O TERREMOTO POLÍTICO E SUAS
CONSEQUÊNCIAS
Por Charles Krauthammer
Publicado no Washingtonpost em
05/5/2016
O que há por trás da vitória de
Donald Trump? Na opinião dos conservadores, é que ele, o forasteiro, sentiu, avaliou e surgiu
como representante de uma maciça revolta da base republicana contra o “establishment”.
Foi assim: Os líderes do partido
Republicano fizeram todo tipo de promessas e ganharam, como prêmio, a Câmara, o
Senado, 12 governos estaduais e 30 câmaras estaduais. Mesmo assim, eles não
cumpriram o prometido.
Pesquisas de opinião
consistentemente mostraram que uma maioria de eleitores republicanos mostraram-se traídos por seus líderes.
Não apenas desapontados. Traídos. Por
aqueles que, corrompidos por doações e lobistas, venderam-se.
Eles tiraram os fundos do programa
de controle da natalidade (Planned Parenthood)?Não. Eles bloquearam a gastança
governamental, hiper-liberalista? Não. Seja por incompetência ou venalidade, eles
deixaram Obama passar por cima deles.
Agora vem o paradoxo. Se a
insuficiente resistência ao liberalismo de Obama criou este senso de traição,
por que, num universo de 17 candidatos, os eleitores escolhem o menos
conservador?
Um homem que até ontem era ele
próprio um liberal? O homem que doou dinheiro para os mesmos democratas de
oposição ao partido republicano?
Acontece que Trump vem demonstrando
simpatia pela saúde pública socializada, bem mais à esquerda do que o próprio
Obama. E vai mais além: considera a saúde pública uma prioridade nacional,
junto com a segurança. Ora, os republicanos sempre se opuseram à saúde pública
estatal, e ele, Trump ainda apoia a educação pública federal, quando os
republicanos acham que ela deveria ser estadual.
Quanto à Planned Parenthood, os
mesmos conservadores que se posicionaram contra o “establishment” republicano
por não cortarem as verbas do projeto, agora apoiam um candidato que elogia o
plano, exceto para aborto.
Mais importante ainda, Trump não tem nenhuma afinidade com a posição
basilar do moderno conservadorismo: a volta para um governo menor e menos
intervencionista. Ora, se o “establishment” ofereceu pouca resistência ao “Big
Government” de Obama, o beneficiário logicamente deveria ser o mais radical de
todos os oponentes ao Big Government , Ted Cruz.
Toda a carreira de Ted Cruz foi
dedicada a promover o Tea Party, opondo-se ao líderes republicanos, o “cartel
de Washington”. Mas, quando Cruz entrou no mano a mano com Trump no Indiana “OK
Curral”, os republicanos se alinharam com Trump, e seu populismo.
Isto torna Indiana um ponto de
inflexão histórico. Marca a mais radical transformação de um partido político
no nosso tempo atual. Os democratas continuam na sua trajetória de um governo
sempre em expansão, desde o New Deal, passando pela Great Society, por Obama e
por Clinton. Enquanto isso, o GOP, o partido conservador, refinado e
cristalizado por Ronald Reagan, torna-se populista.
Trata-se de um terremoto
ideológico. Trump afirmou: ”Pessoal, eu sou um conservador, mas agora, quem
está ligando para isso (“who cares”)?
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