDE SONHO ATÁVICO EUROPEU
Por
Aluizio Gomes
Geólogo
A
Europa começou a ser ocupada pelo homem com o fim da última glaciação. O homem
originou-se na África, migrou para a Ásia e , com o recuo das geleiras, chegou
à Europa. Os fósseis, restos de esqueletos, artefatos de metal e cerâmica,
pinturas rupestres, etc., foram e são encontrados por todo o continente
europeu. Os fósseis humanos foram classificados em dois grupos principais, o
homem de Neandertal, e o homem de Cro-Magnon, registros do Paleolítico e
Neolítico.
Os
séculos foram passando, mas o europeu continuava brutal, troglodita. O
asiático, ao contrário, começou a evoluir, desenvolveu a escrita, domesticou
animais e plantas, bem como o comércio e a navegação. Daí a formar os primeiros
impérios foi um passo: Assírios, persas, egípcios, babilônios, hititas, etc.
Já
na Palestina, a evolução foi espiritual e não material. Até hoje o Antigo
Testamento nos guia neste sentido. E a Europa? Ainda no atraso. Anos se
passaram até que os gregos começaram a sair da letargia, e formaram uma
admirável civilização, e depois um império oriental, sob o comando de um macedônio.
Só
depois apareceu o império romano, forte, organizado, que engoliu todo mundo, na
Ásia e na Europa. Até hoje, o Direito Romano guia o conhecimento jurídico. Com
a construção de estradas, ligando todo o império, rotas de navegação, e administração
organizada, podemos afirmar que foi a primeira globalização da História.
Um
dos motivos da queda do império romano foi a demografia, nas áreas externas
cresceram muito as populações bárbaras. Afinal, foram séculos de crescimento
populacional.Ao lado disto, os próprios bárbaros foram evoluindo economicamente
e culturalmente. Foi como uma bomba de efeito retardado. Implodiu com as invasões
bárbaras, enquanto internamente, os romanos se dividiam em querelas civis e militares.
Caiu o império, acabou a globalização, a cultura, e começou a Idade das Trevas
(Idade Média). A Europa foi fatiada entre os bárbaros, que adotaram a religião
cristã e o próprio latim, que podia ser escrito. As fatias germinaram em
nacionalidades independentes, franceses, ingleses, suecos, espanhóis, etc., que
começaram mais de mil anos guerreando entre si, procurando cada um a hegemonia,
nunca jamais alcançada.
Havia
um sonho, um sonho de restaurar o brilho de um império, o império romano. Mas
forças antagônicas, um nacionalismo exacerbado sempre obstaculizou a realização
deste sonho. Impérios menores, como o germânico e o russo, por exemplo,
conferiram títulos de César a seus imperadores: Kaiser e Tzar, significando
César.
Antes,
ainda no ano 800, o Papa já havia coroado Carlos Magno como imperador,
originando o Sacro Império Romano-Germânico, mas como uma vez disse Voltaire, nunca foi
Sacro nem Império e nem Romano.
Passaram-se
os séculos, mas o sonho não morre. Mussolini sonhou em restaurar o império,
Hitler sonhou no Reich de Mil Anos, tudo em vão.
Mais
modernamente, surgiu a ideia de uma União Europeia, sempre ao lado de um nacionalismo
separatista. A Iugoslávia e a Tchecoslováquia se fragmentaram, os ingleses
sempre foram arredios a uma união. Até hoje dirigem seus carros na contramão e nunca
adotaram o sistema métrico decimal, por pura implicância com os franceses, que
criaram estas reformas.
Certa
ocasião, afirmou Henry Kissinger: ”Quando quero falar com o Japão, sei a quem
me dirigir. Quando quero falar com os chineses também. Mas, quando quero falar
coma Europa, procuro quem?”
Finalmente,
para competir com japoneses e americanos, fundou-se a União Europeia.
Diferenças culturais e econômicas sempre foram pedras no sapato. O Reino Unido
entrou, mas com um pé fora, não adotou a moeda única, e agora, finalmente sai
da união, esfacelando mais uma vez o sonho atávico europeu.
Recife,
em 24 de Junho de 2016.
Publicado no Jornal do Commercio no dia 02/07/2016, não na íntegra, por falta de espaço.
Publicado no Jornal do Commercio no dia 02/07/2016, não na íntegra, por falta de espaço.