ANTIGAS PRAIAS DO LITORAL BRASILEIRO
POR ALUIZIO GOMES
A geomorfologia da faixa litorânea brasileira não foi
bem conhecida, senão até recentemente.Várias causas concorreram para
isso.Primeiro, o fator econômico. A geologia coloca prioridade em estudos que
dão retorno econômico, e não poderia ser diferente, porque alguém precisa
financiar as pesquisas, e destas evidentemente se espera resultado financeiro,
ou seja, retorno do investimento.Assim, áreas ricas em minérios são melhor
estudadas, como o Quadrilátero Ferrífero, bacias sedimentares onde se espera conter
petróleo, ou água subterrânea, etc.Portanto, o estudo geológico das praias
nunca teve uma prioridade marcante.Sem dúvida, há minérios nas praias, como as
areias monazíticas no Espírito Santo, e a ilmenita de Mataraca-PB, sendo
exceção para confirmar a regra.
Depois, temos a tardia instalação dos cursos de
geologia no Brasil, os quais só apareceram na segunda metade do século XX.Mas,
por falta de professores nativos, o Brasil importou mestres da Europa, os quais
trouxeram de lá seus modelos para processos de sedimentologia e paleogeografia.
Ora, a evolução paleogeográfica dos pares
Europa-América do Norte e África-América do Sul é totalmente diferente,
invalidando a aplicação desses modelos.No hemisfério boreal verifica-se a
importância de processos construtivos e destrutivos do movimento de ondas,
correntes marinhas, e ações fluviais em deltas e estuários.
Porém, no Brasil, aos poucos verificou-se a grande
importância de movimentos de transgressão e regressão do mar no Quaternário, como resultado de períodos
glaciais e interglaciais.Em Idades do Gelo, o mar recua, por acúmulo de água
nos pólos e geleiras.Inversamente, em períodos interglaciais, o mar recebe
enormes volumes de água, resultantes do degelo, fazendo com que o mar avance
sobre o continente.Seu avanço faz com que sedimentos arenosos vão se
depositando sob forma de praias.Quando o mar recua, este sedimentos ficam
expostos sob forma de terraços elevados, porque o mar já não mais os alcança.
Observam-se assim, no litoral Leste do Brasil dois
terraços, escalonados.Um mais elevado e
mais antigo, de idade pleistocênica,e outro mais baixo e mais recente, de idade
holocênica.Uma marcante diferença entre os dois, além das altitudes, é a
presença de carbonatos. Nos terraços antigos a lixiviação carreou argila,
matéria orgânica e finos para a base e decompôs os carbonatos, sob a ação ácida
da chuva. Nos terraços mais recentes, ainda existem carbonatos, e mesmo conchas
marinhas.
Como exemplo, temos a cidade do Recife, quase
completamente construída sobre a praia pleistocênica, porque a transgressão fez
o mar avançar até aos limites da futura cidade, construindo falésias na linha
Camaragibe, Dois Irmãos e Casa Amarela (Morro da Conceição, e outros).
21/11/2003
Artigo publicado no Jornal do Commercio em 27/02/2004
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