HISTÓRIA
DO PARQUE DONA LINDU
Por
Aluizio Gomes
No
princípio, era o Recife.Cidade dos rios e das pontes, cantada em prosa e verso,
bucólica, conservadora, provinciana, moradia dos senhores de engenho,
intelectuais, escritores, poetas, e alguns heróis também.
Veio
a 1ª Grande Cheia, 1965.
Veio
a 2ª Grande Cheia, 1975.
Foi
demais. A classe média abandonou seus queridos bairros ribeirinhos: Graças,
Casa Forte, Dois Irmãos, Parnamirim, etc, e se mandou para Boa Viagem, se
empilhando em moradias verticais, coisa inexistente antes de 1965.Como a classe
média só gosta de filé, a carne de pescoço ficou para a patuléia.Talvez, talvez
não, certamente a Av. Boa Viagem, que tem 6,5km de extensão, tenha a maior
quantidade de área construída, em m2.Considerando o luxo das obras, é a maior
arrecadadora de IPTU residencial.Como terra não estica como um elástico, veio a
natural saturação, o preço do m2 disparou, mas a classe média não liga muito
para isso não.”Deus me livre morar na Imbiribeira, Jiquiá”, diria uma dondoca.
Com
o tempo, a classe média começou a sentir falta de ar.Como passear seus
schnauzers, malteses? Onde levar seus rebentos para brincar? Logo percebeu-se
um enorme terreno livre, bem na avenida, ótimo para isso, e a classe média foi
tomada de repente, não mais do que de repente, de uma heróica consciência
ecológica.”Precisamos de árvores, um parque para passear, chega de tanto
concreto!” Foi o grito de guerra.O terreno era da Aeronáutica, remanescente da
2ª Guerra Mundial, onde poder-se-ia colocar artilharia, para bombardear
possíveis navios alemães. Acabou a guerra, mas o terreno ficou como patrimônio
da Aeronáutica, reserva para futuras residências dos militares, ressaltando que
na avenida já existem muitos terrenos dela, onde foram construídas residências,
para todas as patentes. O Clube da Aeronáutica fica na avenida.
Num
golpe de sorte, a Aeronáutica doou o terreno ao governo, para construção do tão
almejado parque. Mas, no meio, tinha o PT! Essa não! Um partido contrário à
classe média, defensor dos pobres e excluídos! O PT quis também trazer o
proletariado para a avenida, e ao mesmo tempo construir um monumento ao
príncipe. Tudo caiu como uma luva, a classe média chiou, chiou, mas não teve
jeito. O príncipe venceu, e ainda xingou a classe média, chamando-a de “elite
intransigente”.Colocaram lá uma obra de Oscar Niemeyer (em concreto, que
heresia!), e num arroubo de puxa-saquismo sem paralelo, ainda batizou o lugar
com o nome da genitora de Lula: dona Lindu.A princípio esse nome soou muito
mal, cafonérrimo, somos acostumados a batizar nossos prédios com nomes
aristocratas, mas isso já passou.
Sem
dúvida, a obra é irreversível, já incorporada ao dia a dia da cidade. A classe
média teve um lugar ao sol, mas tendo que dividir o parque com as classes menos
favorecidas, que vêm para cá curtir shows de graça. Hoje mesmo tem Maria Rita,
às 18h.
Primeiro
de Abril de 2012
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