terça-feira, 27 de março de 2012

OS RISCOS DA REPOSIÇÃO HORMONAL


OS RISCOS DA REPOSIÇÃO HORMONAL
Por Maristela de Oliveira Simonin
Quando, em 2000, o Instituto Nacional de Câncer dos EUA publicou o estudo Schairer sobre a relação da TRH( Terapia de Reposição Hormonal) com o câncer de mama, surgiram na imprensa mundial com títulos igualmente sugestivos "TRH: talvez agora os médicos me escutem", do médico australiano John R. Lee, e "Câncer de mama e hormônios: se as mulheres soubessem!", do médico francês Henri Joieux. A ciência já sabia, desde 1940 (Shimikin), dos efeitos cancerígenos do estrógeno.E, desde 1976 (Stern), dos riscos cardiovasculares por este acarretado às usuárias da pílula, fortemente dosada, daquela época.Sabia também, desde 1995(FDA), não haver diferença clínica entre estrógenos farmacológicos sintéticos e aqueles ditos "naturais".Sabia ainda que a TRH pode promover o crescimento silencioso de cânceres ainda não detectáveis, adensar as mamas, e ao adensá-las , reduzir a eficiência da mamografia.Sabia enfim que a TRH não é o melhor meio de prevenir a osteoporose nem é-a não ser pelo efeito placebo criado pela publicidade- o "elixir da juventude".O que o estudo Schairer trouxe de novo foi a notícia de que a combinação estrógeno+progestina , destinada a reduzir os efeitos cancerígenos do estrógeno da TRH no revestimento do útero, aumenta o risco de câncer de mama.
Para o citado Instituto de Câncer  a melhor evidência dos riscos e benefícios do uso de hormônios de reposição na menopausa vem do Women's Health Institute (WHI), um extenso ensaio clínico randomizado incluindo mais de 16 mil mulheres saudáveis, patrocinado pelos Institutos Nacionais de Saúde, a pedido do Congresso americano, sob forte pressão de grupos de defesa dos direitos da mulher."Os resultados do ensaio publicado em 2002-informa-mostraram que os riscos globais do estrógeno mais progestina pesaram mais que os benefícios.Dentre os riscos observados após 5,6 anos de acompanhamento, havia riscos aumentados de câncer de mama, doenças cardíacas, derrames e tromboses.Descobertas do WHI Memory Study (WHIMS), relatadas em Maio de 2003, mostraram que em mulheres mais velhas, com 65 anos ou mais, o uso de estrógeno mais progestina dobrou o risco de desenvolverem demência.Essas mesmas mulheres também tiveram um desempenho mais fraco nos testes de função cognitiva quando comparadas com aquelas que tomavam placebo.
No artigo "Reposição Hormonal: a imolação de mulheres na busca da eterna juventude", a médica Fátima Oliveira (UFMG) escreveu indignada:"Todos os riscos encontrados estavam explícitos em estudos anteriores.Que grande parte da categoria médica alardeie surpresa e ceticismo era esperado, o que indica que há gente precisando estudar mais".(Observatório da Imprensa, 24/07/02).De fato, em 1998, as mesmas péssimas notícias já eram dadas pelo estudo HERS (The Heart and Estrogen/progestin Replacement Study), também randomizado,sobre o qual escreveram os Drs. Moriguchi e Vieira: "Para surpresa geral, não somente não houve proteção cardíaca para as mulheres que usaram reposição hormonal, como houve maior incidência de infarto e morte no primeiro ano de uso, bem como uma incidência três vezes maior de tromboembolismo venoso e 40% maior de enfermidades da vesícula biliar ao longo dos quatro anos de estudo."(Rev. Medicina , de 03/99, do Conselho Federal de Medicina).
Mas, por que nós, mulheres, somos sempre as últimas a saber?...Em carta aberta ao Ministro da Saúde, publicada pelo Jornal do Commercio em 26/10/2000, o mastologista Jaime Queiroz lembra: "Não se pode ignorar o lobby realizado sobre a classe médica e a população feminina na propaganda dessas drogas, em que somente o lado positivo é ressaltado"."Pesquisa do Dr. Sylvio Berthoud, concluiu que 90% dos médicos só lêem o material que lhes é proposto pelas multis farmacêuticas, e apenas 10% lêem publicações independentes", diz a citada Dra. Fátima.
Quanto às multis farmacêuticas, elas sabem que têm mercado cativo, e que, portanto, basta neutralizar as más notícias-questionando-as, ou adaptando seu discurso publicitário às novas evidências científicas.O importante é não deixar ruir o sacrossanto dogma da TRH, e com ele, um dos maiores filões mundiais de lucro.No fundo elas só temem uma coisa: que os governos, sentindo pesar no bolso o alto custo das doenças que podem ser associadas ao uso da TRH na menopausa, acabem se virando contra elas.Como aconteceu com as multis fabricantes de cigarro.

A autora é procuradora aposentada do Ministério Público do Estado de Pernambuco.
Artigo publicado no Jornal do Commercio em 30/01/2005

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