LUDENDORFF,
O HOMEM QUE AJUDOU A DESTRUIR A VELHA EUROPA
1.
PREÂMBULO
Nas primeiras
décadas do século XX, a Europa passou por incríveis transformações, ela que
vinha de uma longa era de estabilidade, paz e progresso material: a belle
époque, a era vitoriana, conquistas como eletricidade, rádio, telefone, telégrafo,
ferrovias, etc., haviam expandido a
economia, além de progressos na química e na medicina. Por último veio o
automóvel, o avião, e mais progresso na economia, com a entrada no mercado de
insumos como borracha e petróleo. O resultado foi a enorme acumulação de
capitais no sistema financeiro, conglomerados econômicos, com novas formas de
administração, como os trustes. A produção em série, com a linha de montagem,
mais uma vez aumentou a capacidade de produção da indústria. Tudo isto
fortaleceu enormemente a burguesia, é a era dos Rockfellers, Rothschilds,
Morgans, etc, também chamados de robber barons,a era do capitalismo selvagem.
Como a toda ação corresponde uma reação, esta, no caso, foi a ascensão do
comunismo, calcado na enorme massa operária que ralava nas fábricas, para
enriquecer os burgueses. Entre o rochedo e o mar ficou a aristocracia, fadada a
desaparecer. Este componente social, que vinha desde a Idade Média, tinha
sofrido duro golpe na Revolução Francesa, porém, com a derrota de Napoleão,
veio a reação austríaca- prussiana, liderada por Metternich, o que deu mais um
século de sobrevida às monarquias decadentes.
Porém, tudo ruiu
com a Primeira Guerra Mundial. Caíram poderosas monarquias, alemã, austríaca,
russa, além de ser extinto o também poderoso império medieval Turco Otomano. Os
Bálcãs, países bálticos, e países do leste europeu foram totalmente
remodelados, enquanto França e Inglaterra, como lobos famintos, se apoderavam
dos espólios turcos, terras riquíssimas em petróleo. É a era das 7 Irmãs: Standard
Oil, Royal Dutch & Shell, British Petroleum, Texaco, Mobil Oil, etc. Estas
empresas provocavam revoluções, tiravam e colocavam governantes, por métodos
sempre obscuros.
2. ERICH LUDENDORFF
Ao eclodir a
Primeira Guerra Mundial, a Alemanha planejou invadir a França através da
Bélgica, seguindo o famoso Plano Schlieffen. A ala direita da força alemã
precisava girar como um compasso, em torno de um pivô, que seria a ala
esquerda, destinada a ficar estática, ao sul da França. Porém, no caminho da
ala direita ficava Liège, uma praça fortificada. Após tremendo bombardeio,
Ludendorff ficou perdido na confusão, separando-se de seus compatriotas. Pensando
que a praça houvesse sido conquistada, foi para lá de táxi, e ao chegar, bateu
na porta com o punho da espada.Esta foi aberta por soldados belgas, e a
surpresa foi dos dois lados. Pensando que o general estava com seu exército, os
belgas se renderam. A repercussão deste fato foi enorme, dando uma fama
duradoura ao general, que ganhou do Kaiser a cobiçada medalha Pour le Mérite.
Mas, não ficou só
nisso. Depois veio Tannenberg, façanha de maior repercussão e de consequências
históricas tremendas, pois foi o princípio do fim da monarquia russa. A
Alemanha planejava derrotar a França em poucas semanas, para depois cuidar da Rússia.
Esta estratégia saiu errada, pois os franceses, desesperadamente, apelaram aos
russos para entrarem mais cedo na guerra. A Rússia, sem prever as consequências
disto, atacou, sem estar devidamente preparada. Os germânicos então
transferiram unidades do Oeste para o Leste, tiraram Hindenburg de volta de sua
reforma, e fizeram a famosa dupla Hindenburg-Ludendorff. É verdade que o plano
de batalha de Tannenberg já estava feito pelo coronel Max Hoffman, porém todos
os louros foram para os dois de maior patente. Tanto que, depois, Hoffman
afirmou: "Depois de Tannenberg, deixei de acreditar em Aníbal e
César". Após Tannenberg, Ludendorff consolidou sua fama, a Rússia foi
humilhada e derrotada também ao sul, nos Cárpatos, e Ludendorff ainda deu um
presente de grego a eles, tirando Lênin do exílio na Suíça, e mandando-o de
volta a seu país. A revolução fermentou, e em 1917 caiu a monarquia russa. Em
1918 caíram as monarquias alemã e a austro-húngara, o mesmo acontecendo na
Bulgária.
Ludendorff,
excelente tático e péssimo estrategista, garantiu aos políticos alemães que
ainda poderia ganhar a guerra, e em 1918 fez um desesperado ataque à França, já
com a Rússia fora da guerra. Sua estratégia falhou miseravelmente, e os alemães
tiveram que fazer uma paz humilhante, no Tratado de Versalhes. A Alemanha saiu
falida, sofreu uma inflação pavorosa, e como desgraça pouca é besteira,
Ludendorff ainda foi dar ouvido a um austríaco pobre e obscuro, porém
dono de uma retórica muito forte, chamado Adolf Hitler. O resto da história vocês
já sabem.
31/07/2011"LUDENDORFF- Soldado, Ditador, Revolucionário"-D.J. Goodspeed-Biblioteca do Exército Ed. e Editora Saga- (1968)
"A 20 de
Dezembro de 1937, a tempestuosa odisseia de Ludendorff chegou ao fim, no
Hospital Josephiniun, na Schönfeldstrasse em Munique. Morreu aos 72 anos, em
consequência de um mal de bexiga, recebendo a carinhosa assistência, até o
final, das freiras daquela igreja que ele injustamente atacara nos últimos 15
anos de sua vida. Dois dias depois, Hitler acompanhou o esquife pelas ruas de
Munique até o Feldherrnhalle, onde o Marechal-de-Campo Von Blomberg, Ministro
da Guerra nazi, pronunciou o discurso fúnebre. O corpo de Ludendorff permaneceu
embalsamado na Feldherrnhalle, com uma grande bandeira suástica estendida sobre
o caixão e sob a guarda de 4 soldados nazis. No seu testamento, Ludendorff
estabelecera expressamente que não desejava ser sepultado no Cemitério dos
Inválidos em Berlim, nem na cripta do Monumento Comemorativo de Tannenberg, mas
em Tutzing. Hitler não desprezou o desejo do morto, embora relutasse em deixar
os restos de Ludendorff exclusivamente a cargo de Mathilde, quando
poderia servir a objetivos partidários em um panteão nazi.
A Primeira Guerra
Mundial, ocorrendo, como ocorreu, quando a Europa vinha de uma longa idade
ouro, constituiu um dos mais trágicos episódios da história moderna. E o
domínio que Ludendorff exerceu sobre a política alemã desde agosto de 1916 até
Outubro de 1918 teve papel decisivo na tragédia, aprofundando-a sensivelmente. Ele
possuía notável talento militar.
As doutrinas
defensivas e ofensivas desenvolvidas sob sua direção revestiram-se de um brilho
tático não demonstrado em qualquer outra parte na mesma guerra e raramente igualado
em qualquer outra guerra. Enquanto contou com Hofmann ao seu lado, revelou
também brilho estratégico de primeira grandeza. Sua habilidade administrativa
foi ainda mais pronunciada e ele deve ser classificado como um dos máximos
organizadores militares de todos os tempos.
Contudo, sua
direção levou os negócios da Alemanha a um tremendo desastre. Faltavam-lhe, por
completo, treino e talento para lidar com problemas políticos, mas, com a autossuficiência
que lhe era peculiar, impunha usa vontade ao Kaiser, ao governo civil e à nação
alemã. Inteiramente incapaz de trabalhar com homens moderados em um mesmo
nível, ditava suas normas políticas de curto alcance e por elas lutava com uma
obstinação criminosa. Sua rudeza para com a Rússia, sua ingênua crença na miragem
da força militar polonesa, seu tolo desdém quanto ao poderio americano e sua
recusa a toda possibilidade de uma paz de compromisso, levaram a Europa à
ruína. Os três grandes impérios desmoronaram e, por mais que se lhes pudessem
apontar os defeitos, boas razões havia para lamentar-se a queda. Em certos
sentidos, Ludendorff bem se ajustava ao terrível mundo novo que contribuíra
para criar, porque, pelo seu temperamento, preferia métodos cruéis e radicais e
a prova disso está no fato de haver encontrado o seu lar espiritual no partido
Nazi.
Se bem que a
Primeira Guerra Mundial tivesse sido um erro grave de cortar o coração, com um
pouco mais de boa vontade e um pouco menos de orgulho em ambos os lados muita
coisa muita coisa teria sido evitada: o prolongamento da luta, a ascensão de
Hitler e o caráter de inevitabilidade do segundo conflito mundial. Neste ponto
coube a Ludendorff uma grande parcela de responsabilidade. Hitler bem poderia
ter chegado ao poder sem o apoio de Ludendorff, embora esse apoio lhe tivesse
sido de incalculável vantagem nos primeiros tempos, mas Hitler jamais teria
chegado ao poder se a Alemanha não estivesse tão abalada pela guerra que
Ludendorff estendera por tanto tempo.
A vida de todos os
homens é uma luta entre o bem e o mal, que continuamente se digladiam. O bem
predominou no começo e no meio da vida de Ludendorff: coragem pessoal,
inteligência, determinação e um alto e desprendido senso de dever. Nenhuma
dessas, entretanto, era uma virtude verdadeiramente heroica e nada menos que
heroicas virtudes poderiam responder ao desafio do comando supremo. Em
Ludendorff, cedo as trevas sobrepujaram as luzes do espírito. Com o decorrer do
tempo, o orgulho afugentou o desprendimento, a inteligência se obumbrou e
feneceu e até a coragem pessoal foi substituída por uma barba postiça e um par
de óculos azuis.
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