terça-feira, 24 de julho de 2012

COMO SE ADMINISTRA UMA ESTATAL


COMO SE ADMINISTRA UMA ESTATAL

Por Carlos Alberto Sardenberg

   Há menos de três anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal Valor Econômico. Entre outras coisas, contou, sem meias palavras, que a Petrobrás não queria   construir refinarias e ainda apresentara um plano plano de investimentos em 2008. “Convoquei o conselho” da empresa, contou Lula. Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de investimentos, além de previsões fantásticas para a produção de óleo.

   Em 25 de junho último, a Petrobrás informa oficialmente aos investidores que, das quatro, apenas uma refinaria, Abreu e Lima, de Pernambuco, continua no plano com data para terminar. E ainda assim, com atraso, aumento de custo e sem o dinheiro e óleo da PDVSA de Chávez. Todas as metas de produção foram reduzidas. As anteriores eras “irrealistas”, disse a presidente da companhia, Graça Foster, acrescentando que faria uma revisão de processos em todos.   Entre outros equívocos, revelou que equipamentos eram comprados antes dos projetos estarem prontos e aprovados.

   Nada se disse ainda sobre os custos disso tudo para a Petrobrás. Graça Foster informou que a refinaria de Pernambuco começará a funcionar em novembro de 2014, com 14 meses de atraso em relação à  meta anterior, e custará US$ 17 bilhões, três bi a mais. Na verdade, as metas agora revistas já haviam sido   alteradas. Um equívoco  muito maior.

   Quando anunciada por Lula, a refinaria custaria US$ 4 bilhões e ficaria pronta antes de 2010. Como uma empresa como a Petrobrás pode cometer um erro de planejamento desse tamanho? A resposta é simples: a estatal não tinha   projeto algum para isso, Lula decidiu, mandou fazer e a diretoria da estatal improvisou umas plantas. Anunciaram e os presidentes fizeram várias   inaugurações.

   O nome disso é populismo. E custo Lula. Sim, porque o resultado é um prejuízo para os acionistas da Petrobrás, do governo e do setor privado, de responsabilidade do ex-presidente e da diretoria que topou a montagem.

   Tem mais na conta. Na mesma entrevista, Lula disse que mandou o Banco do Brasil comprar o Votorantim, porque este tinha uma boa carteira de financiamento de carros usados e era preciso incentivar esse setor. O BB comprou, salvou o Votorantim e engoliu prejuízo de mais de bilhão de reais, pois a inadimplência ultrapassou todos os padrões. Ou seja, um péssimo negócio, conforme muita gente alertava. Mas como o próprio Lula explicou:
  “Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me lixar para a especulação”.

   Quem escapou de prejuízo maior foi a Vale. Na mesma entrevista, Lula confirmou que estava, digamos, convencendo a Vale a investir em siderúrgicas e fábricas de latas de alumínio. Quando os jornalistas comentam que a empresa talvez não topasse esses investimentos por causa do custo, Lula argumentou que a empresa privada tem seu primeiro compromisso com o nacionalismo.

   A Vale topou muita coisa vinda de Lula, inclusive a troca do presidente da companhia, mas se tivesse feito as siderúrgicas estaria quebrada ou perto   disso. Idem para o alumínio, cuja produção exige muita energia elétrica, que   continua a mais cara do mundo.
   Ou seja, não era momento, nem havia condições de fazer refinarias e siderúrgicas. Os técnicos estavam certos. Lula estava errado. As empresas privadas foram se virando, mas as estatais se curvaram.

   Ressalva: o BNDES, apesar das pressões de Brasília, não emprestou dinheiro para a PDVSA colocar na refinaria de Pernambuco. Ponto para seu corpo técnico.

   Quantos outros projetos e metas do governo Lula são equivocados? As obras de   transposição do rio São Francisco estão igualmente atrasadas e muito mais   caras. O projeto do trem bala começou custando R$ 10 bilhões e já¡ passa dos 35   bi.

   Assim como se fez a revisão dos planos da Petrobrás,  urgente uma análise de   todas as demais grandes obras. Mas há um outro ponto, político. A presidente   Dilma estava no governo Lula, em posições de mando na área da Petrobrás. Graça   Foster era diretoria da estatal. Não é possível imaginar que Graça Foster   tenha feito essa incrível autocrítica sem autorização de Dilma.

   Ora, será que as duas só tomaram consciência dos problemas agora? Ou sabiam   perfeitamente dos erros então cometidos, mas tiveram que calar diante da força
  e do autoritarismo de Lula?

   De todo modo, o custo Lula está aparecendo mais cedo do que se imaginava.
  Inclusive na política.

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