sábado, 7 de maio de 2016

UM TERREMOTO POLÍTICO

O TERREMOTO POLÍTICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Por Charles Krauthammer
Publicado no Washingtonpost em 05/5/2016

O que há por trás da vitória de Donald Trump? Na opinião dos conservadores, é que  ele, o forasteiro, sentiu, avaliou e surgiu como representante de uma maciça revolta da base republicana contra o “establishment”.

Foi assim: Os líderes do partido Republicano fizeram todo tipo de promessas e ganharam, como prêmio, a Câmara, o Senado, 12 governos estaduais e 30 câmaras estaduais. Mesmo assim, eles não cumpriram o prometido.

Pesquisas de opinião consistentemente mostraram que uma maioria de eleitores  republicanos mostraram-se traídos por seus líderes.

Não apenas desapontados. Traídos. Por aqueles que, corrompidos por doações e lobistas, venderam-se.

Eles tiraram os fundos do programa de controle da natalidade (Planned Parenthood)?Não. Eles bloquearam a gastança governamental, hiper-liberalista? Não. Seja por incompetência ou venalidade, eles deixaram Obama passar por cima deles.

Agora vem o paradoxo. Se a insuficiente resistência ao liberalismo de Obama criou este senso de traição, por que, num universo de 17 candidatos, os eleitores escolhem o menos conservador?

Um homem que até ontem era ele próprio um liberal? O homem que doou dinheiro para os mesmos democratas de oposição ao partido republicano?

Acontece que Trump vem demonstrando simpatia pela saúde pública socializada, bem mais à esquerda do que o próprio Obama. E vai mais além: considera a saúde pública uma prioridade nacional, junto com a segurança. Ora, os republicanos sempre se opuseram à saúde pública estatal, e ele, Trump ainda apoia a educação pública federal, quando os republicanos acham que ela deveria ser estadual.

Quanto à Planned Parenthood, os mesmos conservadores que se posicionaram contra o “establishment” republicano por não cortarem as verbas do projeto, agora apoiam um candidato que elogia o plano, exceto para aborto.

Mais importante ainda, Trump  não tem nenhuma afinidade com a posição basilar do moderno conservadorismo: a volta para um governo menor e menos intervencionista. Ora, se o “establishment” ofereceu pouca resistência ao “Big Government” de Obama, o beneficiário logicamente deveria ser o mais radical de todos os oponentes ao Big Government , Ted Cruz.

Toda a carreira de Ted Cruz foi dedicada a promover o Tea Party, opondo-se ao líderes republicanos, o “cartel de Washington”. Mas, quando Cruz entrou no mano a mano com Trump no Indiana “OK Curral”, os republicanos se alinharam com Trump, e seu populismo.

Isto torna Indiana um ponto de inflexão histórico. Marca a mais radical transformação de um partido político no nosso tempo atual. Os democratas continuam na sua trajetória de um governo sempre em expansão, desde o New Deal, passando pela Great Society, por Obama e por Clinton. Enquanto isso, o GOP, o partido conservador, refinado e cristalizado por Ronald Reagan, torna-se populista.

Trata-se de um terremoto ideológico. Trump afirmou: ”Pessoal, eu sou um conservador, mas agora, quem está ligando para isso (“who cares”)?



Nenhum comentário:

Postar um comentário