segunda-feira, 26 de março de 2012

HISTÓRIA DE UM FRACASSO


HISTÓRIA DE UM FRACASSO

Por Aluizio Gomes

1.INTRODUÇÃO
Em algum desvão da História  pode-se encontrar uma lição preciosa, a qual servirá intensamente para momentos atuais.Agora e aqui na América Latina, despontam líderes esquerdistas, ávidos em estatizar ativos privados, dentro da obsoleta ótica socialista.Pois bem, uma lição esquecida e que vamos abaixo rememorar, pode nos alertar sobre os perigos do socialismo.
A década de 30, século passado, foi na Europa uma fase dificílima, fruto de revoluções que abalaram o próprio núcleo do mundo ocidental.A Revolução Comunista de 1917 acabou com a aristocracia russa, e imediatamente ameaçou se propagar para outros países, através do Comintern. No rescaldo da I Guerra Mundial, veio o Tratado de Versalhes, que puniu duramente a Alemanha, levando-a a um nível de inflação jamais visto.No seu auge, era preciso um carrinho de mão cheio de marcos, para comprar um simples pão.A República de Weimar fracassou, devido ao ambiente caótico, abrindo caminho para a ascensão de Hitler.E mais, o crack da Bolsa em 1929, e a Guerra Civil Espanhola, em 1936, além, claro, do fascismo na Itália, levavam a indicadores apocalípticos para o sistema democrático.Em retrospectiva, custa a crer que o mundo tenha sobrevivido a tais situações.
2.A FRANÇA EM 1940
O fracasso dos franceses em conter a onda nazista, a blitzkrieg, em 1940, até hoje impressiona os historiadores.Apesar de, no ano anterior, a potência da máquina de guerra alemã ter sido demonstrada na Polônia, a França pouco fez para se adaptar a uma guerra moderna.No caso da aviação, os caças teriam de que ter motores no mínimo com potência de 1.000hp, sob pena de se tornarem alvos para aviões de caça mais rápidos.Os motores dos caças franceses tinham 860hp, não sendo páreo para a Luftwaffe, com seus Messerschmitts, Junkers, e outros, bem mais velozes, com motores fantásticos, de 1.700 e até 1.900hp! Entre Setembro de 1939 e Maio de 1940, correspondendo mais ou menos ao inverno europeu, houve o que se chamou de guerra falsa, os paises estavam em guerra apenas no papel, não havendo combates, portanto houve tempo suficiente para adaptação, e nada foi feito.
Vejamos o que nos diz Bill Gunston, na introdução de seu livro "Caças dos Aliados da II Guerra Mundial":
"Durante os anos 30, as empresas construtoras de aviões da França colocaram nos céus cerca de 150 tipos diferentes de aviões militares.Muitos se destacaram pela sua feiúra, porém, a partir de 1935, os projetistas gauleses, criaram aparelhos cada vez mais competitivos, que poderiam ser o alicerce de um poderio aéreo, e que nem mesmo Hitler conseguiria desdenhar.
Infelizmente, o moral da França era baixo.Em 1936, um governo de ala-esquerda, recém-eleito, nacionalizou todas as indústrias de defesa, cortando ao meio todas as velhas companhias, e formou gigantescos grupos, numa base puramente geográfica.Longe de aumentar a produção, esta atitude provocou um caos, e excelentes projetos que sobraram nas esfarrapadas firmas remanescentes tiveram as peças essenciais negadas e sofreram atrasos de um ano ou mais.Até mesmo os projetos nacionalizados foram prejudicados por descontentes e sabotadores que aleijaram a produção, a despeito dos esforços desesperados de uma minoria dedicada.
Outro importante fator foi que os motores disponíveis eram quase impotentes para tornar os caças franceses capacitados quando o duro teste da guerra começou.A Lorraine e a Farman realmente desistiram.A Hispano-Suiza tinha um V-12, basicamente bom, o qual, em 1935, foi testado com 860hp e, na II Guerra Mundial, ele seria a base para mais de 100.000 motores fabricados na União Soviética, alcançando até 1.650hp.Porém o único caça disponível em grande quantidade na Armée de l'Air, em 1939, o M.S. 406, foi impotente com os 860hp, de modo que, quando enfrentou o Bf 109E, foi abatido aos montes.
A Gnome-Rhône, a partir de 1921, licenciada da Bristol,adquiriu uma licença da companhia britânica de um Hércules de válvulas de manga, radial, de 1.375hp, porém nunca o produziu para a guerra.Em vez disso tudo o que ela conseguiu produzir foi um radial  de alta compressão para 1.000hp, que foi colocado no Bloch 151, basicamente excelente. A potência foi simplesmente insuficiente, sendo uma das gratas recordações do Bloch a quantidade de aparelhos que conseguiu retornar aos pedaços, mas de cabeça erguida. A capacidade de um caça em absorver golpes é necessária, mas não é o caminho para a vitória.
Excluídos os excelentes protótipos dos engenheiros Vernisse e Galtier, do Arsenal de l'Aéronautique, que não chegaram às esquadrilhas, o Dewoitine 520 foi considerado o melhor caça francês da II Guerra Mundial.Ele possuia motor Hispano V-12, de 910hp; era pequeno, leve e suficientemente ágil para ter bom desempenho.Se os operários tivessem se "colocado em seus lugares" um ano mais cedo, em 1938, os 109 da Luftwaffe não teriam obtido tanta facilidade nos céus da França.
Nessas circunstâncias, o desesperado governo francês,em 1938, voltou-se para o mercado externo em busca de caças e fez encomendas maciças nos EUA.O Curtiss Hawk 75 chegou às esquadrilhas em grande quantidade e quase conseguiu igualar-se ao 109, a despeito de seu fraco desempenho em vôo.No momento em que as outras marcas de caças estavam encaixotadas para embarque, a França já havia capitulado."
04/02/2007

Fonte: Gunston, Bill."Caças dos Aliados da II Guerra Mundial." Ed. Melhoramentos.Tradução da obra em inglês: AN ILLUSTRATED GUIDE TO ALLIED FIGHTERS OF WORLD WAR II;1981, Salamander Books Ltd.; Londres.


COMENTÁRIOS DOS INTERNAUTAS:
Aluizio,
Bom artigo o seu, embora eu me permito fazer duas observações.
A primeira de caráter pontual e tópico: 
A propósito desta frase: "...fazendo com que Albert Einstein migrasse para os EUA, onde lá, através do Projeto Manhattan, ele desenvolveu a bomba atômica."
Einstein nunca esteve associado ao Projeto Manhattan. Ele colaborou na parte teórica apenas, conversando com os físicos associados ao projeto, e escreveu para o presidente Roosevelt dizendo-lhe que deveria levar adiante um programa nesse sentido, mas ele nunca esteve "desenvolvendo" a bomba atôm,ica.

 
Quanto ao caso dos aviões, tudo isso é muito importante, mas não foi por falta de aviões que a França perdeu a guerra. O exército de terra também falhou miseravelmente para enfrentar a blitzkrieg nazista...
 
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Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com  www.pralmeida.org  
http://diplomatizzando.blogspot.com/

 

RÉPLICA:
Ilustre:
Agradeço sua valiosa contribuição, e retirei a menção a Einstein do texto.
Quanto à aviação francesa, segundo Sir Basil Liddell Hart, o maior conhecedor da História da II Guerra Mundial, o poderio aéreo alemão suplantava numericamente o francês na proporção 3 para 1.Qualitativamente, já se falou. E, taticamente, houve a inovação do bombardeiro de mergulho, o Stuka, para o apoio ao trabalho das Panzers.
Sem negar o uso obsoleto, taticamente falando, dos tanques franceses, a aviação desempenhou papel importante no desequilíbrio das forças.
O que nos impressiona não é a derrota em si, porém a rapidez da derrota.
Para uma vitória rápida (vide as guerras de Israel contra os árabes), a primeira coisa a fazer é destruir a aviação inimiga ainda no solo, não dando chance ao contra-ataque, o outro lado vai ter que ficar na defensiva.Na batalha de Midway, os navios nem tiveram contato visual, ou seja, nenhum tiro de canhão foi disparado, a coisa foi resolvida pelos aviões.
Aluizio

TRÉPLICA:
Você tem razão meu caro, o papel da aviação foi decisivo,inclusive para infundir o terror nas tropas de infantaria francesas.
Os generais estão sempre combatendo a última batalha.....nem todos.
Paulo Roberto de Almeida.


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