segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

KEYNESIANISMO, OFERTA E DEMANDA


                                                 KEYNESIANISMO, OFERTA E DEMANDA

Pode existir uma parte sem sua contra-parte?Impossível.Para existir a matéria, necessita a existência de um substrato, a anti-matéria, assim como o dia antecede a noite, e a luz tem seu oposto na escuridão.Até mesmo para a existência do Bem, é fundamental a existência do Mal, para que as pessoas saibam distinguir as coisas, através dos contrastes.Esta dicotomia se observa na dialética, no maniqueísmo, e no próprio marxismo (luta de classes, contradições do capitalismo, etc). Em esoterismo, ensina-se a Lei da Dualidade, base de todas as teorias subseqüentes.No campo da física, existe sempre a dualidade, no positivo e no negativo, na sístole e na diástole, no fluxo e refluxo.

No campo da teoria econômica existem dialeticamente dois lados opostos: os keynesianistas e os neoclássicos, ou liberais.Os liberais predominaram no século XIX, e preconizavam que a economia responde positivamente a mercados livres de regulamentação e amarras, governa-se sozinho( laissez-faire).A poupança, neste ambiente, é bem-vinda, porque estimula novos investimentos.
Porém, tudo mudou com a Depressão dos anos 30.Então, o economista John Maynard Keynes, desenvolveu uma teoria oposta ao liberalismo, para reerguer o capitalismo, talvez mesmo influenciado pela Revolução Soviética, imune às doenças do capitalismo.Em suma, seria uma teoria marxista infiltrada no coração do capitalismo, escoimada, evidentemente dos seu elemento mais subversivo, ou seja, a expropriação de ativos privados.Seria uma intervenção do Estado na economia, baseada no planejamento dos investimentos, e ao mesmo tempo um estímulo ao capitalista para reinvestir, mediante diminuição da carga tributária, e aumento dos gastos públicos. Claro, isto aumenta em muito o déficit público e a inflação, porém resolve o problema crucial do desemprego.

Nos Estados Unidos, o presidente Franklin Delano Roosevelt abraçou o keynesianismo lançando o New Deal, para enfrentar os fortes efeitos recessivos do crack da Bolsa em 1929 (Depressão).Roosevelt passou 12 longos anos como presidente da república, durante quase toda a década de 30, e desaguando na Grande Guerra, falecendo no cargo em 1945, antes de Hiroshima; a bomba A foi lançada pelo vice, Harry Truman.O esforço de guerra foi tremendo, aumentando o déficit federal, porém extinguindo o desemprego, mesmo porque milhões de jovens foram para o serviço militar.

Terminada a guerra, um novo ambiente foi configurado.O parque industrial americano estava intacto, renovado, com incorporações tecnológicas modernas, resultado do intenso esforço de pesquisa da guerra, enquanto URSS, Europa e Japão, estavam arrasados. O Plano Marshall foi assim uma nova ação keynesiana, agora em escala global, cujos resultados só apareceram a partir da década de 60.Porém, ações mais atualizadas de intervenção estatal começaram a fracassar, mostrando apenas o lado negativo:déficit e inflação.Para explicar a causa deste novo resultado, os economistas retornaram ao pré-keynesianismo, ou seja, tornaram-se neoliberais.Observaram que o keynesianismo apresentava resultados imediatistas, de curto prazo, porém perdiam efeito no longo prazo.Ao longo prazo o importante seria a poupança e não o déficit, que tinha o efeito colateral inflacionário.

O crescimento econômico sustentado dependeria da educação(oferta de mão de obra qualificada), de incentivos fiscais e diminuição de regulamentações, permitindo ao empresário caminhar com suas próprias pernas.Esta teoria é também conhecida como supply side, ou seja, viés da oferta (oferta de mão-de-obra e oferta de capital), lado que interessa mais que o viés da demanda (demand side).Os seguidores do supply side acabaram por simplificar demais a teoria, tornando-a bastante superficial, até mesmo demagógica, e por isso mesmo palatável ao grande público.Perceberam?Assim, uma complexa teoria econômica vira um slogan popular, bastante útil a políticos e oportunistas de plantão.Para os simplistas, basta cortar impostos e desregulamentar a economia, para que o mercado funcione.


Seguiu-se um período confuso, de perplexidade, onde muitas pessoas tentaram compreender as novas forças regiam o mercado, já em meados da década de 70.Os estudos teóricos dos professores Robert Mundell, da Universidade de Colúmbia, prêmio Nobel em 1999, e Albert Laffer foram digeridos por outros estudiosos, e modelados para uma teoria política.


Quando Ronald Reagan foi eleito em 1980, houve a virada do keynesianismo de Jimmy Carter para o neoliberalismo.Em seu discurso de posse, Reagan foi bem explícito, ao declarar:"Vamos tirar a mão do Estado da economia".O supply side voltou ao poder, depois de 40 anos de intervenção do Estado.Antes disso, ainda em 1974, Laffer havia apresentado a Dick Cheney e Donald Rumsfeld, assessores do partido republicano, um gráfico demonstrando que, ao se cortar impostos, a arrecadação cai de início, porém mais adiante, com o crescimento econômico a coisa se inverte, e  a arrecadação cresce logo então, compensando a perda inicial.Este gráfico ficou conhecido como a "Curva de Laffer".

O simplismo da curva de Laffer teve enorme atrativo entre os neoliberais, virou um elixir, uma panacéia para crônicos problemas de crescimento econômico.Para os políticos, era uma idéia fantástica, cortar impostos sem precisar cortar despesas.Ronald Reagan costumava afirmar: "o déficit é grande o suficiente para cuidar de si".Dick Cheney ainda hoje acredita que déficits não importam, a curva de Laffer corrige a coisa sem preocupações maiores.
 

No entanto, o céu não é tão perto, ficou a dúvida: até que ponto pode-se cortar impostos? Ninguém jamais respondeu convincentemente esta questão.Os economistas, de um modo geral, não fazem muita fé nos efeitos positivos da curva de Laffer, isto ficou mais a cargo de ideólogos e políticos.Como, ao longo do prazo, tanto o keynesianismo como o supply side se esgotam, verifica-se a alternância no poder das forças políticas:uma nova vaga corrige os efeitos perversos da vaga anterior, se esgota ao longo dos anos, permitindo o retorno dos antigos teóricos.É pura dialética.
27/10/2006
Publicado Diário de Pernambuco, em 03/11/2006,não na íntegra, por questão de espaço.




  

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