sábado, 30 de setembro de 2017

TROTSKY NO BRASIL

POR QUE PALOCCI “ABRIU A BOCA” E ENTREGOU LULA E O PT
Autor anônimo

Antônio Palocci estudou Medicina na USP, em Ribeirão Preto, e fez parte do grupelho trotskista Libelu (Liberdade e Luta), que teve influência nos meios estudantis na década de 70. Suas "festas do cabide" ficaram conhecidíssimas entre a esquerda.

A Liberdade e Luta (Libelu) foi uma tendência do movimento estudantil brasileiro ligada ao trotskismo e ao jornal O Trabalho, que era editado, à época, pela Organização Socialista Internacionalista (OSI).

A Libelu foi dissolvida na primeira metade da década de 1980, com a integração de alguns de seus quadros ao Partido dos Trabalhadores (PT). A corrente "O Trabalho" do PT, seção brasileira da IV Internacional (1993) liderada por Markus Sokol, representa a continuação da estrutura da OSI na atualidade.

A Libelu teve centenas de militantes. Entre eles, estavam os políticos Luiz Gushiken, Markus Sokol, Tita Dias, o médico e deputado Antônio Palocci, os jornalistas Renata Rangel, Zé Américo, Cleusa Turra, Bernardo Ajzenberg, Paulo Moreira Leite, Caio Túlio Costa, Matinas Suzuki, Mário Sérgio Conti, Reinaldo Azevedo (ex-Convergência Socialista), Miriam Leitão, Laura Capriglione, Eugênio Bucci, Luis Favre, José Arbex Jr., Ricardo Melo e Josimar Melo, a arquiteta Clara Ant, os sociólogos Demétrio Magnoli, Glauco Arbix, Lúcia Pinheiro e o crítico de arte Rodrigo Naves.

Essa gente se distingue do pessoal do antigo POC gaúcho. Os trotskistas paulistas sempre menosprezaram os trotskistas gaúchos, acusados de serem membros da dissidência do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que efetivamente foram. Isso não impediu que o Foro de São Paulo fosse dirigido e tivesse como executivo principal, o trotskista gaúcho Marco Aurélio Garcia, o "Top Top".

Os trotskistas, autênticos revolucionários comunistas, resolveram ao final da década de 70, pela sua inclusão dentro do projeto do PT. Ou seja, renunciaram ao projeto de institucionalização político-partidária, porque reconheceram que não tinham chance na campo da chamada política de massas, devido à predominância da figura de Lula.

Subordinaram-se, então, porque o PT, desde o começo, admitiu a existência de tendências em seu interior. Subordinaram-se mas, entre eles, jamais deixaram de considerar Lula apenas um pelegão sindical, um "contrarrevolucionário", em resumo, um corrupto, que somente se aproveitava da ascendência sobre a classe operária para seu benefício próprio.

Os comunistas trotskistas continuaram se considerando, desde sempre, os únicos e autênticos representantes dos interesses do proletariado. A figura de Lula atrapalhou a ascensão dos comunistas. Agora, esses comunistas trotskistas vêm o momento de colocar a pá de cal no lulismo e no próprio PT. Portanto, não é de estranhar que isso ocorra por meio de Antônio Palocci, um de seus quadros. Ele enterra definitivamente as imagens públicas de Lula, do PT e do lulismo.

Os comunistas trotskistas fazem isso imaginando que as esquerdas precisarão se recompor no pós-Lava Jato, reinventar seu discurso, reorganizar-se, e imaginam que o papel da liderança do movimento revolucionário, desta vez, ficará em seus braços.

É isso que explica a dedada geral aplicada por Palocci em seu depoimento ao juiz federal Sérgio Moro o qual, com absoluta certeza, não tem a menor ideia do que se passa debaixo de seu nariz, porque não conhece a história político-ideológica das esquerdas no Brasil. Também explica a manutenção do silêncio da parte de indivíduos como José Dirceu, porque este é de outra extração, é um comunista ortodoxo, formado e treinado pela inteligência e contrainformação de Cuba.


Palocci, não, é um festeiro da Libelu. Certamente, um sujeito também sem a fibra revolucionária da ortodoxia de um José Dirceu. As esquerdas terão um feroz embate interno de novo no Brasil. Agora com um problema maior, porque todos os seus grandes quadros já ultrapassaram ou estão por ultrapassar a barreira dos 70 anos de idade.

domingo, 5 de março de 2017

PRIVATARIA?


(ARTIGO QUE CIRCULOU NA INTERNET)

RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA OI TELECOMUNICAÇÕES:
PRIVATARIA DOS TUCANOS OU FALÊNCIA DAS GRANDES CAMPEÃS DO PT?
(26/02/2017)

1.    INTRODUÇÃO.

A OI TELECOMUNICAÇÕES é fruto da privatização da antiga TELEBRÁS, ocorrido em 1998 durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

Naquele ano a TELEBRÁS foi privatizada e desmembrada em 12 empresas de telefonia e uma delas, a TELENORTE LESTE, virou TELEMAR que hoje tem o nome de OI TELECOMUNICAÇÕES.

Em Junho de 2016 a OI entrou com um pedido de Recuperação Judicial de sua dívida de R$ 65,4 bilhões na 7ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e o valor dessa dívida corresponde aproximadamente ao dobro do valor de mercado de toda a empresa.

Nessa Recuperação Judicial já concedida pela justiça, os bancos brasileiros acumulam créditos de R$ 16,8 bilhões sendo que os principais credores da Oi são, pela ordem, BNDES, BB, Bradesco e Banco Itaú. Já a ANATEL tem mais de 11 bilhões de reais a receber referentes a multas aplicadas.

Enquanto vigora a recuperação judicial o atendimento aos clientes não deve ser interrompido.

Segundo os políticos do PSDB o pedido de Recuperação Judicial é consequência direta da política desastrosa dos governos Lula e Dilma que escolheram a OI como a “empresa campeã” para liderar o capitalismo brasileiro no ramo de telefonia. Assim o fracasso da OI deve ser debitado ao modelo de “empresa campeã” que inviabilizou a maior parte das organizações que seguiram esse figurino.

Para os políticos do PT a crise da “Oi Telecomunicações” prova que a privatização não compensa e que a essa política defendida pelo PSDB faz com que, no fim das contas, todos os brasileiros paguem conta. Ou seja, a crise da Oi seria a prova cabal de que a privatização não é a solução para garantir o acesso universal e de qualidade aos serviços que deveriam ser de responsabilidade do Estado brasileiro.

Assim, existem duas interpretações diametralmente opostas para o mesmo fato: a recuperação judicial da Oi.

Por isso, é necessário analisar bem essa questão, para ter os elementos indispensáveis à avaliação de qual das duas versões está mais próxima da verdade. É o que será feito a partir de agora.

2.    A POLÍTICA DO PT - DAS EMPRESAS CAMPEÃS.

A política de criação de “empresas campeãs” foi sugerida ao presidente Lula por Guido Mantega, Ministro da Fazenda, e Luciano Coutinho então presidente do BNDES, inspirados na Coréia do Sul que nas décadas de 1960 a 1990 incentivou a consolidação de grandes empresas nacionais para atuarem no mercado internacional, transformando-as em corporações transnacionais com atuação global, como a SAMSUNG, a LG e a HUYNDAI que são conglomerados gigantescos especializados na tecnologia da informação e na área automobilística. 

No Brasil, para combater a crise de 2008, o governo Lula escolheu um conjunto de empresas que na sua ótica tinha potencial para ganhar projeção internacional e que passaram a ser incentivadas através de:

1.  Financiamentos a juros subsidiados, principalmente do BNDES e do BB. Nesse sentido o Tesouro emitia títulos pagando, na média, juros de 14 a 15% ao ano e emprestava os valores captados ao BNDES a juros de 7,5% a.a. que, por sua vez, financiava as empresas campeãs com juros menores do que os do mercado, sendo comuns financiamentos com juros inferiores a 14 e 15% a.a.;

2.Compra das ações das empresas campeãs por fundos de pensões de empresas estatais e/ou pelo BNDESPar que é o braço do BNDES responsável pela aquisição de participações acionárias. Dessa forma ocorreram capitalizações dessas empresas, transferindo partes dos controles acionários para o Estado.

Muitas vezes as ações desses fundos de pensão somadas as ações do BNDES/BNDESPar totalizaram mais de 50% do capital social das empresas campeãs de sorte que na prática essas aquisições de ações eram estatizações travestidas de financiamentos; e

3. Garantias bancárias para a aquisição de ativos ou para a compra de outras empresas, visando à ampliação do tamanho da empresa campeã, tornando-a competitiva no nível mundial.

Assim foram escolhidas como empresas campeãs algumas poucas que deram certo como a FIBRIA que é a maior empresa de celulose do mundo e uma grande exportadora dessa matéria-prima, a J&F/JBS que se tornou líder global no mercado de carnes e a FBT (antiga Brasil Foods) que resultou da união entre a Sadia e a Perdigão e que hoje é uma das maiores companhias do mundo no ramo de alimentos.

Muitas outras campeãs tiveram performances muito abaixo do esperado como:
1.    Grupo X (EBX, OGX, LLX e MMX) de Eike Batista que estão em estado pré-falimentar porque não estão conseguindo cumprir o acordo judicial firmado na justiça.
2.    Lácteo LBR dona da marca Parmalat que solicitou recuperação judicial em 2013.
3.    Estaleiro Sete Brasil instalado em Suape que foi anunciado como o maior fabricante do mundo no mercado de sondas de águas profundas (pré-sal), mas que reconheceu em 2016 que acumulava o prejuízo de 19,3 bilhões de reais e solicitou recuperação judicial.
4.    Grupo Marfrig que já era um conglomerado global na área de alimentos e que se tornou um megagrupo com a aquisição em 2010 da Seara uma das principais produtoras do mundo de carne, ave e suíno. Só que dois anos depois a Marfrig pressionada por suas dívidas foi obrigada a se desfazer da Seara, vendendo-a para a JBS.
5.    Oi Telecomunicações que conseguiu a recuperação judicial em Dezembro/2016.
6.    Grupo Bertin que também foi absorvido pela JBS.
7.    A fusão do Carrefour e o Pão de Açúcar com dinheiro do BNDES, defendida por Abílio Diniz, que não prosperou.

Como essas empresas campeãs tinham financiamentos fáceis, em geral as suas dívidas são impagáveis e gigantescas. Por isso os acordos judiciais da Oi, da Sete Brasil e do Grupo X envolvem os três maiores passivos supervisionados pela justiça brasileira.

A primeira dificuldade desse modelo de gestão é que frequentemente existem conflitos de interesses entre os acionistas, representados pelos fundos de pensão e os controladores das “empresas campeãs”, dificultando tomadas rápidas de decisões estratégicas, indispensáveis ao progresso das corporações.

O segundo obstáculo é que os acionistas nem sempre estão dispostos ou tem disponibilidades, ao mesmo tempo, de aportar recursos para os investimentos necessários à evolução da empresa campeã.

O terceiro erro da política de ”campeãs nacionais” foi não ter focado em setores estratégicos, mas sim em empresas que mantinham boas relações com o governo federal.  

A última inconveniência desse modelo político/econômico adotado pelo PT, é que muitas das empresas campeãs tiveram comportamentos “não republicanos” e estão envolvidas com a corrupção e a Lava Jato. São exemplos: Eike Batista principal acionista das empresas X está preso; Joesley Batista controlador do grupo J&F/JBS já teve a sua casa vasculhada por agentes da polícia federal em obediência às ordens do Juiz Sérgio Mouro; João Carlos M. Ferraz ex-presidente da Sete da Brasil fez acordo de delação premiada com a “Lava Jato” e contou em detalhes como o esquema de corrupção da Petrobrás foi replicado durante a sua gestão na empresa de sondas; o relatório n° 610/2016 da Polícia Federal demonstrou através de mais de 30 documentos periciados que o grupo Bertin participou e custeou parcialmente as obras do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), sitio esse que a operação “Lava Jato” afirma pertencer ao ex-presidente Lula.

Esse acúmulo de problemas fez com que quase todas as empresas campeãs acumulassem dívidas acima do razoável.

Para administrar essas dividas algumas empresas partiram para recuperações judiciais, outras diminuíram as suas atividades e diferentes companhias optaram por venderem as ações dos controladores, trocando seus controles acionários.

Assim, só uma em cada cinco empresas campeãs deu certo e atingiu os objetivos esperados pelo governo federal.

3.    A POLÍTICA DE PRIVATIZAÇÃO DO PSDB: O CASO TELEBRÁS.   
 
Já foi explicado em reflexões anteriores que a TELEBRAS -Telecomunicações Brasileira S/A era uma sociedade de economia mista constituída em 1972 e uma holding formada por 27 operadoras estaduais de telefonia (em Pernambuco a operadora era a TELPE- Telecomunicações de Pernambuco), todas com presidente, diretores e dezenas de assessores, além de funcionários. Ela foi criada para dotar o Brasil de uma malha densa de telefones e uma rede de comunicação interligada, porém em 1977 só existia no Brasil a telefonia fixa e dezessete milhões de telefones para uma população de 113,5 milhões de habitantes, o que significa 1 linha telefônica para cada 6,6 brasileiros. No dia da privatização havia apenas 5,2 milhões de aparelhos celulares em atividade no Brasil.

Conseguir uma linha de telefone naquela época era um sofrimento e a instalação do telefone em uma residência ou em um escritório demorava de 2 a 5 anos. As linhas telefônicas eram tão valorizadas que constavam nas declarações de imposto de renda dos proprietários como ativos. Por outro lado existiam empresas especializadas na venda ou no aluguel dessas linhas telefônicas. As ligações internacionais eram feitas pela Embratel e levavam horas para serem efetuadas, sendo, quase sempre, de péssima qualidade. Não existia TV a cabo e os programas de televisão distribuídos para todo país eram raros, predominando as programações locais.

Como a modernização das comunicações era indispensável para o crescimento do Brasil e o governo federal não dispunha dos recursos para os investimentos necessários para essa modernização, o presidente Fernando Henrique Cardoso resolveu privatizar a Telebrás e para isso inicialmente mudou a legislação do setor e, em 1998, realizou doze leilões consecutivos e em um mesmo dia na bolsa de valores do Rio de Janeiro, sendo que a Telebrás foi desmembrada em 8 operadoras de telefonia móvel, 3 de telefonia fixa e uma de longa distância.

Entre os 12 lotes leiloados, um foi a Tele Centro Sul que abrangeu as empresas estaduais de telefonia e as redes de comunicações do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul etc, que foi arrematado pelo consórcio Brasil Telecom. Outro foi a Tele Norte Leste englobando as empresas e as redes de comunicação dos estados do Rio de janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará etc, que foi adquirido pela empresa Telemar.

Essa privatização apurou R$ 22 bilhões a preços de 1988 pelos 20% das ações que a União detinha na Telebrás, sendo considerada naquela época a maior privatização do mundo.

Nos anos imediatamente posteriores à privatização, as empresas privadas resultantes da venda da Telebrás investiram mais de 100 bilhões de reais e a partir daí passaram a investir cerca de 30 bilhões de reais/ano, sendo R$ 29,9 bilhões em 2015, 31,6 BR$ em 2014 e 31,4 bilhões de reais em 2013. Com isso em 31/12/2015, de acordo com os dados das operadoras: 97,1% dos domicílios do país tinham TV, 93,3% dispunham de telefones fixos ou celulares e 40,5% tinham computadores interligados com a Internet. Além disso, nessa última data, existiam no Brasil 43,7 milhões de telefones fixos e 257,8 milhões de telefones móveis, 19,1 milhões de  Tvs por assinatura e 25,5 milhões de ligações em banda larga.

O sistema telefônico, portanto, se modernizou e se universalizou, existindo hoje: 1,4 telefones para cada brasileiro vivo.

No fim do ano de 2015 estavam em funcionamento no Brasil mais de 30 empresas privadas no ramo das telecomunicações, entre elas as maiores eram a America Móvil (Claro, Net, Embratel), a espanhola Telefônica ( Vivo incluindo a antiga GVT) e a Italiana Telecon Itália (Tim) que são empresas de mega-porte.

 A receita bruta de todas as empresas do setor, no ano de 2015, foi de R$ 232,1 bilhões, atingindo 4% do PIB do país.

A principal acusação contra a privatização da Telebrás é a de que o governo teria privatizado essa empresa por “preço de banana”, mas a União vendeu a sua participação acionária de 20% na Telebrás por 22 bilhões de reais, equivalentes em Julho de 1998 a US$ 19 bilhões, e segundo Rodrigo Constantino cinco anos depois da privatização todas as empresas resultantes dessa privatização valiam apenas 5,6 bilhões de dólares.

É óbvio que com o tempo as empresas originadas da Telebrás se valorizaram e hoje elas valem muito mais do que os dezenove bilhões de dólares aplicados nas aquisições. Mas em compensação as sucessoras da Telebrás recolhem anualmente cerca de 40 bilhões de reais de impostos, têm 390,9 mil empregados contra 20 mil trabalhadores na época da privatização, os serviços melhoraram de forma absurda e em Julho de 1988 a classe de baixa renda não tinha um único telefone disponível e hoje são proprietários de mais de 100 milhões de linhas telefônicas móveis e/ou fixas.

E se tudo isso não bastasse é preciso acrescentar que a Telebrás continua a existir, agora com a incumbência de fornecer banda larga barata em 608 municípios e de proteger as comunicações do Estado. Só em 2014 o prejuízo dessa estatal foi de R$ 117,3 milhões e, além disso, o tesouro Nacional investiu nesse ano 725 milhões de reais em um satélite para atender as necessidades da Telebrás, satélite esse que teve o preço final orçado em 5 bilhões de reais.

Esse conjunto de dados positivos permite concluir que a privatização da Telebrás foi um sucesso mesmo porque a Oi foi à única empresa resultante da privatização atingida pelo instituto da recuperação judicial.

4.    O CASO DA OI TELECOMUNICAÇÕES.  
 Em 1998 na época da privatização da Telebrás investidores e empresas de telefonias estrangeiras se organizaram em diferentes consórcios para poder arrematar os 12 lotes colocados em leilão, já que pelas regras da privatização (Lei das privatizações) cada consórcio só podia adquirir um único lote e não podia vender o lote adquirido para outra empresa vencedora que tivesse comprado anteriormente algum lote.
Estimulados pelo governo federal fundos de pensão e empresas públicas juntaram-se aos investidores para participarem desse processo licitatório.
 O leilão do lote abrangendo a Tele Norte Leste só tinha um pretendente que era o consórcio liderado pelo banco Opportunity e a Telecom Itália. Preocupado com a falta de disputa, o governo FHC estimulou a formação de um segundo consórcio formado pela Andrade Gutierrez, Inepar, fundos de pensão e segurados do Banco do Brasil. Inesperadamente, o primeiro consórcio não pode competir nesse leilão da Tele Norte Leste porque tinha adquirido um lote anterior (o da Tele Centro Sul) e, com isso, o segundo consórcio liderado pela Andrade Gutierrez arrematou a Tele Norte Leste que passou a se chamar Telemar.
 A falta no consórcio da Telemar de uma operadora experiente na área de telefonia gerou um forte mal estar no governo FHC, culminando com a demissão de dois auxiliares próximos de Fernando Henrique Cardoso: Pérsio Arida um dos pais do plano real e Luis Carlos Mendonça de Barros Ministro das Comunicações.

Mesmo assim a Telemar passou a operar as linhas telefônicas da Tele Norte Leste e depois da eleição do presidente Luis Inácio Lula da Silva os seus executivos e controladores aproximaram-se do governo do PT e:

1. Em 2005 a Telemar comprou 35% do capital social da “Gamecorp”, empresa do filho de Lula, por 5 milhões de dólares.

2. Em 2006 a Andrade Gutierrez, acionista majoritário da Telemar, foi o maior doador da campanha para a reeleição do presidente Lula.

3. Em 2006 a Gamecorp faturou R$ 7 milhões, sendo 4,9 milhões de reais de anúncios da Telemar e o restante de propagandas da Gradiente;

4. Em 2008 o presidente Lula na intenção de criar uma nova empresa campeã, mudou parte da Lei Geral da privatização em apenas 27 dias. Nessa modificação foi retirada do texto original a proibição da aquisição de uma concessionária por outra concessionária.

Dessa forma, foi formalizada a compra da Brasil Telecom do banco Opportunity e da Telecom Itália pela Telemar controlada pela Andrade Gutierrez e pela família Jerissati, sendo que a OI foi fruto dessa fusão.

Surgiu daí a “supertele nacional” com atuação em todos os estados do Brasil, à exceção de São Paulo;

5. Em 2009 a criação desta “supertele nacional” foi formalizada e essa formalização gerou muitas criticas porque para a sua realização faltava  lei obrigando o governo Lula a alterar dispositivos tratados nas regras de outorga, e faltava dinheiro no consórcio  que foi resolvido com os empréstimos de R$ 2,6 bilhões pelo BNDES, de 4,3 bilhões de reais pelo Banco do Brasil e pela aquisição de ações da nova empresa (Oi) onde o estado passou a ter 49% do seu capital .

 Ocorre que na visão governamental megalomaníaca isso ainda era pouco porque a “Oi campeã” precisava se transformar numa multinacional de língua portuguesa capaz de concorrer em outros continentes.

Para isso em 01.10.2010 depois da ida do ministro José Dirceu a Lisboa, a Portugal Telecom adquiriu 22,4% da Oi e passou a controlador dessa empresa, com o objetivo de expandir os negócios para toda a América Latina e África, anunciando em 02/10/2013 o início das operações em Portugal, Angola, Timor-Leste, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe.

Acontece que todas essas movimentações societárias foram feitas em cima de empresas com alto nível de endividamento e com baixo desempenho operacional.

Tanto é assim que quando a Telemar comprou a Brasil Telecom precisou de financiamentos bancados pela Claro, pelo Banco do Brasil e pelo BNDES e, além disso, incorporou R$ 6 bilhões de passivos da vendedora. Quando a Oi resolveu operar em São Paulo, para abranger todos os estados brasileiros, teve que montar uma nova rede de comunicações que custou mais de 2 bilhões de reais. Na fusão entre a Oi e a Portugal Telecom, dívidas de R$ 4,5 bilhões foram transferidas para a Oi.

Por tudo isso, as demonstrações financeiras publicadas pela Oi mostram crescimentos contínuos da sua dívida bruta que era de R$ 33 bilhões em 31.12.2014, passando para R$ 55 bilhões em 31.12.2015 e para R$ 65,4 bilhões no pedido de recuperação judicial em 2016. 

5.    CONCLUSÕES.

Diante do exposto conclui-se que o pedido judicial solicitado pela Oi deve ser debitado unicamente à falência da política implantada pelo PT que tinha como objetivo a criação “DAS GRANDES CAMPEÃS NACIONAIS”.

Essa recuperação judicial não pode ser imposta ao processo de privatização implantado em 1998 no Governo Federal de Fernando Henrique Cardoso por que:

•     A privatização da Telebrás deu-se em 1998 e o pedido judicial da Oi ocorreu em 2016, 19 anos depois. Só esse fato longevo impede a correlação direta da privatização com a derrocada da Oi;

•     Até 2008 a Telemar operou naturalmente gerando receitas operacionais e dívidas controladas. Tanto é assim que ela foi escolhida pelo Governo Lula para ser a nossa “Supertele” dentro do projeto de formação das empresas campeãs;

•     A aquisição da Brasil Telecom pela Telemar, formando a Oi, só foi possível porque o Governo Federal mudou a Lei das privatizações (Lei 9.491/1997) aprovada em 1997, uma vez que as regras da privatização do governo FHC proibiam que uma concessionária de rede telefônica fixa comprasse outra concessionária que operasse nesse mesmo setor, e isso passou a ser permitido com a mudança na Lei das Outorgas patrocinada pelo PT, desvirtuando completamente o projeto original.

Essa fusão foi o início do processo de quebra da Oi;

•     Entre 2008 e 2016, cada grande movimento em busca da consolidação da Oi como empresa campeã resultou no aumento do seu passivo. Isso aconteceu na compra da Brasil Telecom pela Telemar que implicou em empréstimos e na absorção de dívidas da vendedora. Continuou na implantação da malha telefônica da Oi em São Paulo que demandou investimentos de 2 bilhões de reais. E prosseguiu na fusão da Oi com a Portugal Telecom que trouxe novos encargos para a Oi que herdou mais de R$ 6 bilhões de dividas dessa nova sócia;

•     As multas da Oi contabilizadas pela ANATEL, de 11 bilhões de reais, referem-se, na sua quase totalidade, a infrações cometidas nos últimos oito anos quando já estava em curso o projeto da supertele;

•     O processo de privatização implantado por FHC foi um sucesso absoluto e a Oi seria à primeira empresa privatizada que foi à lona.

Por incrível que pareça o pedido de recuperação judicial da Oi gerou uma euforia nos setores engajados com os partidos de esquerda que trataram imediatamente de:
Publicar a matéria “Crise da Oi: falácia de privatização” pelo blog Carta Maior.
Divulgar a manchete “A quebra da Oi revela a falência da Privataria” no blog Brasil 247.
A Rede Brasil divulgou o artigo “Crise da Oi escancara a falácia da privatização”.
O repórter Luis Nassif apresentou a reportagem  “A política de campeões nacionais não explica o fracasso da Oi”;
O blog  franciscocastro.com apresentou o artigo “A quebra da empresa Oi mostra o fracasso das privatizações no Governo do PSDB”.

Só que essa derrocada deve-se a interferências políticas e econômicas muito posteriores à privatização, devendo ser creditada principalmente ao projeto da criação das grandes campeãs nacionais;
 
Diante de tudo o que foi exposto nesse texto chega-se facilmente à conclusão de que:

A QUEBRA DA OI É MAIS UMA EVIDÊNCIA DA FALÊNCIA DA POLÍTICA DO PT DE CRIAR GRANDES CAMPEÃS NACIONAIS.







quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

MALDIÇÃO

A MALDIÇÃO DO PETRÓLEO

Por Denis Russo Burgierman
Publicado em www.abril.com.br em 2008


O presidente Lula comemorou a imensa descoberta de petróleo ano passado dizendo que “Deus é brasileiro”. Antes de celebrar, talvez ele devesse ouvir a opinião do venezuelano Juan Pablo Pérez Alfonso (1903-1979), fundador da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Para ele, petróleo não é indício da mão de Deus, mas sim do intestino do demo. Juan Pablo costumava dizer que petróleo é o "excremento do diabo".

Ele sabia do que estava falando, já que viu sua Venezuela erodir suas instituições democráticas e se perder em corrupção. É assim na maioria dos grandes exportadores de petróleo. Quase todos são ditaduras intermináveis, como o Iraque de Saddam e a monarquia saudita. Eles crescem menos que seus vizinhos sem petróleo e seus problemas sociais levam mais tempo para ser resolvidos. Vários são países devastados por guerras civis. Mesmo as democracias do óleo tendem a ser pouco democráticas. Veja o México, onde um mesmo partido, o PRI, ficou no poder por mais de 70 anos. Dos 20 maiores exportadores de petróleo do mundo, 16 são ditaduras. E outros dois – México e Venezuela – são democracias com instituições fracas. A maioria está nos últimos lugares do mundo em desenvolvimento humano, e entre os primeiros em desigualdade e endividamento. É nesse clube que o Brasil está prestes a entrar. Será que devíamos mesmo estar comemorando? E será que tem algum jeito de escapar da “maldição do petróleo”?

Por que petróleo faz tão mal? Como é que uma das mercadorias mais valorizadas do mundo pode gerar pobreza, guerra e autoritarismo? Nos últimos anos, economistas e cientistas políticos encontraram uma série de explicações.

A primeira: petróleo enfraquece a economia. Ele custa tão caro que uma cachoeira de dólares entra no país. Com muitos dólares em caixa, a moeda nacional se valoriza. Resultado, fica barato importar produtos estrangeiros e caro produzir – aí a indústria nacional definha. Só que o preço do petróleo é uma montanha-russa. Em 1990, o barril custava mais de US$ 40. Meses depois, caiu para menos de US$ 20. Enquanto este texto era escrito, um barril custava US$ 135. Essas altas e baixas destroem qualquer um. O preço sobe, o país se alaga de dólares e as indústrias fecham. O preço cai, secam os dólares, o país se endivida e não tem indústria para ajudar.

A segunda: petróleo distancia os políticos do povo. A maioria dos grandes exportadores de petróleo nem cobra impostos da população. Não precisam. Têm dólar sobrando. Os governos não prestam contas a ninguém, roubam descaradamente, torram dinheiro público e a sociedade civil é fraca, desestruturada.

A terceira: petróleo torna a política mais burra. A maioria dos países exportadores não tem um projeto de desenvolvimento, apenas grupos rivais brigando pelo poder – e pelo acesso ao poço de dinheiro. Quando chegam lá, gastam que nem loucos, sem planejamento, para não deixar nada para os rivais.

Quer dizer então que nos ferramos? Não. Num certo sentido, o Brasil deu sorte de virar exportador justo agora, quando estudiosos estão desvendando os mecanismos da maldição e inventando antídotos. Outra sorte é que o nosso petróleo está enterrado bem fundo, e vai demorar para começar a jorrar. Ou seja, dá tempo de nos prepararmos. Só que devemos trabalhar já, antes de o petróleo começar a ser vendido. Veja o que precisamos fazer:

1. Ter um projeto de país. Está na hora de governo, oposição e sociedade civil discutirem que tipo de país nós queremos. Claro que não vamos concordar em tudo, mas dá para alcançar alguns consensos. Por exemplo: o de que precisamos de educação básica decente, de infra-estrutura, de um sistema de saúde, de pesquisa científica, de proteção ao ambiente. O papel da imprensa é discutir essas questões e informar a sociedade, para que todo mundo possa participar. Com todo mundo de acordo com esse projeto, podemos planejar a longo prazo o uso do dinheiro do óleo – e cada governo novo tem a obrigação de continuar o que o anterior começou.

2. Proteger a economia. Quando o dinheiro vier, nos encheremos de dólares. Precisamos evitar que essa dinheirama inunde a economia e supervalorize o real. O ideal é colocar tudo numa conta separada, que precisa ser vigiada de perto pela oposição e pela sociedade civil, para que ninguém tire dela mais do que o permitido. O governo só pode sacar até um certo limite, e deixar o resto guardadinho para os nossos netos. Se o preço do petróleo cair, pode sacar um pouquinho mais para evitar depressão na economia. Se subir, é hora de guardar para tempos bicudos. E tudo o que o governo sacar tem que ser usado para colocar em prática o projeto de país descrito no item 1. Nada de aumentar a gastança do governo.

3. Transparência. O único jeito de evitarmos que surrupiem a grana é abrirmos todas as janelas. Precisamos que cada funcionário do governo tenha obrigação de prestar contas do que faz. Precisamos de organizações independentes destinadas a investigar gastos públicos. Precisamos de uma imprensa menos gritona e mais vigilante e racional. Precisamos que cada órgão do governo tenha como uma de suas funções fiscalizar um outro órgão do governo. Precisamos que o orçamento seja claro, transparente e público. O saldo da conta do dinheiro do petróleo, por exemplo, tem que poder ser acessado online por qualquer brasileiro.


Se fizermos tudo isso, o petróleo não só deixará de ser uma maldição como resolverá a maioria dos problemas do Brasil. Está aí a Noruega, 3a exportadora de petróleo e 2o maior índice de desenvolvimento humano do mundo, para provar que é possível. Mas, se não fizermos a lição de casa… Hm, a coisa vai feder.

AK-47


HISTÓRIA DA SUB-METRALHADORA AK-47

Por Larry Kahaner
Artigo publicado no WashingtonPost em 26/11/2006

Na história da Segunda Guerra Mundial, a batalha de Bryansk é um conflito de pouca importância, mal merecendo uma nota de rodapé. Contudo, Bryansk tem outro lugar na história. Foi ali que um então desconhecido comandante de tanque, chamado Mikhail Kalashnikov, decidiu que seus camaradas jamais seriam derrotados outra vez. Nos anos seguintes à Grande Guerra Patriótica, como os propagandistas soviéticos chamam aquela guerra, ele projetou e fabricou uma arma  simples e ao mesmo tempo revolucionária, a qual mudaria a maneira como as guerras seriam travadas e vencidas. Foi o rifle de assalto AK-47.
O rifle automático (submetralhadora) AK-47 tornou-se a arma mais prolífica e efetiva do mundo, um artigo tão simples e barato que poderia ser vendido em muitos paises pelo preço de uma galinha.Gravada na bandeira e nas moedas de vários paises, agitada por guerrilheiros e rebeldes em todos os lugares, este rifle é responsável por 250 mil mortes anuais.É a arma portátil padrão de no mínimo uns 50 exércitos regulares e incontáveis milícias, da África, Oriente Médio, América Central, e até mesmo Los Angeles.O rifle tornou-se um ícone cultural, a forma característica de seu pente de balas, em forma de uma banana, instilando em nossa consciência os contornos de uma arma mortífera.
Nesta semana, a presença militar no Iraque suplantará o tempo que as forças americanas estiveram engajadas na Segunda Guerra Mundial.E o AK-47 para sempre fará um elo entre os dois conflitos. A própria história do rifle, desde a batalha de Bryansk até a sangrenta insurgência no Iraque, é também a história da transformação da moderna arte da guerra.O AK-47 implodiu velhas concepções militares de superioridade em armamento, de táticas e estratégias, de quem poderia ser um soldado e, principalmente, qual tecnologia triunfaria.
Ironicamente, a arma que selou a Segunda Guerra Mundial (a bomba atômica), abriu o caminho a ascensão do simples, porém mortífero, AK-47.A impossibilidade de um conflito nuclear generalizado levou as duas superpotências a travarem guerras por procuração em países subdesenvolvidos, envolvendo soldados mal treinados, geralmente armados com AK-47, arma barata, durável, e de fácil manutenção e manuseio. Ao findar uma guerra, mercadores de armas reuniam os rifles e os vendiam a combatentes em outro conflito a explodir. A disseminação da AK-47 explica o fato de que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tantas e tantas "pequenas guerras" demoraram muito mais do que o esperado. Na verdade, apesar dos bilhões e bilhões de dólares que Washington tem gasto em armamento sofisticado, o rifle russo permanece a mais devastadora arma do planeta, influenciando conflitos no Vietnam e outros lugares. Com esses rifles de assalto, combatentes podem dominar um país, aterrorizar cidadãos, se apossar dos espólios, e até mesmo manter superpotências afastadas.
Quando a Alemanha inventou a blitzkrieg, foi um evento marcante que alterou para sempre a forma de combater. Em vez de batalhas estáticas, entrincheiradas ou fortificadas, a blitzkrieg concentra forças num ponto determinado na linha defensiva inimiga, rompendo-a, e avançando célere por trás das linhas de defesa. Em outro ponto da linha, se faz a mesma coisa. Tem-se então duas garras de uma pinça, que ao se fecharem, podem engolfar um exército inteiro, obrigando-o a render-se. São as batalhas de cerco.
Em fins de Setembro de 1941, os alemães alcançaram os arredores de Bryansk, situada a sudoeste de Moscou. No embate, os nazistas destruíram cerca de 80% da cidade e mataram mais de 80.000 pessoas. Kalashnikov, na época com apenas 21 anos, foi ferido no ombro. Hospitalizado, sofreu muito a saber da chacina cometida pelos inimigos  contra seus camaradas. Ele ficou então obcecado em criar uma submetralhadora que poderia expulsar os alemães de sua pátria. Ainda na cama do hospital, ele rascunhou os primeiros desenhos de uma arma o mais simples possível. Saindo do hospital ele mesmo desenvolveu o protótipo de sua arma,posteriormente aprovada para fabricação em 1947.Era a  Avtomat Kalashnikova 1947.Ela combinava as melhores características de uma submetralhadora(leve e durável) e de uma metralhadora(poder de fogo).Em fins de 1949, as fábricas de armamentos já tinham produzido 80.000 AKs.
Embora a AK-47 tenha vindo tardiamente para agir na guerra mundial, os soviéticos sabiam que seu rifle de assalto poderia tornar-se a arma mais importante da era moderna, e eles se esforçaram para mantê-la oculta aos ocidentais. Os soldados soviéticos carregavam seus fuzis disfarçados em pochetes, para ocultar seu formato, e recolhiam os cartuchos usados, para evitar o conhecimento de seu calibre. Em 1956, a revolução na Hungria levou o líder soviético Nikita Krushchev a enviar o Exército Vermelho para Budapeste. O conflito requereu o primeiro uso em larga escala da AK-47, e ela fez um bom desempenho em luta urbana, quando tanques pesados ficavam presos em ruas estreitas e eram atacados com coquetéis Molotov pelos civis. Em fins dos anos 50,a União Soviética começou a usar a AK-47 para disseminar o comunismo. Nos primeiros anos da Guerra Fria, tanto Moscou como Washington tentaram conseguir favores de países neutros através de vendas e doações de armas. Comparada com os fuzis americanos M-1 e M-14, a AK-47 mostrou ser largamente superior. Sua robustez era apropriada para ambientes úmidos das selvas e sua simples estrutura permitiu fácil manutenção nas oficinas de países pobres.Finalmente a URSS distribuiu licenças gratuitas para paises "amigos", como Bulgária, China, Alemanha Oriental, Hungria, Coréia do Norte, Polônia e Iugoslávia. Enquanto isso, nos Estados Unidos, os especialistas em armamentos continuaram com a velha noção de batalha com o fuzil M-1.Este rifle teve ótimo desempenho na guerra mundial, a tal ponto que George Patton classificou-o como "o melhor implemento de batalha já produzido". Na verdade, o M-1 era pesadão, complicado, com seu pente cabendo apenas oito cartuchos, e não era uma arma automática.

VIETNAM
Só na Guerra do Vietnam os americanos se defrontaram com AK-47, e pagaram caro pela desatenção governamental em reconhecer o poder de fogo da arma russa. Um problema chave dos Estados Unidos no Vietnam envolveu o armamento básico. Apesar de sua tecnologia avançada, as Forças Armadas dos EUA não possuíam uma arma de infantaria que pudesse fazer frente a AK-47, no padrão bélico que emergia. Os confrontos muitas vezes se davam com patrulhas nas selvas, com ambos os lados lutando cara a cara, e o lado que pudesse disparar rajadas mais rápidas e consistentes levava vantagem. Só após muitos anos de discussão burocrática, os militares americanos produziram seu próprio rifle de assalto, o esbelto e sofisticado M-16.Mais de 100.000 deles foram encomendados no verão de 1966 e despachados para a zona de guerra. Já em Outubro daquele mesmo ano, relatos inesperados começaram a chegar. Os rifles estavam enguiçando em combate. Soldados ianques eram encontrados mortos, com os rifles travados, tentando consertar a pane. A moral da tropa caiu sensivelmente, ao constatarem que não podiam confiar na sua arma. Ao verificarem isto, os vietcongs tornaram-se encorajados. Ao verem o "rifle negro", como eles o chamavam, não ficavam mais amedrontados. Embora o Exército tentasse ocultar o fracasso, relatos chegaram ao Congresso por via dos pais das vítimas, assim como de soldados que se sentiam traídos. Um subcomitê parlamentar investigou o caso e ouviu relatos de soldados rotineiramente removendo AKs do inimigo abatido, e usando-as invés de seu próprio M-16. No fim, descobriu-se não haver nada de errado com o fuzil, o problema estava na munição. M-16 travava porque burocratas do Pentágono insistiram em mudar a composição do explosivo propelente: resíduos da combustão entupiam o mecanismo, após várias tiros disparados. Mas, quando o erro foi corrigido, foi tarde demais.AK-47 ficou mundialmente famosa como arma de infantaria mais avançada e confiável, aquele que podia até superar as melhores ofertas ocidentais. Era o produto low-tech comunista contra o high-tech capitalista, e a propaganda ganhou o mundo.

AFEGANISTÃO
Se a Guerra do Vietnam deu fama a AK-47, foi a invasão do Afeganistão pela URSS com o subsequente desmantelamento da União Soviética que acelerou a disseminação de AK-47, colocando esta arma nas mãos de insurgentes e terroristas, os quais consideravam agora a arma como um ícone anti-imperialista. Estrategicamente, no início a invasão do Afeganistão foi um sucesso. As baixas comunistas foram inferior a 70 soldados, a maioria relacionadas a acidentes, não a combates. Os planejadores acharam que o conflito duraria menos de 3 anos, um cronograma realista, considerando que os nativos não dispunham de armas modernas. Porém, tudo mudou quando a CIA começou a fornecer extensiva ajuda aos guerrilheiros via Paquistão, incluindo centenas de milhares de AK-47, de fabricação chinesa. A CIA preferia AK devido a seu baixo custo, confiabilidade  e farta disponibilidade.
 Apesar de desvios e corrupção, a CIA conseguiu manter os rebeldes bem abastecidos em suprimentos. Em meados dos anos 80, a guerra chegou a um impasse, já com 100.000 soldados no teatro, e o público russo descontente com um conflito impossível de ser vencido. Quando os últimos soldados soviéticos abandonaram o Afeganistão em 1989, a vasta infraestrutura de armamentos não desapareceu. Após uma década de operações, tinha se tornado uma parte entranhada na economia e na cultura do Afeganistão e países vizinhos.
ÁFRICA
Mesmo antes da retirada, a imprensa ocidental já tinha percebido o vasto arsenal de AKs na região, e o conceito de uma "cultura Kalashnikov" adentrou no léxico. No Paquistão, por exemplo, uma parte substancial da economia do país, incluindo gangs que roubavam e sequestravam, traficantes de drogas que seguiam rotas estabelecidas, e pequenos armeiros que compravam, consertavam  e revendiam, ou até fabricavam sua próprias versões, dependiam da sempre presente AK.A expansão aumentou com o colapso da União Soviética, e as repúblicas, que antes faziam parte do bloco, começaram a leiloar seus arsenais.AK-47 começou a ser vendida a preço de banana, invadindo agora a África. Libéria, Ruanda, Serra Leoa, Somália, onde quer que houvesse um conflito tribal, AK prolongou lutas que, provavelmente não teriam durado tanto sem ela. A arma tornou-se parte do cotidiano de africanos, a ponto ser chamada um cartão de crédito: "Não saia de casa sem ela".

AMÉRICA LATINA
Na América latina,AKs acabaram nas mãos dos cartéis de drogas e rebeldes guerrilheiros.Assim como a CIA despachou armas para o Afeganistão, ela fez o mesmo na Nicarágua, abastecendo os contras, que combatiam os sandinistas marxistas.AKs provocaram guerras civis em El Salvador assim como a violência das FARC na Colômbia.Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez recentemente anunciou a compra de 100.000 AKs dos arsenais russos.Ele também informou planos para fabricar a arma em seu país.
AL-QAEDA
Antes da invasão soviética, o Afeganistão era considerado um país muçulmano moderado, porém a guerra fortaleceu um ramo radical islâmico, alimentado pelas armas da guerra e pela economia devastada. Nas regiões montanhosas próximas à fronteira com o Paquistão, o milionário saudita Osama bin Laden deflagrou uma jihad, primeiro contra os russos, depois contra os americanos.
Já no Iraque, apesar de que o arsenal das grandes armas de Saddam Hussein terem sido destruidas: tanques e mísseis, sete a oito milhões de armas portáteis foram saqueadas, alimentando a insurgência subsequente.
CONCLUSÃO
Já com 85 anos, doente e quase surdo, Kalashnikov frequentemente se apavora com sua criação. "Eu gostaria de ter inventado um aparador de grama", afirmou ele ao The Guardian, em 2002.Em 2004, a revista Playboy considerou-a um dos "50 Produtos Que Mudaram o Mundo", além do desktop Macintosh da Apple, da pílula anticoncepcional e do Sony Betamax.
Mesmo assim, o inventor russo não recebe royalties por seu trabalho, e considera outros como culpados pela mortandade, dizendo: "Eu inventei uma arma para defender a pátria, não me arrependo ou me responsabilizo se outros fizeram mal uso dela"

larry@kahaner.com


Larry Kahaner é o autor do livro "AK-47: The Weapon That Changed the Face of War"

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

DEU ZEBRA

OS MANÉS DO RUST BELT

Aluizio Gomes

  1.  ESTATÍSTICA
Primeiro, vamos aos números:
ESTADOS UNIDOS
Área: 9,8 milhões de km2.
População: 324 milhões
Eleitores: 231 milhões
Votaram no dia 8 de Novembro: 131,7 milhões
Abstenção: 43,1%
PIB: 18,5 Trilhões de dólares.
Renda per capita: 57.220 dólares.

2.QUEM VOTOU EM QUEM.
Examinando-se o mapa eleitoral do país, condado por condado, observa-se que Hillary ganhou maciçamente nos grandes centros urbanos e perdeu feio nas áreas rurais.
Ganhou no voto popular, mas perdeu no voto do colégio eleitoral.
Por outro lado, é um padrão político estabelecido, que muitos estados votam sempre nos republicanos (“red states”) , enquanto outros estados votam nos democratas (“blue states”). Neste padrão é clara a distinção de estados mais urbanizados e outros mais rurais.
O bicho pega quando há uma terceira categoria: os chamados “swing states”, que ora viram para um lado e ora viram para o outro.
Mas um “blue state” votar em Trump, isto sim, foi uma surpresa, e foram estes que viraram o jogo.
Então precisamos saber o que aconteceu naquele pedação do país, conhecido como “Rust Belt”, e que possui grandes jazidas de carvão.
Os estados de Wisconsin e Pensilvânia, cotados como blue states, e que, juntos possuem no total de 30 votos eleitorais, levaram seus votos para Trump.
Não vou repetir aqui o que falei no artigo anterior, sobre distopia, mas, para continuar, Trump prometeu aos metalúrgicos e mineiros desempregados, que iria reabrir as fábricas de automóveis e também as minas de carvão.
Isto vai contra todas as tendências mundiais, tanto de globalização como de meio ambiente. Isto é, acabou aquela era de prosperidade no Rust Belt, devido aos acordos comerciais, e devido aos novos controles de emissão de carbono na atmosfera.
Os perdedores sonham em voltar o tempo, e Trump, enganou-os, caso típico de estelionato eleitoral.
Nós já vimos este filme antes, aqui mesmo no Brasil.
Mas, os manés do Rust Belt pensam ser possível extrair carvão, poluente e antieconômico, e construir automóvel com metalúrgico ganhando 30 dólares por hora.
Que racistas e supremacistas, brancos, louros, votem em Trump, entende-se, mas é coisa de mané mesmo acreditar nas lorotas econômicas de Trump.

Recife, 18 de Novembro de 2016.


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

DISTOPIA

O QUE É DISTOPIA

Aluizio Gomes

Distopia é o antônimo de utopia. A palavra é usada para caracterizar pessoas ou posições avessas à globalização, à modernidade, e suas consequências na vida das pessoas.
A civilização avança com novos conceitos, métodos, ideias, enfim, coisas que deixam para trás antigas práticas, para o bem ou para o mal.
Temos inúmeros exemplos. Após a descoberta do DNA, e o advento da capacidade do homem em interferir na composição genética, houve muita reação de setores conservadores que clamam consequências danosas ao meio ambiente.
Nos Estados Unidos temos um grupo denominado Amish que não aceita a modernidade, anda de carroças a cavalo, não usa telefone, nem Internet, etc.
A globalização veio para ficar, devido a comunicações mais rápidas e econômicas, em todos os setores. Na década de 50, no Brasil, os campeonatos de futebol eram exclusivamente estaduais, mas hoje temos campeonatos interestaduais, possíveis devido às viagens de avião e a interligação nacional da TV.
Percebendo a facilidade de comunicação internacional, o empresariado começou a aproveitar vantagens competitivas, de modo a se melhor posicionar no mercado. Isto levou ao barateamento do produto final, uma forte ferramenta no combate à inflação e permitindo que mais pessoas tivessem acesso ao consumo.
Claro, que no fundo, esta vantagem se concretiza na diferença salarial entre o operário do primeiro mundo com a sua contra parte nos países emergentes.
Para cada emprego ganho na China, perde-se um nos Estados Unidos, falando a grosso modo. Aí entra a distopia, operários americanos ressentem-se dos acordos comerciais, querem a volta de um passado impossível, quando só os americanos e europeus produziam os bens de consumo.
Chega-se a um paradoxo: os americanos gozam de um aumento no PIB, queda na inflação, na criminalidade e no desemprego, aumento incrível na produtividade, devido à automação, gasolina barata, etc. Todas as estatísticas lhes são favoráveis, mas mesmo assim, muitos não estão satisfeitos, e querem eleger um demagogo, ícone da distopia, Donald Trump.
Xenofobia também é um sintoma de distopia. E muito da plataforma de Trump é xenófoba, é contra a imigração, contra latinos e muçulmanos.
Outro exemplo de distopia é o Brexit, uma tendência isolacionista, contrária à globalização.
Na América Latina, a ALCA foi torpedeada por Raul Castro e Hugo Chávez, um acordo que traria muitos empregos para a região, mas os discordantes não queriam uma integração com os americanos, rotulados de “imperialistas” pela esquerda latino-americana.
A modernidade é irreversível, não se pode voltar ao tempo das carroças, nem acabar com a Internet. O que pode ser feito é corrigir as consequências danosas da modernidade, combater a poluição, o desmatamento, o desemprego de operários que ficaram para trás, e combater as doenças causadas pela modificação da dieta do homem, o abuso de agrotóxicos, o uso de combustíveis fósseis, etc.
O caminho é para frente e não para trás.

27/10/2016.



terça-feira, 11 de outubro de 2016

OBESIDADE

OBESIDADE x REFRIGERANTE

Por muitos anos a indústria de refrigerantes vem usando o fato inegável que a obesidade tem muitas causas para se omitir de sua própria responsabilidade.

Eles afirmam:
 “O povo está comendo demais, façam mais exercício !”

Nos Estados Unidos, o consumo de calorias oriunda de refrigerante triplicou desde 1970 até agora, sendo responsável por metade do aumento nacional de calorias.

O refrigerante não tem nenhum valor nutritivo. É água com açúcar, calorias que não alimentam, mas sobem o trabalho de rins e pâncreas para eliminar o excesso de açúcar.

Isto predispõe não só à obesidade, como também, a diabetes.

Somando ao açúcar, o refrigerante contém aditivos químicos, comprovadamente cancerígenos.

O lobby do açúcar é muito poderoso, amordaçando não só a imprensa, mas também a classe médica.