HISTÓRIA
DE UM FRACASSO
Por
Aluizio Gomes
1.INTRODUÇÃO
Em
algum desvão da História pode-se encontrar uma lição preciosa, a qual servirá
intensamente para momentos atuais. Agora e aqui na América Latina, despontam
líderes esquerdistas, ávidos em estatizar ativos privados, dentro da obsoleta
ótica socialista. Pois bem, uma lição esquecida e que vamos abaixo rememorar,
pode nos alertar sobre os perigos do socialismo.
A
década de 30, século passado, foi na Europa uma fase dificílima, fruto de
revoluções que abalaram o próprio núcleo do mundo ocidental. A Revolução
Comunista de 1917 acabou com a aristocracia russa, e imediatamente ameaçou se
propagar para outros países, através do Comintern. No rescaldo da I Guerra
Mundial, veio o Tratado de Versalhes, que puniu duramente a Alemanha, levando-a
a um nível de inflação jamais visto. No seu auge, era preciso um carrinho de
mão cheio de marcos, para comprar um simples pão. A República de Weimar
fracassou, devido ao ambiente caótico, abrindo caminho para a ascensão de
Hitler. E mais, o crack da Bolsa em 1929, e a Guerra Civil Espanhola, em 1936,
além, claro, do fascismo na Itália, levavam a indicadores apocalípticos para o
sistema democrático. Em retrospectiva, custa a crer que o mundo tenha
sobrevivido a tais situações.
2.A
FRANÇA EM 1940
O
fracasso dos franceses em conter a onda nazista, a blitzkrieg, em 1940, até
hoje impressiona os historiadores. Apesar de, no ano anterior, a potência da
máquina de guerra alemã ter sido demonstrada na Polônia, a França pouco fez
para se adaptar a uma guerra moderna. No caso da aviação, os caças teriam de
que ter motores no mínimo com potência de 1.000hp, sob pena de se tornarem
alvos para aviões de caça mais rápidos. Os motores dos caças franceses tinham
860hp, não sendo páreo para a Luftwaffe, com seus Messerschmitts, Junkers, e outros,
bem mais velozes, com motores fantásticos, de 1.700 e até 1.900hp! Entre
Setembro de 1939 e Maio de 1940, correspondendo mais ou menos ao inverno
europeu, houve o que se chamou de guerra falsa, os países estavam em guerra
apenas no papel, não havendo combates, portanto houve tempo suficiente para
adaptação, e nada foi feito.
Vejamos
o que nos diz Bill Gunston, na introdução de seu livro "Caças dos Aliados
da II Guerra Mundial":
"Durante
os anos 30, as empresas construtoras de aviões da França colocaram nos céus
cerca de 150 tipos diferentes de aviões militares. Muitos se destacaram pela
sua feiura, porém, a partir de 1935, os projetistas gauleses, criaram aparelhos
cada vez mais competitivos, que poderiam ser o alicerce de um poderio aéreo, e
que nem mesmo Hitler conseguiria desdenhar.
Infelizmente,
o moral da França era baixo. Em 1936, um governo de ala-esquerda, recém-eleito,
nacionalizou todas as indústrias de defesa, cortando ao meio todas as velhas
companhias, e formou gigantescos grupos, numa base puramente geográfica. Longe
de aumentar a produção, esta atitude provocou um caos, e excelentes projetos
que sobraram nas esfarrapadas firmas remanescentes tiveram as peças essenciais
negadas e sofreram atrasos de um ano ou mais. Até mesmo os projetos nacionalizados
foram prejudicados por descontentes e sabotadores que aleijaram a produção, a
despeito dos esforços desesperados de uma minoria dedicada.
Outro
importante fator foi que os motores disponíveis eram quase impotentes para
tornar os caças franceses capacitados quando o duro teste da guerra começou. A
Lorraine e a Farman realmente desistiram. A Hispano-Suiza tinha um V-12,
basicamente bom, o qual, em 1935, foi testado com 860hp e, na II Guerra
Mundial, ele seria a base para mais de 100.000 motores fabricados na União
Soviética, alcançando até 1.650hp. Porém o único caça disponível em grande
quantidade na Armée de l'Air, em 1939, o M.S. 406, foi impotente com os 860hp,
de modo que, quando enfrentou o Bf 109E, foi abatido aos montes.
A
Gnome-Rhône, a partir de 1921, licenciada da Bristol, adquiriu uma licença da
companhia britânica de um Hércules de válvulas de manga, radial, de 1.375hp,
porém nunca o produziu para a guerra. Em vez disso tudo o que ela conseguiu
produzir foi um radial de alta compressão
para 1.000hp, que foi colocado no Bloch 151, basicamente excelente. A potência
foi simplesmente insuficiente, sendo uma das gratas recordações do Bloch a
quantidade de aparelhos que conseguiu retornar aos pedaços, mas de cabeça
erguida. A capacidade de um caça em absorver golpes é necessária, mas não é o
caminho para a vitória.
Excluídos
os excelentes protótipos dos engenheiros Vernisse e Galtier, do Arsenal de
l'Aéronautique, que não chegaram às esquadrilhas, o Dewoitine 520 foi
considerado o melhor caça francês da II Guerra Mundial. Ele possuia motor
Hispano V-12, de 910hp; era pequeno, leve e suficientemente ágil para ter bom
desempenho. Se os operários tivessem se "colocado em seus lugares" um
ano mais cedo, em 1938, os 109 da Luftwaffe não teriam obtido tanta facilidade
nos céus da França.
Nessas
circunstâncias, o desesperado governo francês, em 1938, voltou-se para o
mercado externo em busca de caças e fez encomendas maciças nos EUA.O Curtiss
Hawk 75 chegou às esquadrilhas em grande quantidade e quase conseguiu
igualar-se ao 109, a despeito de seu fraco desempenho em voo. No momento em que
as outras marcas de caças estavam encaixotadas para embarque, a França já havia
capitulado."
04/02/2007
Fonte:
Gunston, Bill."Caças dos Aliados da II
Guerra Mundial." Ed. Melhoramentos. Tradução da obra em inglês: AN
ILLUSTRATED GUIDE TO ALLIED FIGHTERS OF WORLD WAR II;1981, Salamander Books
Ltd.; Londres.
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