quinta-feira, 17 de novembro de 2016

DEU ZEBRA

OS MANÉS DO RUST BELT

Aluizio Gomes

  1.  ESTATÍSTICA
Primeiro, vamos aos números:
ESTADOS UNIDOS
Área: 9,8 milhões de km2.
População: 324 milhões
Eleitores: 231 milhões
Votaram no dia 8 de Novembro: 131,7 milhões
Abstenção: 43,1%
PIB: 18,5 Trilhões de dólares.
Renda per capita: 57.220 dólares.

2.QUEM VOTOU EM QUEM.
Examinando-se o mapa eleitoral do país, condado por condado, observa-se que Hillary ganhou maciçamente nos grandes centros urbanos e perdeu feio nas áreas rurais.
Ganhou no voto popular, mas perdeu no voto do colégio eleitoral.
Por outro lado, é um padrão político estabelecido, que muitos estados votam sempre nos republicanos (“red states”) , enquanto outros estados votam nos democratas (“blue states”). Neste padrão é clara a distinção de estados mais urbanizados e outros mais rurais.
O bicho pega quando há uma terceira categoria: os chamados “swing states”, que ora viram para um lado e ora viram para o outro.
Mas um “blue state” votar em Trump, isto sim, foi uma surpresa, e foram estes que viraram o jogo.
Então precisamos saber o que aconteceu naquele pedação do país, conhecido como “Rust Belt”, e que possui grandes jazidas de carvão.
Os estados de Wisconsin e Pensilvânia, cotados como blue states, e que, juntos possuem no total de 30 votos eleitorais, levaram seus votos para Trump.
Não vou repetir aqui o que falei no artigo anterior, sobre distopia, mas, para continuar, Trump prometeu aos metalúrgicos e mineiros desempregados, que iria reabrir as fábricas de automóveis e também as minas de carvão.
Isto vai contra todas as tendências mundiais, tanto de globalização como de meio ambiente. Isto é, acabou aquela era de prosperidade no Rust Belt, devido aos acordos comerciais, e devido aos novos controles de emissão de carbono na atmosfera.
Os perdedores sonham em voltar o tempo, e Trump, enganou-os, caso típico de estelionato eleitoral.
Nós já vimos este filme antes, aqui mesmo no Brasil.
Mas, os manés do Rust Belt pensam ser possível extrair carvão, poluente e antieconômico, e construir automóvel com metalúrgico ganhando 30 dólares por hora.
Que racistas e supremacistas, brancos, louros, votem em Trump, entende-se, mas é coisa de mané mesmo acreditar nas lorotas econômicas de Trump.

Recife, 18 de Novembro de 2016.


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

DISTOPIA

O QUE É DISTOPIA

Aluizio Gomes

Distopia é o antônimo de utopia. A palavra é usada para caracterizar pessoas ou posições avessas à globalização, à modernidade, e suas consequências na vida das pessoas.
A civilização avança com novos conceitos, métodos, ideias, enfim, coisas que deixam para trás antigas práticas, para o bem ou para o mal.
Temos inúmeros exemplos. Após a descoberta do DNA, e o advento da capacidade do homem em interferir na composição genética, houve muita reação de setores conservadores que clamam consequências danosas ao meio ambiente.
Nos Estados Unidos temos um grupo denominado Amish que não aceita a modernidade, anda de carroças a cavalo, não usa telefone, nem Internet, etc.
A globalização veio para ficar, devido a comunicações mais rápidas e econômicas, em todos os setores. Na década de 50, no Brasil, os campeonatos de futebol eram exclusivamente estaduais, mas hoje temos campeonatos interestaduais, possíveis devido às viagens de avião e a interligação nacional da TV.
Percebendo a facilidade de comunicação internacional, o empresariado começou a aproveitar vantagens competitivas, de modo a se melhor posicionar no mercado. Isto levou ao barateamento do produto final, uma forte ferramenta no combate à inflação e permitindo que mais pessoas tivessem acesso ao consumo.
Claro, que no fundo, esta vantagem se concretiza na diferença salarial entre o operário do primeiro mundo com a sua contra parte nos países emergentes.
Para cada emprego ganho na China, perde-se um nos Estados Unidos, falando a grosso modo. Aí entra a distopia, operários americanos ressentem-se dos acordos comerciais, querem a volta de um passado impossível, quando só os americanos e europeus produziam os bens de consumo.
Chega-se a um paradoxo: os americanos gozam de um aumento no PIB, queda na inflação, na criminalidade e no desemprego, aumento incrível na produtividade, devido à automação, gasolina barata, etc. Todas as estatísticas lhes são favoráveis, mas mesmo assim, muitos não estão satisfeitos, e querem eleger um demagogo, ícone da distopia, Donald Trump.
Xenofobia também é um sintoma de distopia. E muito da plataforma de Trump é xenófoba, é contra a imigração, contra latinos e muçulmanos.
Outro exemplo de distopia é o Brexit, uma tendência isolacionista, contrária à globalização.
Na América Latina, a ALCA foi torpedeada por Raul Castro e Hugo Chávez, um acordo que traria muitos empregos para a região, mas os discordantes não queriam uma integração com os americanos, rotulados de “imperialistas” pela esquerda latino-americana.
A modernidade é irreversível, não se pode voltar ao tempo das carroças, nem acabar com a Internet. O que pode ser feito é corrigir as consequências danosas da modernidade, combater a poluição, o desmatamento, o desemprego de operários que ficaram para trás, e combater as doenças causadas pela modificação da dieta do homem, o abuso de agrotóxicos, o uso de combustíveis fósseis, etc.
O caminho é para frente e não para trás.

27/10/2016.



terça-feira, 11 de outubro de 2016

OBESIDADE

OBESIDADE x REFRIGERANTE

Por muitos anos a indústria de refrigerantes vem usando o fato inegável que a obesidade tem muitas causas para se omitir de sua própria responsabilidade.

Eles afirmam:
 “O povo está comendo demais, façam mais exercício !”

Nos Estados Unidos, o consumo de calorias oriunda de refrigerante triplicou desde 1970 até agora, sendo responsável por metade do aumento nacional de calorias.

O refrigerante não tem nenhum valor nutritivo. É água com açúcar, calorias que não alimentam, mas sobem o trabalho de rins e pâncreas para eliminar o excesso de açúcar.

Isto predispõe não só à obesidade, como também, a diabetes.

Somando ao açúcar, o refrigerante contém aditivos químicos, comprovadamente cancerígenos.

O lobby do açúcar é muito poderoso, amordaçando não só a imprensa, mas também a classe médica.


                         

domingo, 25 de setembro de 2016

O UNIVERSO

CONSIDERAÇÕES SOBRE O UNIVERSO

Aluizio Gomes

Finalmente, o universo é finito ou infinito?
Se aplicarmos na tese, a Lei de Ação e Reação , veremos a impossibilidade dos dois casos.

Toda reação causa uma reação, e esta reação já é, por si mesma, uma ação, causando assim uma consequência adiante.

Então o universo não pode ser finito, tanto no inicio, como no fim, porque o Big Bang é efeito de uma causa anterior, aquilo que provocou o Big Bang.

E também não pode ter um evento final, a morte, porque isto causará um feito adiante.

Seria então infinito? Também não, porque então haveria um espaço infinito entre um evento e o consequente.

A melhor conclusão seria um universo atemporal, além do tempo, coincidindo com a tese indu, de que o tempo não existe, é uma ilusão.

Coincide também com o conceito cristão da vida eterna, onde não existe isto de tempo.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

MONTE CARMELO

O PROMONTÓRIO DOS CARMELITAS

INTRÓITO por Aluizio Gomes


Haifa. Cidade da Palestina, construída nas encostas do monte Carmelo tem uma história de mais de 3.000 anos, desde a última Idade do Bronze .Por ser um local portuário, próximo ao Egito, meio caminho para a Mesopotâmia, sempre foi muito cobiçada, estrategicamente.
Pertenceu a fenícios, romanos, bizantinos, árabes, cruzados, turcos, ingleses e finalmente a Israel, hoje em dia.
Em Haifa existe o monte Carmelo, onde uma gruta é conhecida como a “gruta de Elias”, tradicionalmente ligada a Elias, do Antigo Testamento. Existe sítio também histórico no alto do monte, onde se faziam holocaustos, tanto do rito fenício, como hebreu.
Após a conquista árabe, vieram os cruzados, que estabeleceram um breve reinado na Terra Santa.
Voltou assim o predomínio cristão na área, quando eremitas europeus começaram a ocupar as cavernas do monte, até formarem uma nova ordem monástica, assim chamada Carmelitas. Ao chegarem os turcos a igreja deles foi transformada em mesquita, depois passou para hospital, e só no século XIX voltou a ser um monastério

GEOGRAFIA
O Monte Carmelo é uma montanha que está na cordilheira de mesmo nome, em Israel (antiga Palestina), com 34 quilômetros de extensão limitando-se ao norte com Haifa, cidade marítima, pelo sul com as terras de Cesaréia, pelo leste com a planície do Esdrelon, e a oeste com o mar Mediterrâneo. O ponto mais elevado da cordilheira tem aproximadamente 525 metros acima do nível do mar, e é denominado Monte do Sacrifício. Pela sua notável posição geográfica, entre duas planícies e o mar, desde a Idade da Pedra, as suas numerosas grutas serviram de habitação, conforme estudos antropológicos que foram realizados nos esqueletos ali encontrados.

O MONTE CARMELO NA HISTÓRIA ANTIGA

 Na lista das cidades de Tutmósis III (século XV antes de CRISTO) o Carmelo é chamado de “Cabo Santo”, nome que se supõe de um culto antigo que se fazia por lá, em honra do próprio Monte ou de seu Baal (conforme M. Avi-Yonah, em seu livro: “Mount Carmel and the God of Baalbek”). Na História Sagrada o Monte ficou famoso, por causa da disputa entre o profeta Elias e os sacerdotes fenícios de Baal. Nele os sacerdotes sacrificavam em honra de sua divindade Baal, da mesma forma que Elias fazia os sacrifícios em honra de DEUS. E foi neste mesmo lugar que o profeta, diante das autoridades e do povo de Israel, provou a impotência e ineficácia do deus Baal e mostrou a grandeza e o valor do verdadeiro DEUS. O fato aconteceu assim:
No fim do século IX aC, (874-853 antes de CRISTO), Acab reinava loucamente Israel junto com sua sanguinária esposa Rainha Jezabel, que logo mandou matar todos os profetas de DEUS e destruiu os altares de sacrifícios, trazendo para Israel os sacerdotes de Baal de Tiro, permitindo e incrementando o culto aquela divindade. O SENHOR mandou-lhe um pesado castigo, infringindo uma terrível seca ao país, deixando Israel sem condições de produzir alimentos e com uma minguada quantidade de água para o consumo humano, para o gado e a criação em geral. No final do terceiro ano de seca, DEUS chamou o profeta Elias e mandou que avisasse Acab, que ia acabar com a seca. O SENHOR, misericórdia infinita, infundiu luz na mente do profeta para ele alertar ao Rei e a Rainha sobre aquele modo insensato de viver e administrar o reino.
Acab recebeu Elias com frieza, censurando-o: “Ai está o flagelo de Israel”! (1 Rs 18, 17). O profeta respondeu: “Não sou eu o flagelo de Israel, mas tu e tua família, por que abandonaste DEUS e seguiste os baals. Pois bem, manda que se reúna junto a mim, no Monte Carmelo, todo o Israel, com os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal, que comem à mesa de Jezabel”. (1 Rs 18, 18) Elias quis provar ao Rei que o deus Baal não atuava e não tinha qualquer força, e assim, queria lhe mostrar o verdadeiro poder Divino.
Todo o povo foi reunido no Monte Carmelo e Elias se aproximando perguntou: “Até quando permanecerão na dúvida? Se JAVÉ é DEUS segui-o, mas se é Baal, segue-o”. (1 Rs 18, 21) E o povo não pode lhe responder. Então Elias mandou os quatrocentos e cinquenta sacerdotes de Baal esquartejar um novilho e colocá-lo sobre a lenha, no altar de sacrifícios, sem por fogo. Ele faria a mesma coisa com outro novilho. Depois mandou que eles invocassem o nome do deus deles e ele também ia fazer a mesma coisa. O deus que respondesse enviando fogo para queimar o sacrifício (holocausto) era o DEUS verdadeiro. Os sacerdotes rezaram, chamaram a sua divindade e até gemeram, desde a manhã até o meio dia e o deus Baal não respondeu. Elias então zombou, mandando que eles gritassem mais alto, podia ser que Baal estivesse tirando uma soneca! E nada aconteceu com o novilho deles. Então Elias pediu ao povo para se aproximar e na hora da oferenda, rezou: “JAVÉ, DEUS de Abraão, de Isaac e de Israel, hoje todos ficarão sabendo que TU és DEUS em Israel, que sou TEU servo e que é por TUA ordem que fiz todas essas coisas. Responda-me JAVÉ, responda-me, para que este povo reconheça que TU és JAVÉ, o DEUS, e que convertes os corações deles”! (1 Rs 18, 36-37) Então imediatamente caiu o fogo de JAVÉ e consumiu o holocausto (novilho) e toda a lenha, para que todos conhecessem quem era o verdadeiro DEUS e se convertessem. O povo admirado presenciou tudo e respeitosamente todos se prostraram com o rosto no chão dizendo e repetindo: “JAVÉ que é o DEUS! JAVÉ que é o DEUS”. Os profetas e sacerdotes de Baal foram todos presos e mortos. (1 Rs 18, 39-40)
Elias se aproximou do Rei Acab e recomendou que ele voltasse e ficasse no palácio: “Sobe, come e bebe, pois estou ouvindo o barulho da chuva”. E a seguir, o profeta subiu ao cume do Monte Carmelo para rezar, e então, viu se elevar do mar uma pequena nuvem como se fosse à mão de uma pessoa. Num instante o Céu escureceu e caiu uma forte chuva beneficiando toda a região. (1 Rs 18, 16-45)
Ao longo da sua vida, o profeta sempre revelou um imenso e ilimitado amor a DEUS, que lhe dava forças e a inspiração necessária à sua caminhada existencial. Recebeu do Altíssimo, uma quantidade preciosa de dons e virtudes, que impulsionava as suas atitudes, estando sempre pronto a agir dentro da justiça e do direito. O seu exemplo foi seguido por muitos, fundando uma admirável escola de profetas, da qual, o profeta Eliseu foi o seu primeiro discípulo.
Por outro lado, aquela nuvem benfazeja e em forma de mão enviada por DEUS, que deu origem àquela caridosa e providencial chuva, passou a ser interpretada como uma preciosa Intercessora, que trabalhou maravilhosamente a serviço do SENHOR e em benefício do povo, e por isso mesmo, foi compreendida como sendo obra da própria MÃE DE DEUS.
Quando os Cruzados chegaram à Terra Santa, no século XII, divulgou-se que encontraram vivendo no Monte Carmelo, uma colônia de eremitas que afirmavam ter o profeta Elias como fundador e patrono, e a MÃE DE DEUS como a VIRGEM DO CARMELO. O grupo foi aumentando com a adesão de cruzados, que não queriam continuar com a guerra e almejavam a paz e uma existência mais dedicada às orações.
No meio dos cruzados, entre os anos 1153 e 1159, também estava Bertoldo um soldado idealista  que veio da Europa. Inspirado no profeta Elias, foi para o Monte Carmelo, e lá, com o auxílio de companheiros e de eremitas que viviam no local, construiu uma pequena Ermida perto da gruta de Elias e próximo a algumas ruínas existentes.
Provavelmente em 1209, aqueles homens almejando organizar a Comunidade em que viviam, pediram ao Bispo Alberto, Patriarca de Jerusalém, que era um homem piedoso e de reconhecida sabedoria e prudência, que lhes fizesse uma Regra de vida, a qual receberam com respeito e a seguiram com muita devoção. Posteriormente fizeram aquele documento chegar às mãos de Sua Santidade o Papa Honório III, que o aprovou integralmente no dia 30 de Janeiro de 1226.
Naquele local ermo, vivendo abrigados na própria natureza, aqueles homens puderam cultivar ardorosamente a devoção à VIRGEM MARIA, manifestando a grandeza de seu amor. Inicialmente ao ar livre, unidos ao redor da rústica Ermida, junto à fonte de Elias, onde piedosamente rezavam à VIRGEM DO CARMELO, exaltando e louvando a bondade Divina. Na continuidade dos anos construíram um modesto Mosteiro que atendeu às suas necessidades.
Entretanto a ameaça otomana estava sempre presente, lutando contra os cristãos das Cruzadas e não desistindo de dominar a Terra Santa, mantinham uma sangrenta e impiedosa luta. Em consequência, alguns soldados cruzados, que já viviam com os eremitas do Monte Carmelo, com receio do inimigo mortal, desde o ano 1220 começaram a regressar aos seus países de origem na Europa.
Pelo ano 1222, dois cruzados ingleses levaram para a Inglaterra, alguns daqueles eremitas que habitavam o Monte Carmelo. Simão Stock, que vivia no interior do país e era um homem de oração, austero e penitente, assim que soube se uniu a eles. Segundo uma lenda que se mantém viva até hoje, o fato de Simão se ter unido aquele grupo mariano foi em consequência de uma forte inspiração. Enquanto rezava, lhe foi sugerido que se unisse a aqueles eremitas devotos de MARIA que vinham do Oriente Médio.
No ano de 1238, quando finalmente a Terra Santa caiu em poder dos muçulmanos, a maioria dos eremitas fugiu para as suas pátrias: Itália, Grécia, França, Inglaterra, e aqueles que ficaram, imaginando que poderiam continuar no Monte sem qualquer dificuldade, foram massacrados pelos turcos.
Na Europa, nas diversas regiões onde se fixaram aqueles eremitas, eles foram se reunindo em pequenos grupos, cada um procurando se adaptar ao novo ambiente, vivendo do modo que todos viviam, trabalhando incansavelmente para alcançar os seus ideais e objetivos. E dessa maneira, com esforço e dedicação também deram vida a uma força interior idealizadora, que se mantinha acesa em seus corações, a qual deu origem a Ordem Carmelita.
Por causa da devoção que tinham a NOSSA SENHORA, ficou popularmente conhecida como a Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada VIRGEM MARIA do Monte Carmelo ou Ordem do Carmo, ou simplesmente Carmelitas.
A Ordem Carmelita cresceu e se espalhou por muitos países. No século XVI, na Espanha, houve uma renovação liderada por Santa Teresa d'Ávila com o precioso auxílio de São João da Cruz, famosos místicos da Ordem do Carmo, dando origem aos Carmelitas Descalços. È um estilo de vida diferente do anterior, acrescentando novos elementos à formação religiosa, criando o que é denominado “Carisma Teresiano”. Por outro lado, a palavra “Descalço”, na Idade Média, era usada para expressar a pobreza, o despojamento interior que fazia parte das ordens reformadas. Por essa razão, vivendo o novo Carisma a Comunidade Religiosa adotou também o nome Descalço, com o mesmo objetivo de cultivar a pobreza e o despojamento interior. Todavia embora com sua denominação própria de "Carmelitas Descalços", pertencem a mesma Ordem do Carmo.
Atualmente, o espírito Carmelita também é vivido por leigos nas Ordens Terceiras, nas Confrarias e Fraternidades do Escapulário, na Juventude Carmelitana Missionária, Infância Missionária Carmelitana e nas diversas congregações que estão agregadas à Ordem do Carmo.

Fonte: História do Carmelo


domingo, 31 de julho de 2016

PETROBRÁS

CONTENCIOSO DA PETROBRÁS    
TRIMESTRE   VALOR, EM US$ BI
31/03/2003   $25,68
30/06/2003   $30,38
30/09/2003   $32,28
31/12/2003   $36,19
30/06/2004   $34,19
30/09/2004   $37,31
31/12/2004   $40,58
31/03/2005   $40,19
30/06/2005   $42,68
30/09/2005   $45,72
31/12/2005   $45,72
31/03/2006   $46,84
30/06/2006   $45,14
30/09/2006   $47,73
31/12/2006   $54,38
31/03/2007   $52,86
30/06/2007   $54,84
30/09/2007   $56,68
31/12/2007   $64,54
31/03/2008   $66,63
30/06/2008   $73,96
30/09/2008   $67,38
31/12/2008   $63,79
31/03/2009   $67,74
30/06/2009   $78,30
30/09/2009   $99,16
31/12/2009   $106,21
31/03/2010   $108,88
30/06/2010   $113,04
30/09/2010   $123,56
31/12/2010   $126,08
31/03/2011   $139,94
30/06/2011   $146,88
30/09/2011   $134,79
31/12/2011   $145,10
31/03/2012   $153,43
30/06/2012   $144,09
30/09/2012   $149,50
31/12/2012   $166,68
31/03/2013   $178,26
30/06/2013   $185,39
30/09/2013   $187,05
31/12/2013   $173,93
31/03/2014   $197,76
30/06/2014   $199,62
30/09/2014   $193,56
31/12/2014   $181,98
31/03/2015   $164,65
30/06/2015   $176,80
30/09/2015   $161,62
31/12/2015   $165,28
31/03/2016   $167,60

sexta-feira, 22 de julho de 2016

DONALD TRUMP


UMA AMEAÇA À DEMOCRACIA
Por Aluizio Gomes

“Ninguém conhece o sistema melhor do que eu, por isso sou a pessoa mais qualificada para consertá-lo".
(Donald Trump).
Aff, é muita presunção!

Qual a diferença entre a ascensão de Hitler e a de Donald Trump? Naquela época a Alemanha tinha sido derrotada na guerra, foi humilhada pelo tratado de Versailles, estava sob real ameaça comunista, além de uma inflação nunca vista. Hitler capitalizou tudo isto e foi eleito pelo partido nazista. Já nos Estados Unidos, não. A inflação está baixa, os juros, também, o desemprego está baixo também, o PIB crescendo. Não há motivo para tanta demagogia. O único motivo é o indisfarçável despeito dos brancos por um mulato estar na Casa Branca, por dois mandatos .
Já estive em Nova Iorque e presenciei o racismo. Isto numa cidade cosmopolita, imagine no Alabama, Mississipi.

Agora, vamos aos acordos comerciais. Trump alega que provocam desemprego nos Estados Unidos. É uma mistura de hipocrisia, mentira, demagogia, e desinformação. A economia americana passa de ser industrial para ser de serviços, se cai de um lado, sobe de outro. Se um produto é feito na China a baixo custo, não pode ser feito nos EUA a um custo muito maior. Se Trump, como quer, fabricar coisas nos Estados Unidos, deixando de importar, a inflação vai aumentar, o produto vai ficar caro, sem condição de concorrer com o importado. A inflação nos Estados Unidos está em quase ZERO, o PIB aumentando, o desemprego baixo, e até a produção industrial aumentando. Tudo o que Trump faz é simplesmente terrorismo, aproveitando a ignorância generalizada das pessoas.

Outra mentira: que os negros estão matando policiais. Não foi assim, os policiais brancos começaram a matar negros indefesos, e só depois de a justiça nada fazer, é que houve reação dos negros. VIOLÊNCIA E INJUSTIÇA GERAM VIOLÊNCIA.


Quem assistiu ao filme "Mississipi Burning" (Mississipi em Chamas), com Gene Hackman e Willem Dafoe, pôde ver o arraigado racismo lá.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O SONHO

O GRANDE SONHO ATÁVICO EUROPEU

Por Aluizio Gomes
Geólogo

A Europa começou a ser ocupada pelo homem com o fim da última glaciação. O homem originou-se na África, migrou para a Ásia e , com o recuo das geleiras, chegou à Europa. Os fósseis, restos de esqueletos, artefatos de metal e cerâmica, pinturas rupestres, etc., foram e são encontrados por todo o continente europeu. Os fósseis humanos foram classificados em dois grupos principais, o homem de Neandertal, e o homem de Cro-Magnon, registros do Paleolítico e Neolítico.

Os séculos foram passando, mas o europeu continuava brutal, troglodita. O asiático, ao contrário, começou a evoluir, desenvolveu a escrita, domesticou animais e plantas, bem como o comércio e a navegação. Daí a formar os primeiros impérios foi um passo: Assírios, persas, egípcios, babilônios, hititas, etc.
Já na Palestina, a evolução foi espiritual e não material. Até hoje o Antigo Testamento nos guia neste sentido. E a Europa? Ainda no atraso. Anos se passaram até que os gregos começaram a sair da letargia, e formaram uma admirável civilização, e depois um império oriental, sob o comando de um macedônio.

Só depois apareceu o império romano, forte, organizado, que engoliu todo mundo, na Ásia e na Europa. Até hoje, o Direito Romano guia o conhecimento jurídico. Com a construção de estradas, ligando todo o império, rotas de navegação, e administração organizada, podemos afirmar que foi a primeira globalização da História.

Um dos motivos da queda do império romano foi a demografia, nas áreas externas cresceram muito as populações bárbaras. Afinal, foram séculos de crescimento populacional.Ao lado disto, os próprios bárbaros foram evoluindo economicamente e culturalmente. Foi como uma bomba de efeito retardado. Implodiu com as invasões bárbaras, enquanto internamente, os romanos se dividiam em querelas civis e militares. Caiu o império, acabou a globalização, a cultura, e começou a Idade das Trevas (Idade Média). A Europa foi fatiada entre os bárbaros, que adotaram a religião cristã e o próprio latim, que podia ser escrito. As fatias germinaram em nacionalidades independentes, franceses, ingleses, suecos, espanhóis, etc., que começaram mais de mil anos guerreando entre si, procurando cada um a hegemonia, nunca jamais alcançada.
Havia um sonho, um sonho de restaurar o brilho de um império, o império romano. Mas forças antagônicas, um nacionalismo exacerbado sempre obstaculizou a realização deste sonho. Impérios menores, como o germânico e o russo, por exemplo, conferiram títulos de César a seus imperadores: Kaiser e Tzar, significando César.

Antes, ainda no ano 800, o Papa já havia coroado Carlos Magno como imperador, originando o Sacro Império Romano-Germânico, mas como uma vez disse Voltaire, nunca foi Sacro nem Império e nem Romano.

Passaram-se os séculos, mas o sonho não morre. Mussolini sonhou em restaurar o império, Hitler sonhou no Reich de Mil Anos, tudo em vão.

Mais modernamente, surgiu a ideia de uma União Europeia, sempre ao lado de um nacionalismo separatista. A Iugoslávia e a Tchecoslováquia se fragmentaram, os ingleses sempre foram arredios a uma união. Até hoje dirigem seus carros na contramão e nunca adotaram o sistema métrico decimal, por pura implicância com os franceses, que criaram estas reformas.

Certa ocasião, afirmou Henry Kissinger: ”Quando quero falar com o Japão, sei a quem me dirigir. Quando quero falar com os chineses também. Mas, quando quero falar coma Europa, procuro quem?”

Finalmente, para competir com japoneses e americanos, fundou-se a União Europeia. Diferenças culturais e econômicas sempre foram pedras no sapato. O Reino Unido entrou, mas com um pé fora, não adotou a moeda única, e agora, finalmente sai da união, esfacelando mais uma vez o sonho atávico europeu.

Recife, em 24 de Junho de 2016.

Publicado no Jornal do Commercio no dia 02/07/2016, não na íntegra, por falta de espaço.


segunda-feira, 30 de maio de 2016

HISTÓRIA DE FAMÍLIA

HISTÓRIA DA FAMILIA MEIRA LINS.

POR JOSÉ OTÁVIO MEIRA LINS.

OBS: SALVAMOS DO FACEBOOK APENAS OS CAPÍTULOS A SEGUIR (ALUIZIO GOMES)

5º Capítulo
ACHEI QUE TE AMAVA

Isso é um problema de família. E dos dois lados. O avô por parte de mamãe tinha um listão de setenta e duas namoradas. Papai, com cinco anos, já tinha se apaixonado perdidamente pela professora de piano; passou uma semana sem comer quando cancelaram as aulas. Comigo não podia ser diferente, foram muitas paixões. Não confundam com amor ou safadeza, isso é outra coisa. Falo daquelas paixonites platônicas, anônimas, que se apoderam de sua cabeça – pensa, pensa, pensa... Paixão é coisa que perturba o juízo e não passa nem perto do coração. Começou aos quatro anos, com a professorinha do jardim.
Na época era jardim mesmo, pois a aula era embaixo de um caramanchão florido na casa da bela. A vizinha paulistinha vinda do interior, puxando pelos erres, era um misto de Dóris Day em “A espiã das calcinhas de renda” com figuras românticas de algumas porcarias que li em M.Delly – avisei que não tive filtro na leitura. A filhota do meio de um amigo de papai, com quem fizemos uma viagem de Kombi para o Rio – linda, linda, linda... Uma alemãzinha que foi jogada lá em casa enquanto os pais passavam uma temporada na Alemanha – branquinha, lourinha, com uma butuca de olhos azuis. Passei da infância e, mesmo assim, ainda continuei com as paixonites agudas. A bela do muro – passava a tarde em cima do muro em frente ao prédio onde morava, uma decepção quando finalmente me aproximei, pois só comia batata frita e execrava qualquer outra variação gastronômica, o que era um sacrilégio para quem vem de uma família em que a comida é cláusula pétrea da boa vida. A outra, que fingia ser ela e me deixava louco, ligava para mim assim que passava em frente ao prédio da bela; quando descobri, tive a maior oscilação na autoestima que um cara pode ter.
A priminha que correspondia, mas que a norma de família – primo não namora com prima –afastou. Uma irmã mais velha de uma tia torta, belíssima, mas muito barro pro meu caminhãozinho. Muito barro mesmo, pois hoje pesa quase uma tonelada, de gorda que é. As gêmeas cariocas que todo ano passavam o Carnaval na cidade, mas que só tinham olhos para dois marmanjos com quem se casaram e se deram mal. A coleguinha de faculdade que, na casa de campo – de medo – exigia dormir no meu quarto, cuja barra não enfrentei, pois, por trás do rosto angelical, existia uma fera que eu não sabia se podia controlar,sem falar nos peitões que não faziam meu gosto na época. A paulista quatrocentona que só pensava em arrumar um descendente de bandeirantes e execrava qualquer outra descendência, mesmo que estivesse no solo pátrio desde mil quinhentos e trinta e dois. A coroa goiana, mulherona, que dava, dava e dava corda, mas não ia além disso, pois era casada com um cara pra lá de brabo. Precisou passar muitos anos e a viuvez para que... aí já não foi paixão, foi safadeza mesmo.
 Não consegui bater vovô no ranking das namoradas, foram apenas quarenta e três, olha que comecei tarde. A primeira pegada de mão aos dezesseis. Dois namoros sérios, um deles com alguns jogos de guerra, pois, na época, não se podia fazer muita coisa. Avançou, casou. Com a instituição da vela, a irmãzinha, que tava o tempo todo colada no casal... era quase impossível até passar por perto dos peitinhos, maior sonho de consumo da época. Com essa convivência toda, não foi nem uma, nem duas vezes, que me apaixonei por uma linda irmã-vela. Confesso que tive algumas – muito poucas – chances de penetrar o flanco inimigo, a galega sem os dedos dos pés foi uma delas, mas o medo de acertar o pito da menina e ter que casar fazia qualquer um não passar das coxinhas das garotas. Pra quem ficou curioso com a lourinha sem dedinhos, a história é a seguinte: ela era linda, ela era inteligente, ela tinha um corpão, no teste de praia era nota dez; o negócio é que, quando se chegava perto e se olhava bem direitinho, faltavam os dedos do pé. As riquinhas, de boa família, pareciam já ter nascido comprometidas; namoravam apenas com as parelhas dos riquinhos de boa família. Outra baboseira era se apaixonar pelas mais velhas. Pura roubada, pois elas pareciam que nem te enxergavam. Nesse caso, foram muitas: a riquinha que de tão bonita levou um pretendente ao suicídio; a húngara de olhos verdes; a modernosa que já fazia de tudo. Paixão, paixão, sempre achava que amava. Passou a juventude, tudo na mesma. Entrei na fase adulta, tudo na mesma. Já casado, tudo na mesma. Foi um carma que sempre me acompanhou – se apaixonar.

7º Capítulo
MODISTA
Pai rico, filho nobre e neto pobre. Esse era um dos ditados mais usados por vovó. Não era o seu predileto, muito pelo contrário, mas o mais repetido. Foi na pele que ela sentiu o dito popular. Vovô era filho do maior exportador de açúcar do país. Ele e os irmãos tiveram o azar de perder a mãe bem cedo.
O pai, que entendia tudo de exportação de commodities, e nada de educação, teve a imbecil-ideia-genial-comercial de separar os filhos, alguns ainda usando fraldas, e mandá-los para as melhores escolas em cada um dos países com o qual negociava o danado do ouro branco. Vovô – para sorte ou azar – caiu na terra da rainha.
No Eaton College, convivendo com a fina flor da Bretanha, só podia ter aprendido mesmo duas opções de vida, caçar, ler, caçar, tomar champanhe, caçar, cavalo puro-sangue inglês de corrida, caçar, atravessar o Canal da Mancha para Paris, caçar e comer bem, que ninguém é de ferro. Na volta da turma, só podia dar a merda que deu. Em um ano de administração, detonaram uma cacetada tão grande de contos de réis que o velho tomou de volta o rumo dos negócios, e aí ficou até morrer. Vovô passou assim a fazer o que mais sabia: caçar, com suas espingardas feitas sob medida no armeiro londrino, comer, ler em inglês, que era sua língua-mãe, fazer neném em vovó. Depois que o bisavô milionário morreu, foram mais de vinte anos vivendo nababescamente com o que tinha ficado de herança; olha que eram dezesseis filhos e um monte de agregados. Meu avô comeu ruas e ruas de casas, passou nos cobres engenhos e mais engenhos de açúcar.
 O conceito era fazer o que o dinheiro desse. Prova disso é que nunca colocou mais que alguns réis de gasolina no carro, chegou o dia em que o Buikão de rodas de madeira ficou na garagem de casa, nunca mais andou, porque a verba destinada não comprava nem um litro de combustível. Ele, o nobre; papai, o mais velho dos dezesseis, o pobre. Nos dezessete anos de papai, a grana havia acabado. Vovó, que era superprendada, virou modista. Passou a costurar para a turma da sociedade. Quando o dinheiro sai pela janela, o desamor entra pela porta. Vovó e vovô nunca mais se bicaram. Meu velho teve que ir à luta. De porteiro a empresário, foram mais de vinte anos. Nunca deixando para trás os irmãos. Foram anos roendo osso. Vovó chorava toda vez que, na mesa, um dos meus tios dizia: acabei ou acabou-se. Papai passou toda a vida comendo asa de galinha e o sobre. Mesmo podendo, nunca mais se habituou a uma sobre coxa ou a uma titela. Mamãe, que tinha casado e ido morar na mesma casa, criou parte da meninada. Não tinha comida que desse. Várias vezes, quando as coisas melhoravam, se saciava os esfomeadinhos com vinte quilos de batata frita, feitas em caldeirões no fogão externo, a lenha. A solução foi passar a criar porco, galinha e peru.
O perigo era uma vizinha de mão-leve. Os bichos só pararam de sumir quando vovó, após uma contagem conjunta-criteriosa, contratou-a para tomar conta do rebanho. A família sempre teve fixação por peru. Era a única ave que aguentava o tranco da fome da meninada e de vovô. Começaram abrindo uma pequena oficina no oitão da casa. Todos trabalhavam. O negócio foi crescendo. As estradas ruins quebravam muitas molas, abriram uma fábrica. Compraram uma frota inteira de caminhões, surgiu a transportadora. Daí para se conseguir revendas autorizadas, fazendas de gado, siderúrgica de ferro gusa, hotéis não foi um pulo, não, foram mesmo muitos anos de pedreira. O velho se recuperou de tudo, só não recuperou o gosto de gastar dinheiro. Tinha uma verdadeira obsessão por segurança. Achava que o dinheiro era pra se guardar. Via assombração em tudo. Não abria mão de fazer o imposto de renda de toda a família, o que transformava essa época num imenso terror familiar. Um dos poucos luxos que se dava era, de vez em quando, fazer uma comprinha por reembolso postal. Em computador nunca tocou, mas foi um dos primeiros empresários a colocar um nas empresas.

8º Capítulo
FRITADA E PASTELÃO
Essa minha família acha que a tal da comida é milagrosa, a começar pela lenda de que meu bisavô foi salvo da gripe espanhola por um dos tradicionais e pesadíssimos pratos típicos da família. O cara tava ferrado, de cama, suando mais que bode embarcado, sentiu o cheiro da mão de vaca feita pela preta velha na cozinha, colocou o robe de chambre, desceu a escadaria, comeu dois pratões da famigerada com pirão, teve uma suadeira dos diabos, subiu as escadas, tomou banho, colocou o fraque com colete, pegou o carro de aluguel, foi para os seus armazéns no cais do porto. Mandou a espanhola para além-mar, pra não dizer coisa feia. Temos uma puta fixação em comida. Isso ocorre há mais de quatro gerações. A maior parte da família já nasce cozinhando, seja homem, seja mulher. Dessa obsessão não escapa ninguém. Em época de fartura, em época de penúria, a comida é ponto central na cabeça da parentada. O interessante é que não tem gordo na família. O que os caras querem mesmo é se deliciar. O que importa é a qualidade, não quantidade.
Mesmo na pior das situações, a turma nunca deixou de falar do tal do arenque, do hadoque, do caviar, do salmão defumado, mesmo que fosse só pra ficar com água na boca. Sem falar que se usa comida até pra gozar os outros. A fritada de miolos de boi de vovó foi muitas vezes servida sem se dizer à vítima do que se tratava. De tão gostosa, quem não sabia o que era, enfiava o pé na jaca. Tinha gente que, depois de se refestelar, quando ficava sabendo o que tinha comido, corria sem a menor discrição para o banheiro e enfiava o dedão na goela. Toda história gira sempre em torno da comida: o amigo caçador que meu avô considerava já morto, sumido há mais de quinze anos, que ressuscitou batendo no portão exatamente no dia de uma panelada de mão de vaca, sua comida predileta. Cada um tinha, para os que já morreram, ou têm, para os que estão vivos e bulindo, um prato de sabor imbatível inesquecível. As tias: bolo de limão, bolo de banana, bolo de rolo, bolo de laranja, frango de forno, cozido, cassoulet, as inesquecíveis panquecas etc. As avós: feijão-mulatinho feito no caldeirão de barro no fogo de carvão, sopa de feijão, sopa de milho, peruada etc. Mamãe: sarapatel, vatapá, pirão de nenê, coq au vin, bacalhau de coco etc. Papai: o bouillabaisse, o hadoque pochê, peixada com peixe fresco bulindo, caviar com ovos cozidos, cebolas bem picadinhos, alcaparras etc.
Meu DNA não podia falhar. Com dez anos, pedi a minha avó que fizesse as famosas tapiocas de manteiga até eu pedir, por favor, pra parar. Aos onze, já sabia o dia do kassler com chucrute na casa da tia casada com o suíço. Nunca sem avisar da ida com antecedência, pois lá a ração era na conta certa, não comunicou que ia, ficava sem comer. Na casa da tia das panquecas, quando eu aparecia de surpresa, ouvia sempre o código FC. Descobri muito tempo depois que o “Família Contenha-se” era dirigido à voracidade dos sete filhos na mesa e uma consideração à visita. Tinha gente que até escondia comida: ganhava um prêmio quem descobrisse onde vovô escondia o presunto cru, as misteriosas latas de arenque e os potes de caviar de papai, que só apareciam na hora da mesa, os chocolates suíços do tio suíço, que duravam todo tempo entre uma viagem e outra para a Suíça. Quem é louco por comida passa também por poucas e boas. Uma vez, no interior, tive que comer um tatu que seria maravilhoso se a cozinheira não o tivesse servido com as próprias mãos, com o esmalte das unhas descascado. Ou o tal de picoroco no Chile, que mais parecia um caramujo apodrecido. Ouriço?, estou fora; rabo de tanajura?, também. Buchada de bode, tem que dizer que não gosta; depois, sentir o cheiro e aí aceitar, se não cheirar à merda de bode. Cozinho quase tudo e com facilidade. Ficou com água na boca? Gosta de cozinhar? No final dou umas receitinhas de família para você arriscar.


sábado, 7 de maio de 2016

UM TERREMOTO POLÍTICO

O TERREMOTO POLÍTICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Por Charles Krauthammer
Publicado no Washingtonpost em 05/5/2016

O que há por trás da vitória de Donald Trump? Na opinião dos conservadores, é que  ele, o forasteiro, sentiu, avaliou e surgiu como representante de uma maciça revolta da base republicana contra o “establishment”.

Foi assim: Os líderes do partido Republicano fizeram todo tipo de promessas e ganharam, como prêmio, a Câmara, o Senado, 12 governos estaduais e 30 câmaras estaduais. Mesmo assim, eles não cumpriram o prometido.

Pesquisas de opinião consistentemente mostraram que uma maioria de eleitores  republicanos mostraram-se traídos por seus líderes.

Não apenas desapontados. Traídos. Por aqueles que, corrompidos por doações e lobistas, venderam-se.

Eles tiraram os fundos do programa de controle da natalidade (Planned Parenthood)?Não. Eles bloquearam a gastança governamental, hiper-liberalista? Não. Seja por incompetência ou venalidade, eles deixaram Obama passar por cima deles.

Agora vem o paradoxo. Se a insuficiente resistência ao liberalismo de Obama criou este senso de traição, por que, num universo de 17 candidatos, os eleitores escolhem o menos conservador?

Um homem que até ontem era ele próprio um liberal? O homem que doou dinheiro para os mesmos democratas de oposição ao partido republicano?

Acontece que Trump vem demonstrando simpatia pela saúde pública socializada, bem mais à esquerda do que o próprio Obama. E vai mais além: considera a saúde pública uma prioridade nacional, junto com a segurança. Ora, os republicanos sempre se opuseram à saúde pública estatal, e ele, Trump ainda apoia a educação pública federal, quando os republicanos acham que ela deveria ser estadual.

Quanto à Planned Parenthood, os mesmos conservadores que se posicionaram contra o “establishment” republicano por não cortarem as verbas do projeto, agora apoiam um candidato que elogia o plano, exceto para aborto.

Mais importante ainda, Trump  não tem nenhuma afinidade com a posição basilar do moderno conservadorismo: a volta para um governo menor e menos intervencionista. Ora, se o “establishment” ofereceu pouca resistência ao “Big Government” de Obama, o beneficiário logicamente deveria ser o mais radical de todos os oponentes ao Big Government , Ted Cruz.

Toda a carreira de Ted Cruz foi dedicada a promover o Tea Party, opondo-se ao líderes republicanos, o “cartel de Washington”. Mas, quando Cruz entrou no mano a mano com Trump no Indiana “OK Curral”, os republicanos se alinharam com Trump, e seu populismo.

Isto torna Indiana um ponto de inflexão histórico. Marca a mais radical transformação de um partido político no nosso tempo atual. Os democratas continuam na sua trajetória de um governo sempre em expansão, desde o New Deal, passando pela Great Society, por Obama e por Clinton. Enquanto isso, o GOP, o partido conservador, refinado e cristalizado por Ronald Reagan, torna-se populista.

Trata-se de um terremoto ideológico. Trump afirmou: ”Pessoal, eu sou um conservador, mas agora, quem está ligando para isso (“who cares”)?