sexta-feira, 24 de junho de 2016

O SONHO

O GRANDE SONHO ATÁVICO EUROPEU

Por Aluizio Gomes
Geólogo

A Europa começou a ser ocupada pelo homem com o fim da última glaciação. O homem originou-se na África, migrou para a Ásia e , com o recuo das geleiras, chegou à Europa. Os fósseis, restos de esqueletos, artefatos de metal e cerâmica, pinturas rupestres, etc., foram e são encontrados por todo o continente europeu. Os fósseis humanos foram classificados em dois grupos principais, o homem de Neandertal, e o homem de Cro-Magnon, registros do Paleolítico e Neolítico.

Os séculos foram passando, mas o europeu continuava brutal, troglodita. O asiático, ao contrário, começou a evoluir, desenvolveu a escrita, domesticou animais e plantas, bem como o comércio e a navegação. Daí a formar os primeiros impérios foi um passo: Assírios, persas, egípcios, babilônios, hititas, etc.
Já na Palestina, a evolução foi espiritual e não material. Até hoje o Antigo Testamento nos guia neste sentido. E a Europa? Ainda no atraso. Anos se passaram até que os gregos começaram a sair da letargia, e formaram uma admirável civilização, e depois um império oriental, sob o comando de um macedônio.

Só depois apareceu o império romano, forte, organizado, que engoliu todo mundo, na Ásia e na Europa. Até hoje, o Direito Romano guia o conhecimento jurídico. Com a construção de estradas, ligando todo o império, rotas de navegação, e administração organizada, podemos afirmar que foi a primeira globalização da História.

Um dos motivos da queda do império romano foi a demografia, nas áreas externas cresceram muito as populações bárbaras. Afinal, foram séculos de crescimento populacional.Ao lado disto, os próprios bárbaros foram evoluindo economicamente e culturalmente. Foi como uma bomba de efeito retardado. Implodiu com as invasões bárbaras, enquanto internamente, os romanos se dividiam em querelas civis e militares. Caiu o império, acabou a globalização, a cultura, e começou a Idade das Trevas (Idade Média). A Europa foi fatiada entre os bárbaros, que adotaram a religião cristã e o próprio latim, que podia ser escrito. As fatias germinaram em nacionalidades independentes, franceses, ingleses, suecos, espanhóis, etc., que começaram mais de mil anos guerreando entre si, procurando cada um a hegemonia, nunca jamais alcançada.
Havia um sonho, um sonho de restaurar o brilho de um império, o império romano. Mas forças antagônicas, um nacionalismo exacerbado sempre obstaculizou a realização deste sonho. Impérios menores, como o germânico e o russo, por exemplo, conferiram títulos de César a seus imperadores: Kaiser e Tzar, significando César.

Antes, ainda no ano 800, o Papa já havia coroado Carlos Magno como imperador, originando o Sacro Império Romano-Germânico, mas como uma vez disse Voltaire, nunca foi Sacro nem Império e nem Romano.

Passaram-se os séculos, mas o sonho não morre. Mussolini sonhou em restaurar o império, Hitler sonhou no Reich de Mil Anos, tudo em vão.

Mais modernamente, surgiu a ideia de uma União Europeia, sempre ao lado de um nacionalismo separatista. A Iugoslávia e a Tchecoslováquia se fragmentaram, os ingleses sempre foram arredios a uma união. Até hoje dirigem seus carros na contramão e nunca adotaram o sistema métrico decimal, por pura implicância com os franceses, que criaram estas reformas.

Certa ocasião, afirmou Henry Kissinger: ”Quando quero falar com o Japão, sei a quem me dirigir. Quando quero falar com os chineses também. Mas, quando quero falar coma Europa, procuro quem?”

Finalmente, para competir com japoneses e americanos, fundou-se a União Europeia. Diferenças culturais e econômicas sempre foram pedras no sapato. O Reino Unido entrou, mas com um pé fora, não adotou a moeda única, e agora, finalmente sai da união, esfacelando mais uma vez o sonho atávico europeu.

Recife, em 24 de Junho de 2016.

Publicado no Jornal do Commercio no dia 02/07/2016, não na íntegra, por falta de espaço.