EROS,
FILOS E ÁGAPE
“Os
gregos estão falidos, mais uma vez, porém seu legado é imortal”
(Aluizio
Gomes)
Por
Karoly Vieira Jardim Ramos
Podemos
observar ao longo da história da humanidade, em busca de todas as formas de
arte, a busca sempre constante por expressar, definir, exaltar e até mesmo
compreender a este sentimento ou algo misterioso que se chama “Amor”.
Os
gregos utilizavam mais de uma terminologia para designar o amor, sendo três
muito importantes: Eros, Filos e Ágape.
EROS
Eros
é o termo que se traduz em amor erótico ou sexual, e é ao mesmo tempo um deus
no panteão grego. Esta divindade do amor foi mencionada na Teogonia de
Hesíodo,e este lhe atribuiu o papel unificador e coordenador dos elementos da
criação, sendo portanto definitivo no processo de passagem do Caos para o
Cosmos. Eros, ou Cupido, une em matrimônio o homem e a mulher, para que estes
dois possam completar-se um no outro, e consubstancializar o amor através da
união sexual. Este sentimento de amor erótico, no sentido mais transcendental
da palavra, só pode ser encontrado no leito nupcial dos esposos, por isso Eros
une os casais......
FILOS
Temos
ainda Filos, também quer dizer amor, porém em outra conotação, no conceito mais
de amizade, afinidade. Daí vem a palavra “filosofia”, “amor à sabedoria”.Esta
forma de amor deve estar presente também entre esposos, porque permite uma
relação de confiança, respeito e companheirismo. Eros é o sentimento que nos
leva a despir o corpo para o ser amado, enquanto Filos nos leva a despir a
alma, para que haja uma verdadeira comunhão. Este amor de amigos, no coração puro, se estende a todos os seres
da criação.
ÁGAPE
Já
Ágape é a expressão mais exaltada e sublime do amor.Foi sempre utilizado nos
textos cristãos como significação do amor de Deus, o amor desinteressado,
indistinto e incondicional. Esta forma de amor faz com que o ser humano vá
muito além de sua natureza inferior e busque divinizar-se. Faz-nos ver além dos defeitos alheios , conectando-nos assim com a
virtude de cada um. E ainda nos move a querer abandonar os nossos próprios
defeitos e imperfeições.
Como
descreve em I Corintos 13:
“O amor é sofredor, é
benigno;o amor não é invejoso;o amor não trata com leviandade, não se
ensoberbece.Não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se
irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor sempre foi a maior busca da consciência
humana , ainda que muitos nem o suspeitem.Todos dizem que buscam a felicidade,
mas felicidade é apenas outra palavra dizer amor. Alguns querem veementemente a
sabedoria. Hermes Trimegisto dizia: “Te dou amor, dentro do
qual está contido todo o summum da sabedoria” .Quando
uma pessoa é religiosa , ela busca encontrar a Deus: nas Sagrada Escrituras
Bíblicas está escrito que “Deus é amor”.
No fundo íntimo, cada ser humano sofre em
menor ou maior nível, porque dentro de si há muitos espaços vazios de amor,
espaços onde o que reina é exatamente a antítese desta força.
A
FORÇA DO AMOR
O
amor não é simplesmente um sentimento ou uma virtude humana, ele é a força
misteriosa que organiza a todo o universo, e o que faz tudo existir, e é até
mesmo o que dá verdadeiro sentido a tudo.É, nas palavras de um sábio, “a força
modeladora do Universo”.
Esta
força, divina em sua plenitude, se expressa no homem através das diferentes
virtudes, como caridade, humildade, pureza, honestidade, sinceridade,
altruísmo, etc. O gnosticismo nos ensina que tais virtudes se encontram
corrompidas, ou engarrafadas, dentro do que, em termos gnósticos chamamos de
“egos”, que são os opostos de tais virtudes, de modo que, praticamente, essas
virtudes não se manifestam em nosso íntimo em toda sua plenitude. Necessitamos
resgatá-las através de um árduo e heróico trabalho que a Gnosis, como
conhecimento dos mistérios da natureza humana nos propõe. Tais defeitos tornam
a nossa natureza psicológica egoísta, e
portanto incapaz de amar.
Esta
força maravilhosa, em qualquer das formas de expressão mencionadas pelos
antigos gregos, seja Eros, Filos, ou Ágape, não pode ser abarcada em sua forma
mais absoluta pelo ser humano em sua atual conjuntura psicológica, apenas
podemos sentir lampejos disso que se chama amor.É necessária uma verdadeira
regeneração e revalorização de nossa natureza
para que possamos realmente
encarnar o sentido de amar profundamente. Uma pequena chispa desprendida desta
pequena fogueira, quando capturada por
nós já nos faz sentir uma plenitude indescritível.
Quando
alguém sente algo do verdadeiro amor, nada lhe falta, nada lhe sobra. O amor
nos torna capazes de todos o sacrifícios
e martírios, de todos os heroísmos e atos de nobreza.Ele converte o feio
em belo, o velho em jovem, o triste em alegre.
O
amor, com sua ciência e infinita magia, transforma todas as coisas dando-lhes
sua verdadeira originalidade, que é o divino.Ele brota através dos destroços mortais para nos dar o sentir da eternidade. Surge como a estrela
da esperança na noite escura da humanidade para iluminar o nosso mundo
melancólico. O amor transforma o deserto da vida humana em um campo verdejante,
cheio de abundancia, fertilidade e inspiração.
Os
mestres da humanidade nos exortam ao amor.É melhor amar, nos dizem eles,que
acumular na cabeça muitas teorias que não nos conduzirão a lugar nenhum.O amor
é o caminho para o Monte Olimpo, onde se consegue a imortalidade.
Dizia
Hermes Trimegisto: “Os homens são Deuses mortais,e os Deuses, homens
imortais”.
Publicado
na Revista Gnosis, ed. 07 1º sem. 2012
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