A OBSOLESCÊNCIA DO MARXISMO
Por Aluizio Gomes
Façamos uma retrospectiva da História Européia. O Império Romano foi a
primeira organização política que unificou o continente europeu, porque
impérios mais antigos situavam-se na Ásia, ou na África:persas, caldeus, egípcios,
babilônios, etc.Os gregos alcançaram extraordinário desenvolvimento cultural,
porém nunca se uniram, de modo que nunca constituíram um império;apenas
Alexandre Magno, que era macedônio, uniu os gregos, porém direcionou seus
exércitos para o Oriente,helenizando a Ásia.Fragmentos do Império Helênico
foram depois absorvidos pelos romanos.
Baseado na escravidão, no trabalho braçal, os romanos eram avessos à
mecanização, à industrialização, herança dos gregos, mesmo porque não havia
competidores para sua produção, eles eram únicos. No século V de nossa era, o
império romano foi retalhado pelos bárbaros, ficando os francos, anglos,
saxões, normandos, visigodos e lombardos com fatias geográficas, germes
de futuras nações: França, Inglaterra,Espanha,Itália.A Alemanha foi resultado
da divisão do império de Carlos Magno.No século VII apareceu o império árabe,
que tirou a Ásia do Império Bizantino, começando as cruzadas, e isolando a
Europa do Extremo Oriente.Com a queda de Constantinopla, a Europa foi abalada
em todos seus alicerces, ficando à beira da extinção, forçando as grandes
navegações portuguesas, a fim de achar um novo caminho para as Índias.
Porém, a queda de Constantinopla trouxe para a Europa os sábios gregos,
os quais com seu cabedal, deflagraram o que se convencionou chamar de
Renascimento, termo bem apropriado, porque indica que toda aquela energia e
conhecimento dos gregos e romanos estava se renovando, renascendo,como a flora
renasce na primavera, após o inverno.Durante este vasto período, o Cristianismo
cresceu de modo extraordinário, passando de uma religião de periferia, para o
centro do poder, em Roma.Porém neste percurso, o Cristianismo sofreu enormes
dissensões internas, resultado de diferenças de interpretação do texto dos
livros sagrados.
E mais, afastando-se da ascese dos primeiros cristãos, seus seguidores
medievais entregaram-se ao luxo e às questões seculares, culminando na Reforma
de Lutero.Além da clausura política, forçada pelos árabes e turcos, o europeu
sofria uma clausura intelectual, interna, forçada pelos dogmas cristãos,cuja
expressão maior era a Inquisição.Pois bem, estas amarras foram finalmente
rompidas pelo Renascimento, Reforma e os descobrimentos de novos
continentes.Veio Isaac Newton, Galileu, etc, que varreram todos os obsoletos
conceitos medievais, congelados, engessados pela citadas clausuras.Na parte da
religião, a Reforma muito contribuiu para a Ciência se libertar da Religião.O
lucro deixou de ser pecado, para ser uma aspiração legítima.O eixo do
desenvolvimento saiu assim da península ibérica para os países mais ao
norte:Inglaterra, Holanda, Alemanha, França.A intolerância dos ibéricos
provocou a expulsão dos judeus, não só na Espanha, mas também no Brasil.Judeus
expulsos do Recife, fundaram Nova Iorque.
O último bastião do atraso foi a monarquia, esta foi difícil de
extirpar, tanto que até hoje persiste, embora bastante enfraquecida.O primeiro
golpe foi assestado na Inglaterra, a revolução de Cromwell, no século XVII, a
qual destituiu e executou o rei Carlos I.No século seguinte veio a revolução
maior, na França, a qual tornou a monarquia um poder menor: nascia, ou
renascia, a república.Então, Renascimento,Reforma,e República modernizaram a
Europa, resultando na Revolução Industrial e Capitalismo.Por todo este vasto período
de tempo, feudalismo e monarquia eram como irmãos siameses,faziam parte de um
mesmo sistema.O capitalismo é de origem burguesa, portanto antagônico ao
feudalismo.Por isso, os burgueses capitalistas se opunham a qualquer sistema
que impedisse o trânsito de suas mercadorias: escravidão,feudalismo, monarquia.
Se feudalismo e monarquia são irmãos siameses, o mesmo podemos dizer do
capitalismo e democracia.
Como as máquinas aumentaram dramaticamente a produção, houve, portanto
um inequívoco aumento do poder e da riqueza dos capitalistas, os quais lançaram
mão de todos os meios para se apossarem das riquezas naturais das colônias:era
preciso de tudo, ferro, carvão, borracha, madeira, petróleo, algodão, e
alimentos, para abastecer as fábricas e alimentar a população crescente.Nasceu
assim o imperialismo.Sem nenhum parâmetro anterior que pudesse reger as
relações trabalhistas, o capitalismo não soube encaixar o operário num regime
mais justo,pois os parâmetros anteriores eram a servidão (feudalismo), e
escravidão, descambando na exploração cruel do operário.Era o capitalismo
selvagem.Os filósofos europeus, após a queda das monarquias absolutas,
debruçaram-se sobre o capitalismo, demonizando-o, e propondo uma segunda
revolução, desta vez para eliminar o capitalismo, e implantar o
socialismo.Desta leva de filósofos, sem dúvida o mais famoso foi Karl
Marx.Desta inquietude, no século XIX, resultou a queda da monarquia da
Rússia, em 1917.Enormes forças sociais foram liberadas por esta revolução,
tornando a Rússia numa potência e num império, que foi chamado União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas.A morte prematura de Lênin, entretanto, foi
uma desgraça para o futuro deste império.Stalin, uma figura menor e sinistra,
implantou uma ditadura implacável, e procurou exportar sua revolução para
outros países,através do Comintern.
SÉCULO XX
O século XX foi completamente dominado pela presença da União
Soviética, um gigante exportador de revoluções.A primeira vítima foi a Itália,
e logo em seguida a Alemanha, onde se desenvolveram ideologias extremadas
anticomunistas, a fim de conter a maré revolucionária, as quais derrubaram os
governos democráticos locais.Sendo o marxismo ateu, de saída já colocou a
Igreja contra si.Em seguida, caiu a Espanha para a direita, sob domínio de
Franco.As democracias restantes, França e Inglaterra, principalmente, ficaram
na defensiva, permitindo o enorme crescimento da Alemanha, que surpreendeu o
mundo em 1939, com a blitzkrieg.Sendo impossível a convivência de tão díspares
ideologias, a coisa só se resolveu com a Segunda Guerra Mundial.Porém, em
seqüência, foi também impossível a convivência entre democracia-capitalismo com
ditadura-marxismo, resultando na Guerra Fria.Não houve a Terceira Guerra
Mundial por causa da impossibilidade de combate com vencedor, já que os dois
lados possuíam a bomba atômica. Então, o império soviético só foi destruído de
dentro para fora, implodiu em 1989, vítima da obsolescência do marxismo.
Vejamos agora as razões da obsolescência do marxismo. Primeiro, os
filósofos jamais foram empresários, jamais foram administradores de empresas. Portanto,
sua ideologia é totalmente teórica, laboratorial. Do laboratório à
experimentação, vai uma longa distância. No dia-a-dia das fábricas, nas
relações de troca, é que são testadas as teorias de laboratório, saindo daí
ajustes imprescindíveis. Cair no dogmatismo imutável é um erro, uma armadilha
na qual caíram os marxistas. Já o capitalismo, convivendo com sua irmã siamesa,
a democracia, mudou e muda constantemente: sindicatos, legislação trabalhista,
previdência social, direito de greve, dissídios coletivos, fizeram como que uma
cirurgia plástica na face do capitalismo, o qual deixou de ser selvagem,
humanizando-se.Portanto, os operários dos regimes capitalistas conquistaram
muito mais benefícios que seus semelhantes comunistas.
Outro erro maior, e este fatal, foi a estatização dos meios de
produção. Capitalismo e democracia exigem empresas privadas, afim de que
concorram entre si, evitando inflação e produtos obsoletos. Na extinta União
Soviética, não havia como melhorar a qualidade dos produtos, porque não havia
parâmetro comparativo, este produto é melhor e mais barato do aquele. É preciso
salientar que, para melhorar e baratear um produto, é necessário um forte
investimento em pesquisa nas indústrias. Isto é a mola do desenvolvimento. Sem
concorrência, não há progresso. Visto isso, os líderes soviéticos acharam por
bem abandonar o marxismo e se dedicarem ao capitalismo, arrastando depois,
atrás de si, as repúblicas satélites. A China fez um caminho diferente, abriu
economicamente, para sobreviver, porém continuou fechada politicamente,
resultando num regime híbrido, meio comunista e meio capitalista.
Assim, cessado o comunismo no Hemisfério Norte, ele veio se
instalar no museu ideológico situado no Hemisfério Sul, a incorrigível América
Latina, terra dos dinossauros políticos, como Hugo Chávez, Evo Morales, Frei
Betto, y otros muchachos.