segunda-feira, 2 de abril de 2012

HISTÓRIA DO PARQUE DONA LINDU


HISTÓRIA DO PARQUE DONA LINDU
Por Aluizio Gomes

No princípio, era o Recife.Cidade dos rios e das pontes, cantada em prosa e verso, bucólica, conservadora, provinciana, moradia dos senhores de engenho, intelectuais, escritores, poetas, e alguns heróis também.
Veio a 1ª Grande Cheia, 1965.
Veio a 2ª Grande Cheia, 1975.
Foi demais. A classe média abandonou seus queridos bairros ribeirinhos: Graças, Casa Forte, Dois Irmãos, Parnamirim, etc, e se mandou para Boa Viagem, se empilhando em moradias verticais, coisa inexistente antes de 1965.Como a classe média só gosta de filé, a carne de pescoço ficou para a patuléia.Talvez, talvez não, certamente a Av. Boa Viagem, que tem 6,5km de extensão, tenha a maior quantidade de área construída, em m2.Considerando o luxo das obras, é a maior arrecadadora de IPTU residencial.Como terra não estica como um elástico, veio a natural saturação, o preço do m2 disparou, mas a classe média não liga muito para isso não.”Deus me livre morar na Imbiribeira, Jiquiá”, diria uma dondoca.
Com o tempo, a classe média começou a sentir falta de ar.Como passear seus schnauzers, malteses? Onde levar seus rebentos para brincar? Logo percebeu-se um enorme terreno livre, bem na avenida, ótimo para isso, e a classe média foi tomada de repente, não mais do que de repente, de uma heróica consciência ecológica.”Precisamos de árvores, um parque para passear, chega de tanto concreto!” Foi o grito de guerra.O terreno era da Aeronáutica, remanescente da 2ª Guerra Mundial, onde poder-se-ia colocar artilharia, para bombardear possíveis navios alemães. Acabou a guerra, mas o terreno ficou como patrimônio da Aeronáutica, reserva para futuras residências dos militares, ressaltando que na avenida já existem muitos terrenos dela, onde foram construídas residências, para todas as patentes. O Clube da Aeronáutica fica na avenida.
Num golpe de sorte, a Aeronáutica doou o terreno ao governo, para construção do tão almejado parque. Mas, no meio, tinha o PT! Essa não! Um partido contrário à classe média, defensor dos pobres e excluídos! O PT quis também trazer o proletariado para a avenida, e ao mesmo tempo construir um monumento ao príncipe. Tudo caiu como uma luva, a classe média chiou, chiou, mas não teve jeito. O príncipe venceu, e ainda xingou a classe média, chamando-a de “elite intransigente”.Colocaram lá uma obra de Oscar Niemeyer (em concreto, que heresia!), e num arroubo de puxa-saquismo sem paralelo, ainda batizou o lugar com o nome da genitora de Lula: dona Lindu.A princípio esse nome soou muito mal, cafonérrimo, somos acostumados a batizar nossos prédios com nomes aristocratas, mas isso já passou.
Sem dúvida, a obra é irreversível, já incorporada ao dia a dia da cidade. A classe média teve um lugar ao sol, mas tendo que dividir o parque com as classes menos favorecidas, que vêm para cá curtir shows de graça. Hoje mesmo tem Maria Rita, às 18h.
Primeiro de Abril de 2012

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