STÁLIN NÃO MORREU
Por Clóvis Rossi
Publicado na Folha de São Paulo, em 07/03/2009
Está em cartaz no museu do stalinismo que um dia se chamou Cuba um
velho clássico desse tipo de instituições: o expurgo e seu cortejo.
As vítimas da vez são velhos comunistas de carteirinha, como Carlos
Laje, 20 anos de fidelidade ao castrismo, e Felipe Pérez Roque, dez anos como o
responsável pelas relações externas do museu.
Parece inacreditável que, 56 anos após a morte de Joseph Stálin e 53
anos depois que até seus sucessores- e, pouco antes, seus cúmplices-
reconheceram seus crimes, esse espírito nefando ainda sobreviva.
É ainda inacreditável que pessoas que se acham de esquerda continuem a
lhe dar aval nem que seja pela cumplicidade do silêncio.
Ser de esquerda, na teoria, era ser acima de tudo libertário.Na vida
real, regimes como o cubano e antes dele o soviético se tornaram liberticidas.
Talvez pela cumplicidade do silêncio, o stalinismo ganha adeptos no
próprio Caribe, adeptos que gozam o mesmo beneplácito.
Refiro-me especificamente à Nicarágua de Daniel Ortega, que, de volta
ao poder, aliou-se com a pior espécie política, a da corrupção mais
desavergonhada, mas, porque critica o "imperialismo" norte-americano,
é tratado como gente fina.
A esquerda ignora a vil perseguição que Ortega move a um
revolucionário, este sim autêntico, goste-se ou não da revolução que ele
encarnou, de nome Ernesto Cardenal, poeta e sacerdote, ministro da cultura do
sandinismo em seguida à vitória contra o clã Somoza.
Em recente entrevista ao jornal espanhol "El País", Cardenal
disse algo que, em boa medida, vale também para Cuba:
"Alí, (na Nicarágua), não há nada de esquerda, nada de revolução,
nada de sandinismo.O que há é nada mais do que corrupção e ditadura. Uma
ditadura fascista, familiar, de Daniel Ortega, sua mulher e seus filhos".
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