quinta-feira, 26 de julho de 2012

O MAR DE TETHYS


O MAR DE TETHYS

  Por Aluizio Gomes

O Mar de Tethys existiu em eras geológicas passadas, e dividia as massas continentais então existentes, em dois blocos. Um ao Norte, chamado Laurasia, e outro ao Sul, conhecido como Gondwana.
 Devido à deriva continental, sua posição global tem variado bastante; basta relatar que a velocidade da deriva, sendo de 1 a 4 cm por ano, resulta em deslocamentos de 1km a 4km em 100.000 anos, ou 100km em  10.000.000 de anos. Como estamos falando de eventos ainda mais antigos, que começaram no Paleozóico Superior, ou seja, coisa de 200 a 300 milhões de anos, é fácil perceber que as massas continentais já deram a volta ao mundo.Na verdade, isto não é teoria, foi comprovado por medições do paleomagnetismo de antigos assoalhos continentais, os quais ao se solidificarem, deixando os minerais magnéticos alinhados segundo as linhas Norte-Sul da época, registraram como impressões digitais a sua exata posição global. Corroborando esta pesquisa geofísica oceânica, que na realidade é recente, temos o conhecimento mais antigo da paleogeografia e paleontologia continentais, lembrando que o continente é a grande área de domínio do geólogo.Pois bem, de longas datas os geólogos sabem que o Polo Sul já esteve em Minas Gerais, ou melhor dizendo, Minas Gerais já esteve no Polo Sul, enquanto que a América do Norte e Europa sofriam um clima extremamente árido, no Equador portanto.
  Quanto à posição relativa, fica mais fácil relatar, porque a Laurásia desdobrou-se na América do Norte, Europa e China, enquanto Gondwana partiu-se em vários pedaços que hoje formam os continentes austrais( América do Sul, África, Índia e Austrália). Tethys ficou assim dividindo continentes austrais e boreais, e seus remanescentes hoje são os mares Mediterrâneo, Negro, Cáspio, Morto, etc. A tendência deste mares é de fechamento, devido ao movimento de abertura do Oceano Atlântico, o qual empurra a placa africana contra a placa européia.
  Após o trabalho de Tuzo Wilson, geólogo canadense, e muitos outros, confirmou-se a antiga teoria da deriva continental de Wegener.Os trabalhos foram feitos em alto mar, onde se descobriu uma intensa atividade vulcânica submarina, não pontual, mas linear, e de enormes dimensões, praticamente indo de um pólo ao outro.Grandes quantidades de lava são ejetadas, empurrando todo o assoalho oceânico para frente e para trás, fazendo crescer a área oceânica. A compensação ocorre em zonas de subducção, onde a parte mais antiga deste assoalho mergulha para o fundo da crosta terrestre, sendo reabsorvida pelo magma. Estas são as placas tectônicas. Nas zonas de subducção ocorrem os conhecidos vulcões pontuais e os terremotos, associados a cadeia de montanhas, ou arcos de ilhas. As cadeias de montanhas nada mais são do que antigos sedimentos marinhos, que foram empurrados contra os continentes, os quais, resistindo ao deslocamento, forçaram os dobramentos de antigas camadas horizontais e sua elevação.Este fenômeno se chama orogenia, e é conhecido desde o tempo de Leonardo da Vinci, o qual, ao achar conchas marinhas fósseis nos Alpes, concluiu que ali já foi o fundo de um mar. O mar de Tethys.

Publicado no Jornal do Comercio
Em 11/01/2005

quarta-feira, 25 de julho de 2012

UM TIRO NA NUCA DA NAÇÃO



Por Guilherme Fiuza* -

 O Globo em 21 Jul 2012

Carlinhos Cachoeira disse que vai à CPI quando quiser, porque a CPI é dele. Quase simultaneamente, um dos agentes federais que o investigaram é executado num cemitério, enquanto visitava o túmulo dos pais. Al Pacino e Marlon Brando não precisam entrar em cena para o país entender que há uma gangue atentando contra o Estado brasileiro. Em qualquer lugar supostamente civilizado, os dois tiros profissionais na nuca e na têmpora do policial Wilton Tapajós poriam sob suspeita, imediatamente, os investigados pela Operação Monte Carlo - alvos do agente assassinado. Mas no Brasil progressista é diferente.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se pronunciou sobre o crime. Declarou que "é leviano" fazer qualquer ligação entre a execução do policial federal e a operação da qual ele fazia parte. E mais não disse. Tapajós foi enterrado no lugar onde foi morto. Se fosse filme de máfia, iam dizer que esses roteiristas exageram. No enterro, alguém de bom-senso poderia ter soprado ao ouvido do ministro: dizer que é leviano suspeitar dos investigados pela vítima, excelência, é uma leviandade.
Mas ninguém fez isso, e nem poderia. O ministro da Justiça não foi ao enterro. Wilton Tapajós era subordinado ao seu ministério, atuava na principal investigação da Polícia Federal e foi executado em plena capital da República, mas José Eduardo Cardozo devia estar com a agenda cheia. (Talvez seja mais fácil desvendar o crime do que a agenda do ministro.) Por outro lado, o advogado de Cachoeira, investigado pelo agente assassinado, é antecessor de Cardozo no cargo de xerife do governo popular. Seria leviano contrariar o companheiro Thomaz Bastos.
Assim como o consultor Fernando Pimentel (ministro vegetativo do Desenvolvimento) e Fernando Haddad (o príncipe do Enem), Cardozo é militante político de Dilma Rousseff e ministro nas horas vagas. O projeto de permanência petista no poder é a prioridade de todos eles, daí os resultados nulos de suas pastas. Cardozo anunciara que ia se aposentar da política, e em seguida virou ministro. Lançou então seu ambicioso plano de espalhar UPPs pelo país e se aposentou (da função de cumpri-lo). Deixou de lado o abacaxi do plano nacional de segurança, que não dá voto a ninguém, e foi fazer política, que ninguém é de ferro. Para bater boca com a oposição e acusá-la de politizar a operação da PF, por exemplo, o ministro não se sente leviano.
Carlinhos Cachoeira era comparsa da Delta, a construtora queridinha do PAC. O bicheiro mandava e desmandava no Dnit, órgão que, além de acobertar as jogadas da Delta, intermediava doações para campanhas políticas, segundo seu ex-diretor Luiz Antonio Pagot. Entre essas campanhas estava a de Dilma Rousseff, da qual Cardozo fazia parte. O policial federal assassinado estava entre os homens que começaram a desmontar o esquema Cachoeira-Delta, e seus tentáculos palacianos. O mínimo que qualquer autoridade responsável deveria dizer é que um caçador da máfia foi eliminado de forma mafiosa. Mas o falante ministro da Justiça preferiu ficar neutro, como se a vítima fosse o sorveteiro da esquina. Haja neutralidade.
Montar golpes contra o Estado brasileiro é, cada vez mais, um crime que compensa. Especialmente se o golpe é montado dentro do próprio Estado, com os padrinhos certos. Exemplo: às vésperas do julgamento do mensalão, um conhecido agente do valerioduto acaba de ser inocentado, candidamente, à luz do dia.
Graças a uma providencial decisão do Tribunal de Contas da União - contrariando parecer técnico anterior do próprio TCU -, Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil que permitiu repasses milionários à agência de Marcos Valério, não deve mais nada a ninguém. Os famosos contratos fantasmas de publicidade, que permitiram o escoamento sistemático de dinheiro público para o caixa do PT, acabam de ser, por assim dizer, legalizados. Nesse ritmo, o Brasil ainda descobrirá que Lula tinha razão: o mensalão não existiu (e Marcos Valério se sacrificou por este país).
O melhor de tudo é que uma lavagem de reputação como essa acontece tranquilamente, sem nem uma vaia da arquibancada. No mesmo embalo ético, Delúbio Soares já mandou seu advogado gritar que ele é inocente e jamais subornou ninguém. O máximo que fez foi operar um pouquinho no caixa dois, o que, como já declarou o próprio Lula, todo mundo faz. Nesse clima geral de compreensão e tolerância, o ministro do Supremo Tribunal Federal que passou a vida advogando para o PT já dá sinais de que não vai se declarar impedido de julgar o mensalão. O Brasil progressista há de confiar no seu voto.
Esses ventos indulgentes naturalmente batem na cela de Cachoeira, que se enche de otimismo e fala grosso com a CPI. Se o esquema de Marcos Valério está repleto de inocentes, seria leviano deixar o bicheiro de fora dessa festa.
*GUILHERME FIUZA é jornalista.
"A mentira é tão boa quanto a verdade, desde que sirva à causa do socialismo/comunismo". - Bertolt Brecht

.

terça-feira, 24 de julho de 2012

COMO SE ADMINISTRA UMA ESTATAL


COMO SE ADMINISTRA UMA ESTATAL

Por Carlos Alberto Sardenberg

   Há menos de três anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal Valor Econômico. Entre outras coisas, contou, sem meias palavras, que a Petrobrás não queria   construir refinarias e ainda apresentara um plano plano de investimentos em 2008. “Convoquei o conselho” da empresa, contou Lula. Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de investimentos, além de previsões fantásticas para a produção de óleo.

   Em 25 de junho último, a Petrobrás informa oficialmente aos investidores que, das quatro, apenas uma refinaria, Abreu e Lima, de Pernambuco, continua no plano com data para terminar. E ainda assim, com atraso, aumento de custo e sem o dinheiro e óleo da PDVSA de Chávez. Todas as metas de produção foram reduzidas. As anteriores eras “irrealistas”, disse a presidente da companhia, Graça Foster, acrescentando que faria uma revisão de processos em todos.   Entre outros equívocos, revelou que equipamentos eram comprados antes dos projetos estarem prontos e aprovados.

   Nada se disse ainda sobre os custos disso tudo para a Petrobrás. Graça Foster informou que a refinaria de Pernambuco começará a funcionar em novembro de 2014, com 14 meses de atraso em relação à  meta anterior, e custará US$ 17 bilhões, três bi a mais. Na verdade, as metas agora revistas já haviam sido   alteradas. Um equívoco  muito maior.

   Quando anunciada por Lula, a refinaria custaria US$ 4 bilhões e ficaria pronta antes de 2010. Como uma empresa como a Petrobrás pode cometer um erro de planejamento desse tamanho? A resposta é simples: a estatal não tinha   projeto algum para isso, Lula decidiu, mandou fazer e a diretoria da estatal improvisou umas plantas. Anunciaram e os presidentes fizeram várias   inaugurações.

   O nome disso é populismo. E custo Lula. Sim, porque o resultado é um prejuízo para os acionistas da Petrobrás, do governo e do setor privado, de responsabilidade do ex-presidente e da diretoria que topou a montagem.

   Tem mais na conta. Na mesma entrevista, Lula disse que mandou o Banco do Brasil comprar o Votorantim, porque este tinha uma boa carteira de financiamento de carros usados e era preciso incentivar esse setor. O BB comprou, salvou o Votorantim e engoliu prejuízo de mais de bilhão de reais, pois a inadimplência ultrapassou todos os padrões. Ou seja, um péssimo negócio, conforme muita gente alertava. Mas como o próprio Lula explicou:
  “Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me lixar para a especulação”.

   Quem escapou de prejuízo maior foi a Vale. Na mesma entrevista, Lula confirmou que estava, digamos, convencendo a Vale a investir em siderúrgicas e fábricas de latas de alumínio. Quando os jornalistas comentam que a empresa talvez não topasse esses investimentos por causa do custo, Lula argumentou que a empresa privada tem seu primeiro compromisso com o nacionalismo.

   A Vale topou muita coisa vinda de Lula, inclusive a troca do presidente da companhia, mas se tivesse feito as siderúrgicas estaria quebrada ou perto   disso. Idem para o alumínio, cuja produção exige muita energia elétrica, que   continua a mais cara do mundo.
   Ou seja, não era momento, nem havia condições de fazer refinarias e siderúrgicas. Os técnicos estavam certos. Lula estava errado. As empresas privadas foram se virando, mas as estatais se curvaram.

   Ressalva: o BNDES, apesar das pressões de Brasília, não emprestou dinheiro para a PDVSA colocar na refinaria de Pernambuco. Ponto para seu corpo técnico.

   Quantos outros projetos e metas do governo Lula são equivocados? As obras de   transposição do rio São Francisco estão igualmente atrasadas e muito mais   caras. O projeto do trem bala começou custando R$ 10 bilhões e já¡ passa dos 35   bi.

   Assim como se fez a revisão dos planos da Petrobrás,  urgente uma análise de   todas as demais grandes obras. Mas há um outro ponto, político. A presidente   Dilma estava no governo Lula, em posições de mando na área da Petrobrás. Graça   Foster era diretoria da estatal. Não é possível imaginar que Graça Foster   tenha feito essa incrível autocrítica sem autorização de Dilma.

   Ora, será que as duas só tomaram consciência dos problemas agora? Ou sabiam   perfeitamente dos erros então cometidos, mas tiveram que calar diante da força
  e do autoritarismo de Lula?

   De todo modo, o custo Lula está aparecendo mais cedo do que se imaginava.
  Inclusive na política.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A LENDA DO CARRAPATO


A LENDA DO CARRAPATO
Por Aluizio Gomes
Era uma vez um carrapato que vivia parasitando o lombo de um belo exemplar canino, da raça pastor alemão.Desfilando pelas ruas do bairro onde seu dono residia, o cão recebia elogios rasgados de todos.O cão já estava acostumado, porém seu parasita ficava vaidoso, pensando que os elogios seriam para ele.Após sugar o sangue do cachorro, à noite, o carrapato se reunia com sua corriola e bancava o gostoso, contando o acontecido do dia.
Hoje em dia, vemos muitos "carrapatos" na política.Devido à rotatividade no poder, próprio dos regimes democráticos, muitos projetos e reformas maturam após o mandato de seus autores.O sucessor não tem escrúpulo  se apropriar dos benefícios, se intitulando pai do projeto ou reforma.Na escala estadual, vemos quantos pais apareceram para o Projeto Suape, que tem mais de duas décadas de maturação.Na escala nacional, o presidente Luis Inácio da Silva não cansa de afirmar, em seus discursos, que o bom desempenho atual da economia é resultado de sua política econômica.Ledo engano.As reformas de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, estão maturando agora, e Lula colhe os resultados.Todos nós nos beneficiamos, porém é importante dar a César o que é de César.A principal reforma, a mais importante, foi o plano real, o qual extinguiu a inflação brasileira, colocando o Brasil vários degraus acima no patamar de uma nação confiável para investimentos.Além disso, deixando de corroer os salários, o plano real conseguiu fazer mais pelos pobres do que o Bolsa Família, permitindo que milhões de pessoas se alimentassem melhor, e abrindo o crediário para o consumidor poder comprar bens duráveis.Isto deu um impulso enorme ao mercado interno.Quanto ao mercado externo, a lei Kandir, desonerando as exportações, permitiu que o Brasil aumentasse substancialmente as exportações.As privatizações foram parte de uma reforma importantíssima, a qual aliou-se ao plano real.Liberando importantes setores para a iniciativa privada, o desempenho econômico melhorou mil por cento.EMBRAER, Companhia do Vale do Rio Doce, e tantas outras, dispararam no mercado como se despertassem de um sono letárgico.
Podemos ainda citar: A lei de responsabilidade fiscal, a introdução dos genéricos, tudo obra de governos anteriores à era PT. O Brasil, pelo cenário externo, beneficiou-se extremamente pela entrada da China como potência econômica, valorizando demais nossos produtos primários: ferro, soja, carne, etc.
Para nossa economia foi salutar também, a lenta, gradual, embora incompleta, abertura de nossos mercados.Há um tabu, muito arraigado em nossa psique de subdesenvolvido, que as multinacionais pretendam engolir as empresas nacionais.Não, uma empresa, nacional ou estrangeira, quer sempre se expandir, dentro de um esquema competitivo.A competição é boa para o consumidor,porque lhe permite obter um produto mais barato e de melhor qualidade.Sem competição, não há inovação, nem custos baixos.A União Soviética fracassou exatamente por isso.Não havia mais criatividade, nem estímulo para baixar os custos.Indústria é criação, inovação, competição.Isto só existe num ambiente de empresas privadas, e mercados abertos.Nossa abertura começou com Fernando Collor, porém devido a seu mandato ter durado muito pouco, teve continuidade com FHC.
Então, concluindo, o cenário externo favorável, mais reformas de décadas atrás, levaram o Brasil a um patamar econômico mais alto, e não vejo, pelo menos da minha parte, nada que o PT tenha contribuído para isso.

15/10/2007