OS CICLOS DO AÇÚCAR E
DO CACAU NO BRASIL
(Compilação
da Internet)
1. AÇÚCAR
Em
meados do século XVI, Portugal, conseguiu estabelecer uma economia açucareira
no nordeste do Brasil. A produção de açúcar foi alcançada devido a uma série de
fatores favoráveis. Portugal já tinha o know, pois produzia açúcar nas ilhas do
Atlântico e fabricava seu próprio equipamento. E mais, estando já envolvido no
comércio de escravos africanos, tinha acesso à mão de obra barata, bem como
acesso às habilidades comerciais e financeira dos holandeses., com isto se
habilitando a penetrar nos mercados europeus.
Até
princípios do século XVII, portugueses e holandeses tinham um virtual monopólio
do açúcar na Europa. Contudo, entre 1580 e 1640, o paás ibérico foi incorporado
à Espanha, a qual estava em guerra com a Holanda. Assim, os holandeses
invadiram o nordeste do Brasil, entre 1630 e 1654, afim de controlar a produção
da cana e do açúcar. Quando eles foram expulsos do Brasil, já tinham o know how
para o cultivo da cana e a fabricação do açúcar, e foram produzir no Caribe,
contribuindo para a queda do monopólio português.
A
produção do Caribe levou à queda dos preços do açúcar, e os brasileiros e
portugueses não puderam competir com os holandeses. No período compreendido
entre o final do século XVII e princípios do século XVIII, Portugal teve
problemas financeiros para manter a colônia, que não tinha outra commodity para
substituir o açúcar. Ao mesmo tempo, isto levou ao povoamento de outras regiões
do Brasil, e começou a produção da pecuária, a qual firmou-se como alternativa
ao açúcar.
Constatando
que precisava de outro recurso, os Portugueses intensificaram a prospecção mineral,
levando ao Eldorado de Minas Gerais.
2. CACAU
Levado
do Pará, o cacau chegou à Bahia na segunda metade do século XVIII, dando origem
a um ciclo econômico que acarretou profundas mutações sociais. E tão violentas
foram as disputas de terras para plantio do cacau que já se disse que as
fazendas do sul da Bahia foram adubadas com sangue humano. Na floresta
amazônica, os cacauais nativos são parte da mata virgem. Desenvolvendo-se ao
acaso, sem os cuidados necessários e de mistura com árvores as mais variadas,
sua produção era pequena, não chegando a pesar na produção mundial e pouco se
fazendo sentir na brasileira.
No
sul da Bahia, onde até então alguns engenhos de açúcar e inexpressivas roças de
café sustentavam os habitantes, o cacau encontrou um habitat perfeito, graças
aos ricos solos de massapê e à umidade ambiental resultante de chuvas muito
freqüentes. As facilidades de transporte, por via fluvial, e a alta cotação do
cacau no mercado externo foram fatores que pesaram para o incremento do cultivo
dessa nova fonte de lucro.
Coronéis,
jagunços e grapiúnas. A conquista das terras no sul da Bahia motivou lutas
sanguinárias que se alastraram por toda a região -- em lugares como Itabuna,
Belmonte, Coaraci, Itajuípe, Una e o porto de Ilhéus, escoadouro das grandes
safras. Essas disputas entre os grandes proprietários de terras ou coronéis do
cacau, travadas por verdadeiros exércitos de jagunços a soldo, prolongaram-se
até as duas primeiras décadas do século XX e levaram ao estabelecimento de
imensos latifúndios. Em seus limites, o poder dos coronéis era total,
permitindo-lhes decidir desde a comercialização do cacau até as eventuais
tocaias que seus capangas executariam contra os adversários molestos.
Além
de resolverem pela força as questões de terras e as pendências políticas, os
jagunços geralmente também trabalhavam nas fazendas, sob condições apenas
ligeiramente melhores que as dos lavradores ditos "alugados". Estes,
quase sempre flagelados da seca que desciam para o sul da Bahia em busca das
promessas da zona cacaueira, incumbiam-se da derrubada das matas e do plantio
das mudas, sendo vítimas de um sistema feudal de exploração. Obrigados a
comprar nos armazéns das fazendas suas roupas, víveres e as ferramentas que
usavam, os trabalhadores recém-chegados submetiam-se a pesadas dívidas que só
faziam crescer com o tempo. Somente a partir da revolução de 1930, cujas
repercussões motivaram sérias lutas dos assalariados, a exploração da
mão-de-obra servil começou a tornar-se menos abusiva.
Apesar
da rudeza das condições de trabalho, o ciclo do cacau, com suas possibilidades
de ganhos, atraiu gente de toda parte. Aos brasileiros, sobretudo sergipanos,
que migravam para o sul da Bahia juntaram-se estrangeiros de procedências
diversas -- como árabes, sírios e libaneses, todos tratados indistintamente de
"turcos" ou "gringos" -- que desembarcavam em Ilhéus ávidos
de fortuna. A atividade comercial, implantada pelos mascates estrangeiros, que
a princípio percorriam as plantações em lombo de burro para ofertar suas
mercadorias, solidificou-se pouco a pouco e floresceu em toda a região.
A
época da conquista das terras e da disseminação do cacau, com o consequente
surgimento de povoados e pequenas cidades, deixou marcas bem definidas na
psicologia e nos hábitos do povo, dando ao sul da Bahia um caráter próprio, bem
diferente do que prevalece, por exemplo, na capital do estado e no Recôncavo. O
amor à coragem, a entrega à aventura e a crença no progresso são considerados
traços típicos dos grapiúnas, termo pelo qual são desde então designados os
habitantes do sul da Bahia. Não raro, tais habilidades originaram-se, em face
do significativo afluxo de estrangeiros, de gamas variadas de miscigenação
racial.
Os
reflexos da crise econômica mundial de 1929, assim como, no plano interno, os
da revolução de 1930, influíram nos destinos da lavoura cacaueira,
traduzindo-se com mais clareza, nos primeiros momentos, por sucessivas baixas
nos preços do produto. Com o desaparecimento da maior parte das oligarquias, os
latifúndios fragmentaram-se, por motivos de herança ou simplesmente econômicos,
em fazendas de menor porte e organização menos arcaica. Passada a era do
caxixe, nome pelo qual eram designadas as invasões de terras ou as muitas
aquisições ilícitas, desapareceram de igual modo os jagunços. A criação do
Instituto do Cacau da Bahia, em moldes de cooperativa, em 1931, e a fundação do
primeiro sindicato de trabalhadores rurais reconhecido pelo governo, que data
da mesma época, foram fatos relevantes para a transformação das relações de
trabalho na zona de produção cacaueira.
O
ciclo do cacau, com suas consequências na esfera social, deu origem a um vasto
filão temático que a literatura brasileira explorou e se insere dentro do
realismo nordestino. É sobretudo na ficção que as marcas da saga do cacau são
mais visíveis.
Incluem-se
nesse caso três romances de Jorge Amado, da primeira fase de sua obra,
retratando as disputas pela posse das terras e os problemas humanos a ela
relacionados: Cacau, Terras do sem fim e São Jorge dos Ilhéus. Idêntica
temática foi seguida por Adonias Filho, autor de Servos da morte, Memórias de
Lázaro e Corpo vivo, romances ambientados na região cacaueira. Histórias da
gente do cacau motivaram ainda o escritor Hélio Pólvora, que as enfeixou em
dois volumes de contos, Galos da aurora e A mulher na janela.
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